ALLAN KARDEC

O CÉU E O INFERNO

EXAME COMPARADO DAS DOUTRINAS SOBRE A PASSAGEM DA VIDA CORPORAL À VIDA ESPIRITUAL, SOBRE AS PENALIDADES E RECOMPENSAS FUTURAS, SOBRE OS ANJOS E DEMÔNIOS, SOBRE AS PENAS, ETC., SEGUIDO DE NUMEROSOS EXEMPLOS ACERCA DA SITUAÇÃO REAL DA ALMA DURANTE E DEPOIS DA MORTE.

EDITORA FEB

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Allan Kardec

Le ciel et l'enfer ou La justice divine selon le spiritisme: contenant l'examen comparé des doctrines sur le passage de la vie corporelle et la vie spirituelle, les peines et les récompenses futures

DIDIER ET COMPAGNIE, LEDOYEN

01ª ÉDITION - PARIS (1865)

Sinopse da obra:

Esta é a quarta das cinco obras básicas que compõem a Codificação do Espiritismo. Seu principal escopo é explicar a justiça de Deus à luz da Doutrina Espírita. Objetiva demonstrar a imortalidade do Espírito e a condição que ele usufruirá no mundo espiritual, como conseqüência de seus próprios atos. Divide-se a obra em duas partes:

A primeira parte estabelece um exame comparado das doutrinas religiosas sobre a vida após a morte; mostra fatos como a morte de crianças, seres nascidos com deformações, acidentes coletivos e uma gama de problemas que só a imortalidade da alma e a reencarnação explicam satisfatoriamente. Kardec procura elucidar temas como: anjos, céu, demônios, inferno, penas eternas, purgatório, temor da morte, a proibição mosaica sobre a evocação dos mortos, etc. Apresenta também a explicação espírita contrária à doutrina das penas eternas.

A segunda parte, resultante de um trabalho prático, reúne exemplos acerca da situação da alma durante e após a desencarnação. São depoimentos de criminosos arrependidos, de espíritos endurecidos, de espíritos felizes, medianos, sofredores, suicidas e em expiação terrestre.

Apresentação de Allan Kardec:

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

O Céu e o inferno,
ou a justiça divina segundo o Espiritismo

Contendo: o exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as penas eternas, etc.; seguido de numerosos exemplos acerca da situação real da alma durante e depois da morte.

POR ALLAN KARDEC

Como não nos cabe fazer o elogio, nem a crítica desta obra, limitamo-nos a dar a conhecer o seu objetivo, pela reprodução de um extrato do prefácio.

“O título desta obra indica claramente o seu objetivo. Aí reunimos todos os elementos próprios para esclarecer o homem sobre o seu destino. Como nos nossos outros escritos sobre a Doutrina Espírita, aí nada introduzimos que seja produto de um sistema preconcebido, ou de uma concepção pessoal, que não teria nenhuma autoridade: tudo aí é deduzido da observação e da concordância dos fatos.

“O Livro dos Espíritos contém as bases fundamentais do Espiritismo; é a pedra angular do edifício; todos os princípios da doutrina aí estão expostos, até os que devem constituir o seu coroamento; mas era necessário lhe dar desenvolvimentos, deduzir-lhe todas as consequências e todas as aplicações, à medida que se desdobravam pelo ensino complementar dos Espíritos e por novas observações.

Foi o que fizemos em O Livro dos Médiuns e em O Evangelho segundo o Espiritismo, em pontos de vista especiais; é o que fazemos nesta obra sob um outro ponto de vista, e é o que faremos sucessivamente nas que nos restam publicar, e que virão a seu tempo.

“As ideias novas só frutificam quando a terra está preparada para as receber. Ora, por terra preparada não se deve entender algumas inteligências precoces, que só dariam frutos isolados, mas um certo conjunto na predisposição geral, a fim de que não só dê frutos mais abundantes, mas que a ideia, encontrando maior número de pontos de apoio, encontre menos oposição, e seja mais forte para resistir aos seus antagonistas.

O Evangelho segundo o Espiritismo já era um passo avante; O Céu e o Inferno é mais um passo cujo alcance será facilmente compreendido, porque toca ao vivo certas questões; mas não podia vir mais cedo.

“Se se considerar a época em que veio o Espiritismo, reconhecer-se-á sem custo que veio em tempo oportuno, nem muito cedo, nem muito tarde. Mais cedo, teria abortado, porque, não sendo numerosas as simpatias, teria sucumbido sob os golpes dos adversários; mais tarde, teria perdido a ocasião favorável de se produzir; as ideias poderiam ter tomado outro curso, do qual teria sido difícil desviá-las. Era preciso deixar às velhas ideias o tempo de se gastarem e provar a sua insuficiência, antes de apresentar outras novas.

“As ideias prematuras abortam porque não se está maduro para as compreender e porque ainda não se faz sentir uma mudança de posição. Hoje é evidente para todos que se manifesta um grande movimento na opinião; formidável reação se opera, no sentido progressivo, contra o espírito estacionário ou retrógrado da rotina; os satisfeitos da véspera são os impacientes do dia seguinte.

A Humanidade está no trabalho de parto; há qualquer coisa no ar, uma força irresistível que a impele para frente; ela está como um jovem saído da adolescência, que entrevê novos horizontes sem os definir, e se livra das fraldas da infância. Vê-se algo de melhor, alimentos mais sólidos para a razão; mas esse melhor ainda está no vago; buscam-no; todos trabalham nisto, do crente ao incrédulo, do operário ao cientista.

O Universo é um vasto canteiro; uns demolem, outros reconstroem; cada um talha uma pedra para o novo edifício, do qual só o grande arquiteto possui o plano definitivo, e cuja economia [organização] só será compreendida quando suas formas começarem a se desenhar acima da superfície do solo. Foi o momento que a soberana sabedoria escolheu para o advento do Espiritismo.

“Os Espíritos que presidem ao grande movimento regenerador agem, pois, com mais sabedoria e previdência do que o fariam os homens, porque abarcam a marcha geral dos acontecimentos, ao passo que nós só vemos o círculo limitado do nosso horizonte. Estando chegados os tempos da renovação, conforme os desígnios divinos, era preciso que, em meio às ruínas do velho edifício e para não perder a coragem, o homem entrevisse as bases da nova ordem de coisas; era preciso que o marinheiro percebesse a estrela polar, que o deve guiar ao porto.

“A sabedoria dos Espíritos, que se mostrou no surgimento do Espiritismo, revelado quase instantaneamente em toda a Terra, na época mais propícia, não é menos evidente na ordem e na gradação lógicas das revelações complementares sucessivas. Não depende de ninguém constranger sua vontade a tal respeito, porque eles não medem seus ensinos ao sabor da impaciência dos homens.

Não nos basta dizer: “Gostaríamos de ter tal coisa” para que ela fosse dada; e ainda menos nos convém dizer a Deus: “Julgamos que é chegado o momento para nos dardes tal coisa; nós nos julgamos bastante adiantados para a receber”, porque seria dizer-lhe: “Sabemos melhor que vós o que convém fazer.” Aos impacientes os Espíritos respondem: “Começai primeiro por saber bem, compreender bem e, sobretudo, por bem praticar o que sabeis, a fim de que Deus vos julgue dignos de aprender mais; depois, quando chegar o momento, saberemos agir e escolheremos os nossos instrumentos.”

“A primeira parte desta obra, intitulada Doutrina, contém o exame comparado das diversas crenças sobre o céu e o inferno, os anjos e os demônios, as penas e as recompensas futuras; o dogma das penas eternas aí é encarado de maneira especial e refutado por argumentos tirados das próprias leis da Natureza, e que demonstram não só o seu lado ilógico, já assinalado centenas de vezes, mas a sua impossibilidade material. Com as penas eternas caem, naturalmente, as consequências que se acreditava delas poder tirar.

“A segunda parte encerra numerosos exemplos em apoio da teoria, ou, melhor, que serviram para estabelecer a teoria. Colhem sua teoria na diversidade dos tempos e lugares onde foram obtidas, porquanto, se emanassem de uma única fonte, poderiam ser consideradas como produto de uma mesma influência.

Além disso, colhem-na na sua concordância com o que diariamente se obtém em toda parte onde se ocupam das manifestações espíritas de um ponto de vista sério e filosófico. Esses exemplos poderiam ter sido multiplicados ao infinito, pois não há centro espírita que não os possa fornecer em notável contingente. Para evitar repetições fastidiosas, tivemos de fazer uma escolha entre os mais instrutivos.

Cada um desses exemplos é um estudo em que todas as palavras têm o seu alcance para quem quer que as medite com atenção, porque de cada lado jorra uma luz sobre a situação da alma depois da morte, e a passagem, até então tão obscura e tão temida, da vida corporal à vida espiritual. É o guia do viajor, antes de entrar num país novo.

A vida de além-túmulo aí se desdobra sob todos os seus aspectos, como um vasto panorama; cada um aí colherá novos motivos de esperança e de consolação, e novos suportes para firmar a fé no futuro e na justiça de Deus.

“Nesses exemplos, em sua maioria tomados de fatos contemporâneos, dissimulamos os nomes próprios, sempre que o julgamos útil, por motivos de conveniência fáceis de apreciar. Aqueles a quem tais exemplos podem interessar os reconhecerão facilmente. Para o público, nomes mais ou menos conhecidos e, por vezes, muito obscuros, nada teriam acrescentado à instrução que deles se pode tirar.”

Eis os títulos dos capítulos:

PRIMEIRA PARTE. Doutrina. I – O porvir e o nada. II – Temor da morte. III – O céu. IV – O inferno. V – Quadro comparativo do inferno pagão e do inferno cristão. VI – O purgatório. VII – Doutrina das penas eternas. VIII – As penas futuras segundo o Espiritismo. IX – Os anjos. X – Os demônios. XI – Intervenção dos demônios nas modernas manifestações. XII – Da proibição de evocar os mortos.

SEGUNDA PARTE. Exemplos. I – O passamento. II – Espíritos felizes. III – Espíritos em condições medianas. IV – Espíritos sofredores. V – Suicidas. VI – Criminosos arrependidos. VII – Espíritos endurecidos. VIII – Expiações terrestres.

Allan Kardec - Revista Espírita de Setembro de 1865

PESQUISAS REALIZADAS

CSI DO ESPIRITISMO

CASO 01:

Emma Livry (1841 - 1863)

CSI do Espiritismo

No cap. II da 2ª parte de O Céu e o Inferno temos a História de Emma Livry, o Espírito Feliz [mensagem obtida através da Sra. Costel]. Seu nome era Jeanne Emma Emarot, nascida em Paris em 24 de setembro de 1841. Vítima de um acidente no palco da Ópera de Paris, ela morreu em 26 de julho de 1863.

Em 15 de novembro de 1862, durante um ensaio da ópera La Muette de Portici [1], Emma Livry chegou muito perto da rampa de gás que iluminava o palco. Seu tutu de gaze pegou fogo e este a envolveu muito rapidamente. Transformada em uma tocha viva, ela cruzou o palco três vezes antes que um bombeiro tivesse tido tempo de correr para ela. Percebendo que estava prestes a ficar nua, Emma Livry piorou suas queimaduras pegando os pedaços do material em chamas com as mãos para se cobrir com eles. O que restou de sua fantasia estava na palma de sua mão. Acreditando que estava fazendo a coisa certa, sua professora, a ex-dançarina Marie Taglioni, a untou com graxa. O remédio acabou sendo pior do que a doença.

Em 15 de julho de 1863, a conselho de seu médico, que lhe ordenou que abandonasse a poluição parisiense, foi transportada para o castelo de Villiers, em Neuilly-sur-Seine, alugado por sua mãe. Infelizmente, suas feridas reabriram durante o transporte e infeccionaram. Ela morreu de sepse no dia 26 de julho, 8 meses após a tragédia, levando consigo uma época que marcou a história do balé romântico. Ela tinha 21 anos de idade. Parte do cinto de Emma e um pedaço de tecido estão mantidos nas vitrines do Museu da Ópera [2].

Também temos sobre ela muitas outras imagens e informações na Gallica da BnF, bem como nos jornais da época, facilmente acessados através do Retronews, também da BnF, inclusive sobre a tragédia [3-4].

Referências:

[1] https://fr.wikipedia.org/wiki/La_Muette_de_Portici

[2] https://fr.wikipedia.org/wiki/Emma_Livry

[3] https://www.retronews.fr/.../20-novembre-1862/104/538557/6

[4] https://www.retronews.fr/.../28-juillet-1863/100/1089801/1

 

Evocação na Sociedade Parisiense de Estudos Espírita:

O Céu e o Inferno — 2ª Parte.
ESPÍRITOS FELIZES

Capítulo II.

Senhorita Emma Livry

Em consequência de acidentes causados por fogo, faleceu esta donzela após cruéis sofrimentos. Alguém se propusera solicitar a sua evocação na Sociedade Espírita de Paris, quando ela se apresentou espontaneamente a 31 de julho de 1863, pouco tempo depois da morte.

“Eis-me aqui ainda no cenário do mundo, eu que me julgava sepultada para sempre no meu véu de inocência e juventude. 3 Salvar-me-ia o fogo da Terra, do fogo do inferno — assim pensava eu na minha fé católica, e, se não ousava entrever os esplendores do paraíso, minha alma tímida se apegava à expiação do purgatório, enquanto pedia, sofria e chorava. Mas, quem dava ao ânimo abatido a força de suportar as angústias? Quem, nas longas noites de insônia e febre dolorosa se inclinava sobre o leito de martírios? Quem me refrescava os lábios sedentos, escaldantes? Éreis vós, meu Guia, cuja auréola branca me cercava; e éreis vós outros, Espíritos caros e amigos, que vínheis murmurar-me ao ouvido palavras de esperança e de amor.

“A chama que me consumia o corpo débil também me despojou das suas cadeias, e, assim, morri vivendo já a verdadeira vida. Não experimentei a perturbação; entrei serena e recolhida no dia radiante que envolve aqueles que, depois de muito terem sofrido, souberam esperar um pouco. Minha mãe, minha querida mãe foi a última vibração terrestre que me repercutiu na alma. Como eu desejo que ela se torne espírita!

“Desprendi-me da Terra qual fruto maduro que se destacasse da árvore antes do tempo. Eu não tinha sido tocada pelo demônio do orgulho que estimula as almas desditosas, arrastadas pelos sucessos embriagadores e brilhantes da juventude. Bendigo, pois, o fogo, o sofrimento, a prova, que não passavam de expiação. Semelhante a esses brancos e leves fios do outono, flutuo na torrente luminosa, e não são mais as estrelas de diamante que me rebrilham na fronte, mas as áureas estrelas do bom Deus.”

Emma

CASO II

Lapommeray (1830 - 1864)

CSI do Espiritismo

No cap. VII da 2ª parte de O Céu e o Inferno temos a História de Lapommeray. Esta mensagem é da Sra. Costel, conforme Revista Espírita de julho de 1864. Eis a sua história (quando encarnado): seu nome era Edmond-Désiré Couty de la Pommerais, médico homeopata, mas também jogador compulsivo e assassino, q envenenou sua sogra e sua amante. Aqui temos o seu perfil:

Motivação: herança | p/ pegar o dinheiro do seguro.

Número de vítimas: 2.

Data dos assassinatos: 1862/1863.

Data de nascimento: 1830.

Perfil das vítimas: Madame Dubizy (sua sogra) | Madame de Pauw (sua amante).

Método do assassinato: envenenamento (dedaleira)

Detalhamento: ele encontrou a Sra. Dubizy em um ônibus (obviamente de tração animal), e ouvindo q ela era uma herdeira, a seguiu p/ descobrir sua casa, e conseguiu se apresentar à sua família... Ele sabia q sua sogra possuía cerca de 2.000 libras (a moeda é em libras porque a notícia saiu num jornal Inglês), e q após a sua morte, iria p/ sua esposa s/ qualquer restrição; não muito depois de seu casamento, a Sra. Dubizy, cuja saúde era excelente, morreu repentinamente, c/ sintomas fortemente sugestivos da ação de um veneno violento. Se ela foi assassinada por seu genro ainda é uma questão em aberto, já q ele não foi levado a julgamento por essa acusação... Pommerais recebeu seu dinheiro, mas uma quantia pequena, incompatível c/ seus desejos, e então foi q ele concebeu outro esquema...

Ele renovou suas relações c/ a Sra. Pauw, viúva, q estava feliz em encontrar seu antigo amante, e disse a ela q ele tinha concebido um projeto pelo qual ele poderia fazer uma ampla provisão p/ ela e p/ seus filhos. Ele propôs segurar sua vida por 22.000 libras, pagando o primeiro prêmio anual, q seria de 758 libras; e disse a ela q, se logo após a operação, ela fingisse estar gravemente doente, a empresa compraria as apólices de bom grado dando-lhe uma renda anual de 240 libras, das quais ele receberia metade do reembolso de sua pensão. Ele fez os seguros através de um corretor, e pagou o prêmio, provavelmente c/ o dinheiro q ele herdou da Sra. Dubizy. Quando ele disse a ela q havia chegado a h de simular uma doença grave, ele lhe deu drogas q produziriam o aparecimento de sintomas alarmantes. O fim logo chegou. Quanto mais ele a visitava, pior ficava, e por fim ela morreu em terríveis agonias, apenas 2 ou 3 horas depois q ele a deixou pela última vez.

Status: Executado pela guilhotina em junho de 1864.

Para demonstrar a presença da dedaleira no corpo de Pauw, o patologista forense Ambroise Tardieu injetou em sapos um extrato c/ o vômito recolhido da vítima, bem como uma solução padrão. As reações daqueles sapos injetados c/ o padrão e aqueles injetados c/ o extrato eram exatamente as mesmas!... Esta prova foi exibida no tribunal, e em 9 de Junho de 1864 Pommerais foi condenado por assassinato e executado. As conclusões e o testemunho de Tardieu sofreram uma crítica em 1865 no "The American Journal of the Medical Sciences, Volume 50". A mensagem da Sra. Costel deve ter sido dada naquele mesmo mês.

Fontes:

https://bit.ly/2BHI9b8 e http://murderpedia.org/male.P/p/pommerais-edmond.htm.

PS: Apesar da data de nascimento informada na 2ª fonte acima ser 1836, o registro de óbito de 1864 indica ser 1830 (pg 6 de https://bit.ly/2RwvzRq), o q é confirmado pelo seu registro de nascimento (pg 8 de https://bit.ly/2U1OpSu).

Evocação na Sociedade Parisiense de Estudos Espírita:

O Céu e o Inferno — 2ª Parte.
ESPÍRITOS ENDURECIDOS.

Capítulo VII.

LAPOMMERAY.
Castigo pela luz.

Em uma das sessões da SOCIEDADE Parisiense de Estudos Espírita, durante a qual se discutira a perturbação que geralmente acompanha a morte, um Espírito, ao qual ninguém fizera alusão e muito menos se pretendera evocar, manifestou-se espontaneamente pela seguinte comunicação, que, conquanto não assinada, se reconheceu como sendo de um grande criminoso recentemente atingido pela justiça humana:

“Que dizeis da perturbação? Para que essas palavras ocas? Sois sonhadores e utopistas. Ignorais redondamente o assunto do qual vos ocupais. Não, senhores, a perturbação não existe, a não ser nos vossos cérebros. Estou bem morto, tão morto quanto possível e vejo claro em mim, ao derredor de mim, por toda parte!…  A vida é uma comédia lúgubre! Insensatos os que se retiram da cena antes que o pano caia. A morte é terror, aspiração ou castigo, conforme a fraqueza ou a força dos que a temem, afrontam ou imploram. Mas é também para todos amarga irrisão.  A luz ofusca-me e penetra, qual flecha aguda, a sutileza do meu ser.  Castigaram-me com as trevas do cárcere e acreditavam castigar-me ainda com as trevas do túmulo, senão com as sonhadas pelas superstições católicas…  Pois bem, sois vós que padeceis da obscuridade, enquanto que eu, degredado social, me coloco em plano superior. Eu quero ser o que sou!… Forte pelo pensamento, desdenhando os conselhos que zumbem aos meus ouvidos… Vejo claro… Um crime! É uma palavra! O crime existe em toda parte. Quando executado pelas massas, glorificam-no, e, individualizado, consideram-no infâmia. Absurdo!

“Não quero que me deplorem… nada peço… lutarei por mim mesmo, só, contra esta luz odiosa.”

“Aquele que ontem era um homem.”

Analisada essa comunicação na assembleia seguinte, reconheceu-se no próprio cinismo da sua linguagem um profundo ensinamento, patenteando na situação desse infeliz uma nova fase do castigo que espera o culpado. Efetivamente, enquanto alguns são imersos em trevas ou num absoluto insulamento, outros sofrem por longos anos as angústias da extrema hora, ou acreditam-se ainda encarnados; para estes, a luz brilha, gozando o Espírito, e plenamente, das suas faculdades, sabendo-se morto e não se lastimando, antes repelindo qualquer assistência e afrontando ainda as leis divinas e humanas. Quererá isto dizer que escapassem à punição? De modo algum; é que a justiça de Deus completa-se sob todas as formas, e o que a uns causa alegria é para outros um tormento; a luz faz o suplício desse Espírito, e é ele próprio que o confessa, em que pese ao seu orgulho, quando diz: “lutarei por mim mesmo, só, contra esta luz odiosa”; e ainda nesta frase: “a luz ofusca-me e penetra, qual flecha aguda, a sutileza do meu ser.” Essas palavras: “sutileza do meu ser”, são características, dando a entender que sabe que o seu corpo é fluídico e penetrável à luz, à qual não pode escapar, luz que o penetra qual aguda flecha.

Este Espírito aqui está colocado entre os endurecidos, em razão do muito tempo que levou, antes que manifestasse arrependimento o que é também um exemplo a mais para provar que o progresso moral nem sempre acompanha o progresso intelectual. Entretanto, pouco a pouco se foi corrigindo, e deu mais tarde ditados instrutivos e sensatos. Hoje, ele poderá ser colocado entre os Espíritos arrependidos.

CASO III

Jean-Louis Verger (1826 - 1857)

CSI do Espiritismo

No cap. VI da 2ª parte de O Céu e o Inferno temos a História do padre católico Jean Louis Verger [1-2, um dos Criminosos arrependidos de OCEOI, falaremos pouco, pois já foi identificado na própria obra como o assassino do arcebispo de Paris. Traremos apenas mais alguns detalhes. Uma das motivações do crime seria dele não aceitar o celibato clerical e o dogma da Imaculada Conceição. Todo seu processo, até sua condenação à morte, pode ser encontrado nos jornais da época (ver retronews da BnF), e um resumo, no “Polichinelle” de 19 de janeiro de 1857 [3]. Foi guilhotinado em 30 de janeiro de 1857, aos 30 anos de idade. Segundo o “L’Écho rochelais” de 4 de fevereiro de 1857, reproduzindo uma notícia da “Gazette des Tribunaux”, pouco antes de sua execução, ele pedirá perdão por seu crime e suas faltas, e se confessará ao capelão [4], diferentemente do que é informado em OCEOI, ou seja, talvez as últimas palavras, quando ainda vivo, não refletiram realmente o que ele sentia.

Referências:

[1] https://fr.wikipedia.org/wiki/Jean-Louis_Verger

[2] https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k6319123b

[3] https://www.retronews.fr/.../19-janvier-1857/3242/4947978/1

[4] https://www.retronews.fr/.../4-fevrier-1857/621/1654635/2

Assassinato do Monsenhor Arcebispo de Paris - Verger - Sua biografia e seu processo - por um estenógrafo.

RetroNews (Presse de la BNF)

Veredicto do júri sobre Verger, depois de 20 minutos, e condenação à pena de morte, pela Corte.

RetroNews (Presse de la BNF)

Verger pede perdão a Deus e aos homens pelo crime cometido e, de joelhos, se confessa ao capelão, respondendo em latim à oração dos moribundos.

RetroNews (Presse de la BNF)

Evocação na Sociedade Parisiense de Estudos Espírita:

O Céu e o Inferno — 2ª Parte.
CRIMINOSOS ARREPENDIDOS

Capítulo VI.

Jean-Louis Verger

 

A 3 de janeiro de 1857, Mons. Sibour, arcebispo de Paris, ao sair da Igreja de Saint-Étienne-du-Mont, foi mortalmente ferido por um jovem padre chamado Verger. O criminoso foi condenado à morte e executado a 30 de janeiro. Até o último instante não manifestou qualquer sentimento de pesar, de arrependimento, ou de sensibilidade.

Evocado no mesmo dia da execução, deu as seguintes respostas:

1. Evocação. — R. Ainda estou preso ao corpo.

2. Então a vossa alma não está inteiramente liberta? — R. Não… tenho medo… não sei… Esperai que torne a mim. Não estou morto, não é assim?

3. Arrependei-vos do que fizestes? — R. Fiz mal em matar, mas a isso fui levado pelo meu caráter, que não podia tolerar humilhações… Evocar-me-eis de outra vez.

4. Por que vos retirais? — R. Se o visse, muito me atemorizaria, pelo receio de que me fizesse outro tanto.

5. Mas nada tendes a temer, uma vez que a vossa alma está separada do corpo. Renunciai a qualquer inquietação, que não é razoável agora. — R. Que quereis? Acaso sois senhor das vossas impressões? Quanto a mim, não sei onde estou… estou doido.

6. Esforçai-vos por ser calmo. — R. Não posso, porque estou louco… Esperai, que vou invocar toda a minha lucidez.

7. Se orásseis, talvez pudésseis concentrar os vossos pensamentos… — R. Intimido-me… não me atrevo a orar.

8. Orai, que grande é a misericórdia de Deus! Oraremos convosco. — R. Sim; eu sempre acreditei na infinita misericórdia de Deus.

9. Compreendeis melhor, agora, a vossa situação? — R. Ela é tão extraordinária que ainda não posso apreendê-la.

10. Vedes a vossa vítima? — R. Parece-me ouvir uma voz semelhante à sua, dizendo-me: “Não mais te quero…” Será, talvez, um efeito da imaginação!… Estou doido, vo-lo asseguro, pois que vejo meu corpo de um lado e a cabeça de outro… afigurando-se-me, porém, que vivo no Espaço, entre a Terra e o que denominais céu… Sinto como o frio de uma faca prestes a decepar-me o pescoço, mas isso será talvez o terror da morte… Também me parece ver uma multidão de Espíritos a rodear-me, olhando-me compadecidos… E falam-me, mas não os compreendo.

11. Entretanto, entre esses Espíritos há talvez um cuja presença vos humilha por causa do vosso crime. — R. Dir-vos-ei que há apenas um que me apavora o daquele a quem matei.

12. Lembrai-vos das anteriores existências? — R. Não; estou indeciso, acreditando sonhar… Ainda uma vez, preciso tornar a mim.

13. (Três dias depois.) Reconhecei-vos melhor agora? — R. Já sei que não mais pertenço a esse mundo, e não o deploro. Pesa-me o que fiz, porém meu Espírito está mais livre; sei a mais que há uma série de encarnações que nos dão conhecimentos úteis, a fim de nos tornarmos tão perfeitos quanto possível à criatura humana.

14. Sois punido pelo crime que cometestes? — R. Sim; lamento o que fiz e isso faz-me sofrer.

15. Qual a vossa punição? — R. Sou punido porque tenho consciência da minha falta, e para ela peço perdão a Deus; sou punido porque reconheço a minha descrença nesse Deus, sabendo agora que não devemos abreviar os dias de vida de nossos irmãos; 3 sou punido pelo remorso de haver adiado o meu progresso, enveredando por caminho errado, sem ouvir o grito da própria consciência que me dizia não ser pelo assassínio que alcançaria o meu desiderato; 4 deixei-me dominar pela inveja e pelo orgulho; enganei-me e arrependo-me, pois o homem deve esforçar-se sempre por dominar as más paixões — o que aliás não fiz.

16. Qual a vossa sensação quando vos evocamos? — R. De prazer e de temor, por isso que não sou mau.

17. Em que consiste tal prazer e tal temor? — R. Prazer de conversar com os homens e poder em parte reparar as minhas faltas, confessando-as; e temor, que não posso, definir — um quê de vergonha por ter sido um assassino.

18. Desejais reencarnar na Terra? — R. Até o peço e desejo achar-me constantemente exposto ao assassínio, provando-lhe o temor.

Monsenhor Sibour, evocado, disse que perdoava ao assassino e orava para que ele se arrependesse. Disse mais que, posto estivesse presente à sua evocação, não se lhe tinha mostrado para lhe não aumentar os sofrimentos, porquanto o receio de o ver já era um sintoma de remorso, era já um castigo.

P. O homem que mata [outro homem] sabe que, ao escolher nova existência, nela se tornará assassino? — R. Não; ele sabe que, escolhendo uma vida de luta, tem probabilidades de matar um semelhante, ignorando porém se o fará, pois está quase sempre em luta consigo mesmo.

A situação de Verger, ao morrer, é a de quase todos os que sucumbem violentamente. Não se verificando bruscamente a separação, eles ficam como aturdidos, sem saber se estão mortos ou vivos.  A visão do arcebispo foi-lhe poupada por desnecessária ao seu remorso; mas outros Espíritos, em circunstâncias idênticas, são constantemente acossados pelo olhar das suas vítimas.

À enormidade do delito, Verger acrescentara a agravante de se não ter arrependido ainda em vida, estando, pois, nas condições requeridas para a eterna condenação.  Mas, logo que deixou a Terra, o arrependimento invadiu-lhe a alma e, repudiando o passado, deseja sinceramente repará-lo.  A isso não o impele a demasia do sofrimento, visto como nem mesmo teve tempo para sofrer, mas o alarme dessa consciência desprezada durante a vida, e que ora se lhe faz ouvir.  Por que não considerar valioso esse arrependimento? Por que admiti-lo dias antes como salvante do inferno, e depois não? E por que, finalmente, o Deus misericordioso para o penitente, em vida, deixaria de o ser, por questão de horas, mais tarde?

Fora para causar admiração a rápida mudança algumas vezes operada nas ideias de um criminoso, endurecido e impenitente até à morte, se o trespasse lhe não fosse também bastante, às vezes, para reconhecer toda a iniquidade da sua conduta. 8 Contudo, esse resultado está longe de ser geral — o que daria em consequência o não haver Espíritos maus. O arrependimento é muita vez tardio, e daí a dilação do castigo.

A obstinação no mal, em vida, provém às vezes do orgulho de quem recusa submeter-se e confessar os próprios erros, visto estar o homem sujeito à influência da matéria, que, lançando-lhe um véu sobre as percepções espirituais, o fascina e desvaira. Roto esse véu, súbita luz o aclara, e ele se encontra senhor da sua razão… A manifestação imediata de melhores sentimentos é sempre indício de um progresso moral realizado, que apenas aguarda uma circunstância favorável para se revelar, ao passo que a persistência mais ou menos longa no mal, depois da morte, é incontestavelmente a prova de atraso do Espírito, no qual os instintos materiais atrofiam o germe do bem, de modo a lhe serem precisas novas provações para se corrigir.

Fontes: Canal Espírita Jorge Hessen (Antônio César Perri de Carvalho, ex-presidente da USE do Estado de São Paulo e da Federação Espírita Brasileira, esteve em nosso estúdio para falar sobre os 150 anos de publicação do livro O Céu e o Inferno, de Alan Kardec, quarto livro da codificação Kardequiana)

Fontes: Canal Espírita Jorge Hessen (O Céu e o Inferno na Visão Espírita - 26.8.1995 - Com Palestrante Espírita Raul Teixeira - No II Simpósio Paranaense de Espiritismo)

Fontes: CSI do Espiritismo (Espíritos do livro O Céu e o Inferno)

Fontes: Bíblia da Caminho (Allan Kardec - O Céu e o Inferno) (Em capítulos)

"Eis que um dos que estavam com Jesus, estendendo a mão, puxou a espada e ferindo o servo do sumo sacerdote, decepou-lhe uma das orelhas. Mas Jesus lhe ordenou: “Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada pela espada morrerão! Ou imaginas tu que Eu, neste momento, não poderia orar ao meu Pai e Ele colocaria à minha disposição mais de doze legiões de anjos?…"

"Evangelho de Mateus 26:51-53"

"O homem é assim o árbitro constante de sua própria sorte. Ele pode aliviar o seu suplício ou prolongá-lo indefinidamente. Sua felicidade ou sua desgraça dependem da sua vontade de fazer o bem."

Allan Kardec "O Céu e o Inferno"

"A Doutrina Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os próprios habitantes desse mundo que nos vêm descrever a sua situação; aí os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases da felicidade e da desgraça, assistindo, enfim, a todas as peripécias da vida de além-túmulo.

Eis aí por que os espíritas encaram a morte calmamente e se revestem de serenidade nos seus últimos momentos sobre a Terra. Já não é só a esperança, mas a certeza que os conforta; sabem que a vida futura é a continuação da vida terrena em melhores condições e aguardam-na com a mesma confiança com que aguardariam o despontar do Sol após uma noite de tempestade. Os motivos dessa confiança decorrem, outrossim, dos fatos testemunhados e da concordância desses fatos com a lógica, com a justiça e bondade de Deus, correspondendo às íntimas aspirações da Humanidade."

Allan Kardec "O Céu e o Inferno"

 

 

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Le Ciel et l'enfer ou La justice divine Selon le Spiritisme

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Allan Kardec - Le Ciel et l'enfer ou La justice divine Selon le Spiritisme - 1ª Édition (1865) (Fr)

Allan Kardec - Le Ciel et l'enfer ou La justice divine Selon le Spiritisme - 4ª Édition (1869) (Fr)