ERNESTO BOZZANO

 

ERNESTO BOZZANO - EM DEFESA DA ALMA

 

Alma [latim anima, do grego anemos] - É o ser imaterial, distinto e individual, unido ao corpo que lhe serve de invólucro temporário, isto é, o Espírito em estado de encarnação, e que somente pertence à espécie humana.

 

Tradutor Nilson Garcia

 

 

 

Ernesto Bozzano - In difesa dell'Anima

 

Tipografia Dante, Città della Pieve

 

Roma (1931)

Sinopse da obra:

 

O espírito humano contribui para construir a Grande Síntese Divina, conservando intacta sua própria individualidade psíquica, do mesmo modo que os milhares e milhares de células que, constituindo o organismo humano, contribuem para criá-lo, guardando integralmente sua individualidade própria.

Trechos da obra:

 

O espírito humano contribui para construir a Grande Síntese Divina, conservando intacta sua própria individualidade psíquica, do mesmo modo que milhares e milhares de células que, constituído o organismo humano contribuem para criá-lo, guardando integralmente sua individualidade própria.

 

Na serena e interessante discussão pró ou contra a sobrevivência da alma, que foi desenvolvida pelo professor Charles Richet e o professar Oliver Lodge (Procedings of the S.P.K, 1924), o primeiro deles conclui assim sua argumentação em sentido contrário:

 

O antropomorfismo dos espíritas é de análoga natureza. A verdade que existe sobe o véu misterioso que no-la oculta deve ser muito mais nobre que a velha idéia do que faria consistir na prolongação bem além do túmulo, de nossa miserável intelectualidade. (1)

1 – Advirto que o sublinhado é do professor Richet.

 

Em outro artigo polêmico que apareceu no Journal of the American S.P.R. (1923, pág. 472) Dr. Richet observa também:

 

É uma coisa bastante miserável prolongar para alem do túmulo a pobre existência intelectual que nos anima durante a vida; sequer é atrativo.

 

Por sua parte, o Dr. H. Jaworshi, em Psychica, observa sobre o mesmo tema:

 

O grande erro da estreita hipótese espírita e querer prolongar no Além a ilusão de nossa individualidade, de nosso pequeno eu que, embora necessário para ação, é em si mesmo um peso e uma limitação...(1921, pág. 146).

 

O eu é uma prisão, um peso, uma inferioridade tal que sua prolongação no Além não pode ser senão uma queda total. Em minha opinião, não somente os espíritos não existem, senão que podem existir, porque isso seria querer admitir a persistência de uma sensação ilusória como a da imobilidade da terra.

 

Passemos agora ao Dr. William Mackenzie, que na revista Luce e Ombra (1924, pág. 345) assim se expressa:

 

Mas, para um grande número de “metapsiquistas”, e justamente esta ciência do supranormal o que constitui a “ciência espiritualista” por excelência. Toca grosseira de idéias que materializa e rebaixa ao “Espírito” até fazer dele “os espíritos” e se imagina falar nessas pobres larvas a “razão da vida” e das coisas! Eu me oponho sempre a esta troca ilegítima, mas (tal como já provei de nada serve opor-se aos impulsos afetivos profundos do espírito humano.

 

O “eu” tão importante dos “metapsiquistas” em questão não pode admitir que um edifício cósmico grandioso, ou seja, físico-psíquico-espiritual, possa subsistir sem que justamente este minúsculo (perdão: este importante) “Eu tenha que sobreviver eternamente – somente ele entre todas as partes caducas do eterno universo! – ou talvez todavia ligado ao seu fiel corpinho “astral”. E por isso, só por isso, deteria a verdade “razão” da vida!

 

Nesta profissão de fé do Dr. Mackenzie nota-se uma mescla regularmente retorcida e enigmática de materialismo-espiritualismo-panteísmo, o que faz com que não se possa dizer com certeza no que é que acredita realmente o autor.

 

Em todo caso, condena claramente a existência e a sobrevivência da alma, do mesmo modo que impugnam o professor Richet e Dr. Jaworski, aos quais se une, por outro lado, para denegrir nossa intelectualidade humana, que eles consideram, os três, miserável a um grau tal que não poderia deixar de julgar impossível e absurda sua sobrevivência a morte do corpo.

 

Pois bem, não seria inútil recordar que um grande número de individualidades humanas tem sabido elevar-se as mais sublimes alturas do pensamento. Basta-me-á citar Sócrates, Platão, Pitágoras, Spinoza, Kant, Hegel, Herbert Spencer, nos domínios da filosofia; Dante, Shakespeare, Goethe, Victor Hugo, nas obras literárias Michelangelo, Rafael, Rubens, nas artes representativas: Wagner, Beethoven, Chopin, Rossini, Verdi, Gounod, na arte musical; Galileu, Newton na ciência, na ciência; Bruto Menor, Jorge Washington, Mazzini, entre os grandes caracteres; um São Francisco de Assis, um São Vicente de Paulo, na esfera do amor universal. Parece-me que ante tanta profundidade de pensamento, tal esplendor de gênio, tal grandeza moral é injusto, é absurdo, é quase um delito cobrir de vitupérios a individualidade pensante.

 

Em segundo lugar, os que denigrem a intelectualidade humana parecem esquecer que a evolução biológica da espécie se desenvolve de um modo paralela à sua evolução psíquica, o que determina que ambas as formas de elevação simultânea do indivíduo através dos séculos nos levam necessariamente a prever a chegada de uma época na qual a espécie humana poderia ser considerada como literalmente divinizada em comparação com a humanidade embrionária atual.

 

O mesmo professor Richet a reconheceu em um artigo magistral que publicou nos Annales des Sciences Psychiques (janeiro de 1905), onde escreveu:

 

Não é possível que a espécie humana venha a se extinguir dentro de cem mil anos; e então, o que será da inteligência humana? Quais serão seus recursos? Não podemos fazer uma idéia sequer aproximada. Sem dúvida, esse tempo chegará. E haverá homens! Existirá ciência! E nossa ciência de hoje será tão inferior a essa ciência de então, como os conhecimentos de um chipanzé são inferiores aos de um doutor em ciência. (Pág 21)

 

Nestas condições, é natural que façamos notar o seguinte: posto que se reconhece o esplendido porvir que espera a humanidade pensante, porque não lhe conceder o tempo necessário para alcançar seu objetivo tão glorioso? Por que maldizer em seu embrião o anjo do futuro? É razoável?

 

Isto, do ponto de vista da evolução psíquica na meio terrestre. Se se quiser aplicar a mesma lei evolutiva à sublimação espiritual da individualidade pensante desencarnada será necessário inferir que ela está destinada a alcançar os cumes supremos da perfeição divina.

 

Eu repito, pois, aos nossos opositores: concedei ao espírito humano tempo para evoluir; honrai em lugar de denegrir, a individualidade pensante humana, na qual se revelam em potência as faculdades de um arcanjo. Reconhecei, em suma, que vosso raciocínio, que pretende seja o espírito humano indigno de sobreviver à morte do corpo porque não é um anjo, equivale ao raciocínio de quem negasse o direito à vida ao embrião, com o errôneo pretexto de que não é um homem.

 

Por outro lado, a grandeza e o valor do espírito humano, nas suas relações com o universo podem ser demonstrados pelos métodos científicos de análise comparada. De fato, deve-se reconhecer que assim como o átomo, último elemento da matéria cósmica, constitui, apesar de sua pequenez infinita, a unidade fundamental com a qual foi criado o universo físico, assim também o espírito humano individualizado, átomo da Consciência Cósmica, representa a unidade fundamental com que foi criado o universo espiritual.

 

Pode-se argumentar que a ciência prova que, em última análise, dois únicos elementos existem no universo: força e matéria, que se pode reduzir, por sua vez, a esta fórmula mais profunda ainda: Espírito e Átomo.

 

O espírito humano individualizado teria, pois, no campo do universo psíquico esse valor fundamental que o átomo representa no universo físico. O que é o mesmo afirma que, se é verdade que o espírito humano, igual ao átomo, parece infinitamente insignificante frente a grandeza incomensurável da Síntese Psíquica, que preenche por si mesma o universo, ou seja, Deus, não é menos verdade que constitui o elemento fundamental da Síntese psíquica Infinita; tal como átomo constitui o elemento fundamental da Síntese Física Universal, que é seu complemento.

 

Assim sendo, deveremos afirmar que como o átomo físico contribui para criar o universo da matéria em todas as suas manifestações múltiplas, combinando-se apenas em agregado atômico quantitativamente distintos, sem deixar de conservar intacta sua individualidade, da mesma forma o átomo espiritual, ou seja, o espírito humano contribui para constituir as inúmeras hierarquias compreendidas na Grande Síntese Psíquica Infinita, pólo simples fato de agregar-se a outras unidades espirituais que tenham afinidade com ele, sem deixar de conservar intacta sua individualidade psíquica.

 

Se quiséssemos recorrer a uma comparação poderíamos dizer que o espírito humano concorre para constituir a Grande Síntese Divina, conservando intacta sua própria individualidade psíquica, do mesmo modo que as milhares e milhares de células que constituem o organismo humano concorrem para criá-lo, guardando sempre integralmente sua individualidade própria.

 

Já o disse em outro livro: tudo converge para demonstrar que o Microcosmo-Homem, síntese suprema polizóico-polipsíquica no domínio do Relativismo correspondente ao Macrocosmo-Deus, síntese transcendental polipsíquica e Uma, eterna, incorruptível, infinita, no domínio do absoluto.

 

Ernesto Bozzano

A proposição da Ciência Espírita é descortinar a realidade do espírito imortal:

 

A Ciência, propriamente dita, é uma conquista recente; não ultrapassa a três séculos, embora seus primeiros ensaios tenham começado na Grécia dos áureos séculos VI, V, IV a.C. Temo-la representada por Arquimedes, em cujas pesquisas deram base para a mecânica, por Pitágoras de Samos, por Tales de Mileto, por Euclides de Alexandria, no desenvolvimento da matemática e da estruturação numérica.

 

Um milênio após essas apoteóticas realizações gregas, ocorreu, na Europa, a desagregação do Império romano, no século V, e a liderança cristã surgiu como elo de agregação dos “bárbaros invasores” e se transformou em Igreja soberana absoluta dos destinos “espirituais” no Ocidente.

 

No século XIII, Tomás de Aquino se destacou, propondo a síntese do cristianismo vigente com a visão aristotélica do mundo. Em suas duas Summae, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de então.

 

No século XIV, a Igreja romana, sob os guantes tomasistas, entronizou uma teologia (fundada na revelação) e uma filosofia (baseada no exercício da razão humana) que se fundiram numa síntese definitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo ao Criador. A tese de Aquino afirmava que não podia haver contradição entre fé e razão e estabeleceu o pensamento filosófico-teológico manifesto na truculenta filosofia do “Roma locuta causa finita”.

 

A partir dos séculos XV e XVI, o homem passa a ser o principal personagem (antropocentrismo). Os pensadores criticaram e questionaram a autoridade dessa autoritária Igreja romana. Nessa conjuntura a apropriação do conhecimento partia da realidade observada pela experimentação, pela constatação, e, por fim, pela teoria, decorrendo uma ligação entre ciência e técnica.

 

No século XVII, a primeira grande teoria de que se tem notícia na moderna ciência versou sobre a gravitação universal elaborada por Newton, desmembrada das leis dos movimentos planetários de Kepler e na Lei de Galileu sobre a queda dos corpos.

 

No século XIX Marx Plank propôs a teoria do Quantum. No século XX, Albert Einstein resignificou a teoria da relatividade e outros pressupostos das teses newtonianas sobre a gravitação universal, chegando a conclusões inusitadas na abordagem sobre as realidades do micro ou do macrocosmo, sobretudo no que reporta a tempo e espaço na dimensão material. Até então, a física tradicional era considerada a chave das respostas da vida no mundo palpável, estribada no determinismo mecanicista.

 

Todavia, na década de 1920, as pesquisas de Brooglie, no universo da física quântica, redirecionaram o pensamento científico na formulação heisenberguiana do “princípio da indeterminação ou da incerteza” e com ele irrompeu-se um “irracionalismo” na ciência redimensionando a distância do homem das realidades naturais da vida.

 

Em meio a essas trajetórias históricas, surge, no cenário terrestre, no século XIX, a personalidade luminosa de Allan Kardec, que, inspirado pelos Benfeitores do Além, sentenciou: Fé verdadeira é a que enfrenta frente a frente a razão em qualquer época da humanidade , esclarecendo os enigmas que desafiavam as inteligências daqueles mesmos que confiavam nos determinismos tecnicistas do nec plus ultra acadêmico.

 

A proposição da Ciência Espírita é descortinar a realidade do Espírito imortal, fundamentada em realces científicos acerca dos fenômenos mediúnicos coletados na metodologia doutrinária. A proficuidade desse saber está na razão direta do seu bom emprego por parte daqueles que dele tomam ciência.

 

Desse modo, é preciso que nos apropriemos de tal forma do saber contidos nas obras básicas da Doutrina dos Espíritos que, por via de consequência, nos façamos senhores de nós mesmos, ou seja, emancipados intelectualmente da cegueira espiritual do materialismo, tanto quanto das superstições.

 

O mestre de Lyon ainda afirmou em outras palavras que o Espiritismo independe de qualquer crença científica ou religiosa e não propõe que fora do Espiritismo não há salvação; tanto quanto não pretende explicar toda verdade, razão pela qual não propôs – “fora da verdade não há salvação”. Os preceitos kardecianos consubstanciam-se no manancial mais expressivo das verdades eternas. A missão da Doutrina Espírita perpassa o processo de reerguimento do edifício desmoronado da crença cristã.

Jorge Hessen - O Combativo Escritor Espírita

Luz na Mente - Revista On line de Artigos Espíritas

 

Fontes: Revista Espírita Bezerra de Menezes (Ernesto Bozzano - Em defesa da alma) (Audiobook Grátis)

 

Fontes: GEECX - Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier

 

Fontes: CSI Espiritismo (Documentos Históricos do Espiritismo)

 

"Demonstrando a existência e a imortalidade da alma, o Espiritismo reaviva a fé no futuro, levanta os ânimos abatidos e faz suportar com resignação as vicissitudes da vida"

 

Allan Kardec "O Codificador da Doutrina Espírita"

 

“Nascer, morrer, renascer, ainda, e progredir sempre, tal é a lei”

 

Allan Kardec "O Codificador da Doutrina Espírita"

 

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD
 

 

Allan Kardec -  O Livro dos Espíritos (Obra de Allan Kardec - "O Livro dos Espíritos" - Parte III - Cap. VIII. A lei do Progresso - Marcha do Progresso)

 

 

Ernesto Bozzano - Em Defesa da Alma PDF