BEZERRA DE MENEZES

UMA CARTA DE BEZERRA DE MENEZES

OU

A DOUTRINA ESPÍRITA COMO FILOSOFIA TEOGÔNICA

Apresentação da obra:

Uma carta de Bezerra de Menezes - Publicada originalmente no Reformador, durante o período de 3 de outubro de 1920 a primeiro de maio de 1921, sob o título de “Valioso Autógrafo”, posteriormente saindo como opúsculo intitulado A doutrina espírita como filosofia teogônica.

Carta dirigida a seu irmão Manoel Soares Bezerra, líder católico de Fortaleza, confrontando as teses cristã e católica, tecendo considerações profundas de filosofia religiosa, cuja abordagem culmina com a apresentação dos antecedentes históricos do espiritismo e princípios doutrinários como inferno e reencarnação.

Chegou a ser publicado pela Edicel, com o título A doutrina espírita, sob a orientação de Freitas Nobre.

Expõe tese doutrinária, estabelecendo o confronto entre Cristianismo e Catolicismo, veiculando os mais delicados aspectos da filosofia religiosa. É uma epístola de cerca de 100 páginas, dirigida a Bezerra e seu irmão.

Elucida temas como: antecedentes históricos do Espiritismo, inferno e reencarnação. É uma verdadeira profissão de fé espírita, que bem reflete todo o convencimento de seu autor.

Trechos da obra:

Princípios Fundamentais do Espiritismo

Os princípios fundamentais do Espiritismo devem ser considerados em relação à gênese dos espíritos, à sua evolução e ao seu destino. São três pontos que reclamam a maior atenção e que constituem o edifício da nova doutrina.

Estudemos a gênese.

Seria indigno da Onipotência e da Onisciência limitar a criação viva e, portanto, o movimento e a luz, a insignificantíssimo ponto do espaço ilimitado.

O simples bom-senso repele essa concepção e estabelece a oposta: a de haver luz e movimento e, conseguintemente, vida, por todo o infinito espaço. E a pluralidade de mundos habitados pela humanidade, que emerge desta última concepção, que exalta a Deus, tanto como a oposta o mesquinha.

O Espiritismo admite em sua Teogonia este princípio e esse princípio não é diabolismo, porque é conforme com o critério absoluto da verdade.

Também ele consigna a lei da constante e eterna criação de mundos e a Ciência confirma este postulado, demonstrando que as nebulosas cospem constantemente nos espaços núcleos de novos mundos. Cada um destes é mais uma habitação acrescentada à casa do Pai, a qual precisa alargar-se constantemente, porque acontece com a criação dos espíritos o que se dá com a dos mundos.

Deus criou espíritos de toda a eternidade e criá-los-á por toda a eternidade. Também isto não pode ser diabolismo, porque isto magnífica e engrandece o Senhor.

E' verdade que V. notará aqui divergências com a gênese bíblica, que dá o Senhor criando um único par humano, depois do que entrou em repouso. Que houvesse, não era razão para ser repelido, porque a criação única amesquinha, tanto quanto a múltipla e eterna exalta, e porque esse repouso de Deus, antes e depois da criação do mundo, é até blasfemo.

Não há, porém, divergência, e o repouso de Deus, depois da criação da Terra, tem a mais satisfatória explicação.

A gênese espírita compreende a criação universal, ao passo que a bíblica se refere à especial da Terra.

Deus criou sempre e criará sempre, como é de simples intuição e o afirma o Espiritismo; mas cria cada mundo num tempo, como é de razão, e o afirma a Bíblia com relação a Terra. A divergência fica assim explicada.

Quanto ao repouso, temes a mesma distinção.

Deus está em constante atividade, porque a falta desta seria a sua extinção; mas descansa a respeito de cada mundo que cria e a que põe leis eternas, que dispensam sua constante intervenção.

O repouso é, portanto, relativo e não absoluto, como parecerá a quem ler o Gênese e supuser que Deus só criou este mundo e esta gente que o habita. Já vê que o Espiritismo, em vez de procurar comprometer, como faria um inimigo, explica o que parece comprometer como faz um bom amigo.

Mas... continuemos. Os espíritos são criados na mais perfeita identidade de condições. São criados em ignorância; mas com todos os meios precisos, também latentes, para conquistar a suma virtude humana.

Todos recebem, com as faculdades e meios de que falei acima, idênticos em toda a liberdade, também idêntica, de pô-los em jogo para sua elevação. Isto não é diabolismo, porque essa igualdade perfeita, na distribuição dos seus dons por todos os filhos, exalta e engrandece o Pai.

E isto é a síntese da gênese espírita.

Passemos à evolução dos espíritos.

Os espíritos, criados em ignorância e inocência, começam a agir, a desenvolver suas faculdades intelectuais e afetivas, cada um como bem lhe parece, usando de sua liberdade. Daí resulta que, logo no primeiro páreo, uns empenharam toda a sua força naquele desenvolvimento, outros empregaram menos do que podiam, outros ainda menos, e assim por diante, até aos que não deram um passo no caminho do progresso.

No fim dessa primeira existência, o Juiz indefectível julga a todos segundo seu trabalho, não deixando falta impune, nem esforço sem animação.

Aqui não pode haver diabolismo, senão em não haver juízo definitivo e condenação, ou glorificação eternas. Isto, porém, já mostrei que é dogma de caráter humano, que inquina a religião, comprometendo as perfeições infinitas do Altíssimo.

Os espíritos, que empregaram todo o esforço em vida, sobem, por animação, alguns degraus na longa escada que leva à maior perfeição humana, em cada degrau da qual, à medida que se vai subindo, tem-se mais amor ao progresso, pelo saber e pelo bem, e recebe-se, na mesma relação, maior ou menor sopro da felicidade, cuja plenitude só se goza quando se chega ao último degrau.

Ao contrário do que fez o que podia o espírito que não usou de seus meios de progresso fica estacionário, até que faça jus a subir de grau, sofrendo no espaço as penas de suas faltas. E sofre-as por séculos de séculos, até que se converta se arrependa e faça propósito de emendar-se.

E sofre-as tão duras e aflitivas, como as que se descrevem no inferno, com a única diferença de que não matam, mas purificam, corrigindo, e de que cessam desde o momento em que o espírito, sempre usando da sua liberdade, curva a cerviz à lei do progresso e do bem.

Tanto o bom, premiado, como o mau, castigado e arrependido, reencarnam para progredirem, pois que é impossível galgar o topo da escada em uma vida única.

Mas, então, vemos essa desigualdade que tanto nos impressiona: uma criança despontando na vida com tendência irresistível para o bem, ao passo que outra apresenta uma tendência igual para o mal; porque cada espírito começa a nova existência no ponto em que concluiu a passada, e é por isso que vemos uns dotadas de inteligência genial, e outros estúpidos como pedras. E é por aí que se explicam as vocações especiais e as idéias inatas.

Em a nova existência, o espírito perde a lembrança do que foi para poder usar plenamente de sua liberdade e fazer mérito ou demérito. E, nela, cada um vem a expiar as faltas da passada e fazer provas de ter, pelo arrependimento que lhe suspendeu o castigo, abraçado sinceramente o princípio do bem.

A nossa missão, pois, reencarnando, é: lavarmo-nos das manchas passadas e adquirirmos maior desenvolvimento intelectual e moral, para subirmos.

Nossas provas na vida corpórea são variabilíssimas, mas sempre em relação com as passadas faltas. Fomos, por exemplo, senhor bárbaro e desumano, voltamos na condição de escravo, para sofrermos o que fizemos sofrer. E, se sofremos a dura prova com resignação, louvando a Deus e oferecendo-lhe nossas dores em desconto das nossas faltas, teremos satisfeito à difícil missão e subido algum ou alguns degraus da escada, quando morrermos.

O que falha à sua missão, revoltando-se contra as provas, vai sofrer penas cruéis e tem de repetir a experiência em tantas existências, quantas levar endurecido.

E assim, sofrendo depois de cada vida a pena das faltas que cometeu nela e voltando a nova encarnação para expiar aquelas faltas e progredir pela prática das virtudes opostas, sobe o espírito, a um por um, todos os degraus da longa escada que leva à casa do Pai.

Alcançar esta casa é o destino humano. Mas não pode entrar aí, no palácio do Rei dos reis, na morada do Senhor de todas as perfeições, senão o espírito desmaterializado, o que tem adquirido o maior saber que é dado ao homem e a mais alta virtude de que é capaz a natureza humana.

Daí a necessidade de sofrermos com resignação, pelo amor de Deus, todas as provas de expiação que nos forem impostas em nossas existências.

Quem mais trabalha mais lucra. Quem mais depressa anda mais depressa chega. E o incentivo para trabalhar e para apressar-se é tal que arrebata.

O mais difícil é chegar-se a um ponto de progresso, donde se pode compreender o glorioso e esplêndido destino que espera a Humanidade. Glorioso e esplêndido, pois que o homem, desenvolvendo sempre as suas faculdades intelectuais, para o saber, e as afetivas, para a virtude, chega a uma transformação de sua natureza, não restando, deste que conhecemos na Terra, senão a forma e a essência espiritual.

Compreendido tão alto destino, não há mais quem fraqueie, pois que, à sublime visão, fazemos das fraquezas forças.

Em última análise, o destino humano é a perfeição: saber e virtudes, quais possuem os anjos. E a esse supremo grau de perfeição humana corresponde o mais elevado grau de felicidade, que nós da Terra mal podemos compreender. Sem esse grau de perfeição não podemos entrar na casa do Pai.

Diga-me V. se a Igreja, com o seu inferno e a sua vida única, oferece mais incentivo para a alma desejar o bem e mais repressões para ela procurar afastar o mal.

A diferença que há entre a Teogonia da Igreja e a do Espiritismo está unicamente nos princípios da vida única e das penas eternas, que, já vimos, atacam as perfeições do Criador.

Onde, pois, o diabolismo da Teogonia espírita?

Ela só dá o prêmio a quem conquistar o saber e a virtude.

Ela faz consistir a virtude no exercício da moral de Jesus Cristo.

Ela não deixa a mínima falta humana sem punição.

Ela dá ao homem todo o poder para preparar seu destino.

Ela ressalva a responsabilidade do Criador em todas as vicissitudes da vida humana.

Ela consigna o auxílio de Deus em prol do nosso progresso, não por graças individuais, que seriam preferências e exclusões, mas pela revelação das verdades, verdadeiros faróis, que ensinam a todos o porto da salvação.

Ela, finalmente, coloca mais alto do que jamais se cogitou o destino do homem.

Onde se encontra mais animação para o aperfeiçoamento da alma?

Fontes: Canal Espírita Jorge Hessen (Especial Bezerra de Menezes) Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti desempenhou atividades notáveis na área da medicina e da política. Ficou conhecido como o "MÉDICO DOS POBRES" pelo carinho e generosidade com que atendia seus pacientes e como "APÓSTOLO DO ESPIRITISMO NO BRASIL", pela seriedade e serenidade com que protagonizou o processo de UNIFICAÇÃO DO MOVIMENTO ESPÍRITA. Seus gestos de bondade e amorosidade ainda hoje se derramam sobre todos nós. Documentário realizado na cidade de Jaguaretama (antiga Riacho do Sangue), no Ceará, cidade de origem de Adolfo Bezerra de Menezes. Vídeo produzido pelo Clube de Arte e exibido na tvnovaluz.com.

Fontes: Temário da Obra Kardequiana (Allan Kardec de A a Z)

Fontes: Vade Mecum Espírita

"O médico verdadeiro não tem o direito de acabar a refeição, de escolher a hora, de inquirir se é longe ou perto; O que não atende por estar com visitas,  por ter trabalhado muito e achar-se fatigado,  ou por ser alta noite, mal o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro; O que sobre tudo pedi um carro para quem não tem como pagar a receita, ou quem diz a quem chora a porta que procure outro; ESSE NÃO É MÉDICO, É NEGOCIANTE DE MEDICINA que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura."

Bezerra de Menezes "O Luminar do Espiritismo"

 

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