CAIRBAR SCHUTEL

A VIDA NO OUTRO MUNDO

(1ª Edição - 1932)

 

Prefácio da obra:

Quando escrevi "O Espírito do Cristianismo" julguei seria a última obra que teria de dar à publicidade, e me alegrei por haver desinteressadamente levado aquela insignificante contribuição para o erguimento do Verdadeiro Templo Espiritual, que o Espiritismo veio construir para abrigar a Humanidade.

Na verdade, não me passava pela mente a idéia de um novo livro; satisfazia-me com a publicação de artigos filosóficos e doutrinários, com os quais procurava manter acesa a lâmpada da Fé nos corações daqueles que me têm dedicado a sua amizade e simpatia.

Um dia, porém, lembrei-me de que há muito tempo havia eu escrito uma conferência, cujos ensinos eram inéditos naquela época e vinham trazer nova luz sobre a vida além da morte.

A doutrina expendida nessa conferência fora ilustrada com alguns mapas, que formavam um esquema de confronto entre os mundos do nosso Sistema Planetário e outros, representativos das estrelas, majestosos sóis centros de outros tantos sistemas, que representam as "muitas moradas da Casa de Deus", lembradas por Jesus segundo refere o Evangelista João.

Assim também os desenhos faziam lembrar os asteróides, os cometas, os mundos que sulcam os Universos quais frotas flutuantes, levando em seu dorso Humanidades que caminham para a Perfeição - o Bem e o Belo - para a glorificação do Supremo Criador.

Passados alguns anos, verifiquei que a doutrina expendida nessa conferência não era ficção, nem mera fantasia de uma exaltação pela Imortalidade, que porventura me afagasse o coração, vista que outros tantos escritores e médiuns nos haviam transmitido as mesmas verdades, embora em países diversos e distantes do nosso, bem assim em outros idiomas.

Esse fato me incitou a escrever novo livro, que, com justa razão, deveria intitular-se A Vida no Outro Mundo.

Pus mãos à obra e eis que consegui, com o valoroso auxilio dos meus protetores e dos caros Espíritos que dirigem nosso Movimento, entregá-la á publicidade.

Como nas demais obras, não me incomodei com a forma; unicamente fiz questão de que as expressões que traduzem os conhecimentos, que me foram dado receber, exprimissem exatamente as idéias que desejo ver propagadas e conhecidas de toda gente.

Esforcei-me o mais possível para usar de uma linguagem popular, acessível a todas as inteligências, porque sei que esta obra terá mais divulgação entre os humildes e desprovidos da literatura que adorna os que tiveram tempo e dinheiro para se ilustrar na arte de falar bonito.

O meu fim é levar a consolação aos aflitos, a fé aos descrentes, a verdade aos que por ela anseiam e trabalham.

Se este livro concorrer para estancar lágrimas de amor pela separação de entes caros, e para a iluminação de cérebros que se consideravam vazios de espiritualidade, eu me darei por satisfeito com o meu trabalho.

Cairbar Schutel

Trechos da obra:

XVIII

Os Planos do Mundo Espiritual

No Outro Mundo, como neste, existem planos de existência, mundos superpostos, uns acima dos outros, constituindo uma espécie de escada de perfeição. Na Terra, é, também, assim: existe o lugar para o camponês iletrado e para o homem de Ciência. Os índios e selvícolas não poderiam viver em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Tudo no Outro Mundo obedece a uma ordem espiritual bem determinada, sem privilégios, nem exclusões.

Desde o primeiro passo, logo a começar da superfície da Terra, até o último, conta-se grande variedade de planos de Vida, ou sejam, Mundos Espirituais, para usar de uma linguagem mais aproximada à compreensão, porque não existe expressão nos vocabulários comuns para caracterizar a natureza desses mundos, que chamaremos semimateriais ou fluídicos. Provavelmente, esses planos é que foram simbolizados, na visão de Jacó, por uma escada com inumeráveis degraus que, apoiados na Terra, chegavam ao Céu.

Não pode ser de outro modo. A lei do progresso rege de modo perfeito a evolução anímica. Os Espíritos, revestidos de seu corpo perispiritual, não podem viver num meio que não esteja de acordo com sua vestimenta espiritual, e esta vibra sempre ao ritmo da elevação de cada um, em sabedoria e moralidade.

Uma região isenta, por exemplo, de oxigênio, seria hostil a Espíritos que ainda precisam de oxigênio para viver. Uma região em que não predomina o carbono não poderio ser habitada por Espíritos que necessitam, pela sua condição ainda de inferioridade, de carbono para a manutenção do seu corpo perispiritual.

O indivíduo sentir-se-ia desequilibrado, e a sua condição média tornar-se-ia infeliz, sofredora, insuportável se assim não fosse. Tudo obedece a uma ordem e harmonia admiráveis na criação. Daí a necessidade desses diversos planos, como garantia de vida aos que fazem a sua evolução para um estado melhor.

Os antigos tinham noções destes princípios e acreditavam na existência de muitos céus super postos, que se compunham de matéria sólida e transparente, formando esferas concêntricas e tendo a Terra por centro.

Esta teogonia fez, dessa escala de céus diversos graus de bem-aventurança: o último deles era o abrigo da suprema felicidade.

A opinião comum era a de que havia sete céus; em cada um deles, em sentido ascendente; aumentava a felicidade dos crentes. Os muçulmanos admitem nove céus. O astrônomo Ptolomeu contava onze, e denominava o último Empíreo, por causa da luz brilhante que ali reinava. A teologia católica admite três céus: o primeiro da região do ar e das nuvens; o segundo, o espaço em que giram os astros; e o terceiro, para além deste, é a morada do Altíssimo, a habitação dos que O contemplam face a face. É conforme esta crença que o Apóstolo Paulo diz que foi arrebatado até o “terceiro céu”.

Enfim, é crença unânime que, sob uma ou outra denominação, essas esferas superpostas constituem a habitação das almas, o Mundo Espiritual. Na verdade, seria ilógico e verdadeiro contrassenso julgarmos um vácuo a atmosfera que nos rodeia, o nada dos ignorantes de então. A constituição física e química da atmosfera era ignorada dos povos passados. Ainda na Idade Média não se tinha do estado gasoso da matéria senão noções rudimentares. Sobre a vida, mesmo, só se sabia que ela se extinguia por falta de ar; mas não se conhecia o mecanismo da combustão e da respiração.

Foi o gênio ilustre de Lavoisier que deu os primeiros passos para a descoberta dos elementos contidos no ar que respiramos. Foi tão grande a descoberta desse insigne francês, e tão iluminado era o famoso químico, que, em 8 de março de 1794, quando sua cabeça rolou sobre o patíbulo, o ilustre matemático Lagrange, disse: “Cem anos não serão bastantes para produzir outra cabeça semelhante”.

Hoje podemos afirmar muito mais que Lavoisier; sabemos que tudo o que existe no nosso corpo, existe na atmosfera, no ar que respiramos: azoto, oxigênio, hidrogênio, carbono, cujas combinações formam a cal, a soda, o fósforo, os ácidos, o enxofre, o flúor, o silício, o magnésio, o lítio, o ferro, o manganês, o cobre, o chumbo, etc.

Sabemos mais que em nossa atmosfera vivem inúmeros micróbios, flutuam ovos de infusórios, partículas de algodão, de farinha, de penas, matérias que se evolam das fábricas, que saem da combustão, do enxofre e outros sais, etc. Só nas costa da Bretanha e da Normandia calcula-se que um hectare de terreno não recebe menos, anualmente, de 147 quilogramas de matérias sólidas; das quais 37 quilogramas são de sal marinho.

Não é preciso estendermo-nos em considerações para provar que o ar é alguma coisa, contém muita coisa; não é o vazio que se apresenta aos nossos olhares acanhados. O Espiritismo, penetrando fundamente na Ciência, abre brechas ao pensamento, e dá, ao mesmo tempo, razão à crença cega dos povos antigos, que, em sua concepção infantil, proclamavam os céus sobrepostos, cada qual mais adiantado, crença essa que se confirma agora com dados científicos e as revelações de caráter coletivo que estão sendo feitos e verificados em todos os pontos do globo.

Não há dúvida; existem planos de existência, de vida em mundos superpostos, uns acima doutros, constituindo, no seu conjunto, uma espécie de escada de perfeição.

Cairbar Schutel

Trechos da obra:

XIX

O plano da vida após a morte

O primeiro plano do Mundo Espiritual é bem parecido com o plano em que vivemos, o plano terrestre. Pode-se dizer que o nosso plano de vida aqui, na Terra, é uma cópia materializada do primeiro plano da Vida Espírita. O que existe na Terra, existe nesse plano do mundo espírita, sendo que ele contém ainda mais alguma coisa do que existe no nosso mundo. Mas é muito mais aperfeiçoado, mais belo, sem comparação; e tudo o que existe, está claro, é formado de matéria contida nesse plano de vida, ou mundo.

O termo “mundo”, na linguagem Espírita, não exprime somente os planetas, os globos, mas também as camadas que chamamos atmosféricas e que envolvem os planetas, os cometas, as estrelas ou sóis, e outros mundos imperceptíveis mesmo aos astrônomos e aos que se dedicam às coisas espirituais. Poderíamos chamar esses mundos de mundos aéreos, entretanto reais, pois é neles que vivemos a nossa vida verdadeira.

Nos mundos materiais a nossa vida é ligeira, aparente, transitória, sujeita aos cinco sentidos e limitada à personalidade, ao passo que, no Mundo Espírita, não é a personalidade que vive, mas sim a individualidade, com o sentido amplo que abrange o seu passado.

De modo que, como foi dito pelos Espíritos que ditaram ensinos a Allan Kardec, o Mundo Espiritual é um reflexo aperfeiçoado do mundo material. Com efeito, os videntes veem esse reflexo assim como os poetas e pensadores, debruçados à beira-mar veem em suas águas retratados os astros e as estrelas dos céus.

Para os homens na Terra, essa visão não passa de miragem, de reflexo, mas para os habitantes do Mundo Espírita, esse reflexo é tão real, como é real, na Terra, o que o homem vê, observa e executa: as cidades, casas, veículos, etc. (10)

(10) Nossas citações são comparativas; fazemo-las assim como um índio que tivesse ido a uma cidade ou a uma metrópole e, de volta, a descrevesse à sua tribo.

Acresce, porém, que o Mundo Espírita não limita a sua evolução somente ao reflexo, isto é, não contém só o que contém a Terra, porém muito mais, pois é claro que, sendo ele o “Mundo Normal Primitivo", o que existe na Terra é originário desse mundo.

Todas as novidades, todas as novas descobertas, os melhoramentos que o mundo terreno vai tendo, vêm do Mundo Espiritual e são uma cópia grosseira, materializada, do que existe no Mundo Espiritual.

Esse Mundo Espiritual é muito maior do que o mundo material; nem pode haver comparação, senão muito relativa, seja em estrutura, nas belezas da Arte, nas maravilhas da Ciência, na altura da concepção dos seres intelectuais e das coisas, na harmonia, etc.; em tudo ele excede, mas excede muito ao mundo material.

Basta dizer que a vida, ali, é isenta do "ganha pão", do "ganha roupa" e do "ganha cobertura". O trabalho é muito mais suave, independente de suores, fadigas, canseiras, e ainda mesmo esse trabalho, conquanto seja obrigatório, como o é o trabalho na Terra, tem o seu limite para permitir as distrações, o estudo, a formação do intelecto, o progresso do Espírito.

Os que se amam constituem-se em famílias, obedecem às leis sociais de respeito mútuo, muito mais ainda do que na Terra. Entretanto, nesse plano de existência, mormente no momento atual, o bem-estar tem sido terrivelmente perturbado pela ação nefasta de Espíritos maléficos, que vão deixando a Terra atormentados pelas guerras, epidemias, suicídios e catástrofes de várias espécies. (11)

(11) No estado ordinário, sem contar as vitimas de guerras e de cataclismos, morrem diariamente, no mundo, cerca de 100 mil pessoas (1932).

Devemos acrescentar que esse plano de vida está ainda muito distante da felicidade. E quando dizemos que ele é belo e admirável, fazemo-lo sempre em relação ao mundo material, onde predominam paixões de todos os gêneros e o vil interesse dos bens materiais.

Propositalmente com o intuito de trazer revelação sobre a Vida Espiritual, e para que não a julguem milagrosa, abstrata, é que deliberamos publicar este livro.

Finalmente, vamos repetir: a vida Além do Túmulo não se cifra num Inferno candente, num Purgatório de labaredas, num Céu de beatífica e nula contemplação, num mistério, numa abstração; lá existem cidades flutuantes, sonhos de Júlio Verne, grandes avenidas, largas praças, jardins esplêndidos, museus, ruas belíssimas, onde se destacam magníficos edifícios, construções que maravilhariam os maiores arquitetos da Terra, onde cruzam e se multiplicam veículos de que o homem ainda não pode fazer ideia; ascensores que conduzem aos planos superiores, e, para determinados fins, os Espíritos inferiores, que, pela sua materialidade, não se podem elevar ao azul do firmamento.

Enfim, lá a vida é tão intensa, o movimento tão acentuado, que confunde os Espíritos menos avisados, como confuso e boquiaberto ficaria o sertanejo que do mundo nada conhecesse a não ser o recanto em que nasceu e fosse transportado para um dos centros principais do mundo terrestre, por exemplo, Londres ou Paris.

Cairbar Schutel

Fontes: Casa Editora O Clarim

Fontes: César Perri - GEECX - Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier

"E Jacó sonhou: e eis que uma escada era posta na terra, porque o sol era posto; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela; e eis que o Senhor estava em cima dela."

      (Gênesis 28:12,13)

"A Imortalidade da Alma é um princípio claro e lógico em face da nova concepção do Universo. E concludente que, se Deus criou o Universo infinito, semeado de sóis que são centros de sistemas, de astros que devem constituir moradas de outras humanidades, não poderia Ele, sem dúvida, criar e fazer viver um ser que pensa, que quer, que tem inteligência e razão, - para dentro de poucos anos, que não representam um segundo no Relógio da Eternidade, fazê-lo desaparecer na voragem do Nada."

Cairbar Schutel "O Grande Gigante do Espiritismo"

 

     RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Allan Kardec - O Livro dos Espíritos (Obra de Allan Kardec "O Livro dos Espíritos" - Parte Segunda - Da Vida Espírita - Cap. VI)

 

Cairbar Schutel - A Vida no Outro Mundo