ERNESTO BOZZANO

 

ERNESTO BOZZANO - O OBJETO DA VIDA

 

 

 

 

Ernesto Bozzano - Perché la vita

 

Tipografia Dante, Città della Pieve

 

Roma (1925)

Trechos da obra:

 

Parece-me que o que acabamos de expor responde de maneira filosoficamente adequada à grande pergunta:

 

Qual é o objeto da vida? Fica por responder, do ponto de vista psicofísico, esta outra pergunta, secundária, mas importante, do dor quê do cérebro. Ou seja, por que a Inteligência, chispa divina, necessita, para individualizar-se, de um instrumento carnal e perecível?

 

Para resolver este problema é preciso perceber que se se pode admitir que uma alma individualizada contém uma chispa de Inteligência divina, não é menos certo que essa chispa divina não consegue individualizar-se senão passando do reino do "Absoluto" ao do "Relativo", do domínio do "Noúmeno" ao do "Fenômeno".

 

Do que resulta que para por-se em relação com as manifestações do universo fenomenal, a "chispa divina individualizada" necessita de um órgão transformador apropriado: o cérebro.

 

Em outras palavras, a verdadeira função do cérebro com relação ao espírito consistiria em colocá-lo em condições de perceber, em ciclos alternados de vidas sucessivas, frações infinitesimais da Realidade Incognoscível, de conformidade com um sistema de aparências "fenomenais", que se manifestam com modalidades sempre diferentes em cada mundo habitado do universo inteiro: aparências fenomenais no meio das quais o espírito esta destinado a existir e a exercitar-se com vistas à sua elevação ulterior no conhecimento da Realidade Absoluta considerada através das modalidades infinitas nas quais se transformam ao manifestar-se no Relativo.

 

Assim se compreende a necessidade que tem o espírito de possuir um cérebro que representa o papel de órgão transformador da Realidade Absoluta em formas de manifestações Relativas e Fenomenais: função de infinita grandeza a que são destinados os enumeráveis mundos que povoam o universo.

 

Ernesto Bozzano

O que penso da influência do Espiritismo na evolução moral da Humanidade:

 

Quanto ao vosso segundo quesito: “Que pensais da influência do Espiritismo na evolução moral da humanidade?”, respondo que o movimento espiritista chega na sua hora; o mesmo é dizer que chega quando a posição do materialismo parecia fortíssima e a sua desoladora filosofia se apossara, inexoravelmente, de todas as inteligências mais elevadas e já transbordava, ameaçadora, entre as turbas, espalhando por toda parte os germens da dissolução moral e social, porque a força das indagações biológicas, fisiológicas, histológicas e psicológicas convergiam todas para demonstrar que o pensamento era função do cérebro.

 

E eis que surge no horizonte entenebrecido do saber humano a aurora radiosa de uma nova ciência – a Ciência da Alma –, pela qual se demonstra, tendo por fundamento os fatos, que o suposto axioma do materialismo “o pensamento é uma função do cérebro” é fundado em meras aparências, enquanto a análise rigorosa dos fenômenos psíquicos conscientes, subconscientes, normais e supranormais demonstra precisamente o contrário, isto é, que o pensamento é uma força organizadora; que o cérebro é o produto de um dinamismo psíquico de ordem transcendental, originado no espírito organizador do corpo e sobrevivente à morte dele.

 

Em outras palavras – com respeito também ao grande problema que se refere às relações existentes entre “o pensamento e o órgão cerebral” –, demonstra-se, mais uma vez, a eloqüente e impressionante verdade segundo a qual o testemunho dos sentidos e a aparência das coisas são a tal ponto falazes, que para estarmos com a verdade, basta pensarmos o contrário daquilo que julgamos ver e reconhecer. E as provas disso abundam. Eis aqui algumas, a título de exemplo:

 

– Vemos o Sol nascer e subir todos os dias, enquanto a Terra permanece imóvel: erro; a verdade é exatamente o contrário.

 

– Não podemos também duvidar de que o Sol surge constantemente acima de nós: erro; em vários meses do ano o Sol nasce abaixo de nós.

 

– Deleita o nosso espírito um harmonioso concerto: erro; não há sons na natureza; há apenas no ar vibrações de uma certa amplitude e velocidade, que são silenciosas.

 

– O arco-íris brilha no céu com a sua bela gama de cores vistosas: erro; cores não existem na natureza; o que existe são apenas ondulações do éter, que põem em vibração o nervo óptico, o qual, por sua vez, cria para nós a ilusão das cores.

 

– Temos também a certeza de que uma luz difusa contorna o nosso mundo: erro; as trevas envolvem o Universo, mas as ondulações do éter, fazendo vibrar o nervo óptico, produzem a aparência enganadora de uma luz difusa, inexistente.

 

– Sofremos com o calor no estio e com o frio no inverno: erro; não existe nem calor nem frio, mas só vibrações especiais do éter que produzem essa espécie de sensações sobre o nosso sistema nervoso.

 

– Palpamos um corpo sólido qualquer e estamos bem certos de que é sólido, solidíssimo: erro; esse corpo é formado de moléculas que não se tocam e que estão em estado de perpétua vibração.

 

– Queimamo-nos se aproximarmos a mão da chama de uma vela e sentimos uma dor viva localizada no ponto exato em que nos queimamos: erro; a sensação de calor localiza-se é no cérebro.

 

É esta uma breve enumeração de erros a que nos conduz o testemunho dos sentidos.

 

E agora tiremos as conseqüências experimentais para base rigorosa de quanto as investigações metapsíquicas demonstraram sobre as relações existentes entre “cérebro e pensamento”. Os fisiologistas sustentam que o pensamento é função do cérebro: erro; também esta é uma aparência enganadora. Para estar com a verdade deve-se pensar justamente o contrário: Mens agitat molem!

 

Convém notar que o Barão Carl du Prel chegou às mesmas conclusões, investigando o fenômeno dos “estigmas”, pelo qual se demonstra que o pensamento é uma “força organizadora”. Ele conclui assim:

 

“O materialismo afirma: – O espírito é o produto do corpo, o pensamento é uma secreção do cérebro. Invertamos a proposição e estaremos com a verdade.”

 

Estabelecido isto, e volvendo a nossa atenção às conseqüências que esta grande verdade, promulgada pelas investigações metapsíquicas, tem na vida social, deveremos concluir que, à medida que o conhecimento sobre a verdadeira natureza da individualidade pensante se difunde entre os povos (o que há de suceder enquanto os fatos forem fatos), produzir-se-á, fatalmente, uma lenta e profunda transformação na evolução espiritual da humanidade; transformação que levará a uma definitiva e radical reforma das nossas concepções religiosas, filosóficas, morais, sociais e individuais.

 

Isto significa que chegará o dia em que já não haverá sobre a Terra “religiões”, mas sim “a Religião”, já não haverá “filosofias”, mas sim “a Filosofia”; já não haverá contestações sobre a existência de uma moral na vida, mas conhecer-se-ão as bases da “verdadeira moral”; já não haverá nações antagonistas no mundo, mas ter-se-á estabelecido a unidade harmônica da família humana; já não haverá partidos, seitas, fermentos utopistas sociais, dilacerantes da existência dos povos, mas reinará, soberana, uma lei espiritual respeitada e praticada, espontaneamente, por todos – “fraternidade, solidariedade e amor entre os peregrinos de um dia, no mundo dos vivos.”

 

Reconheço que o advento de um dia assim ainda está distante nos séculos futuros, visto que as grandes transformações sociais se realizam por lenta evolução, e não por revoluções. Como quer que seja, é preciso ter presente que, no novo movimento metapsíquico-espiritista, deve renascer o “fermento vital” que salvará a civilização hodierna da decadência que a ameaça, orientando-a, seguramente, para o glorioso futuro que o destino lhe reserva.

 

Ernesto Bozzano
(Extraído da Revista do Espiritismo, Ano II, nº 6, nov./dez. de 1928, Lisboa.)

 

Fontes: Allan Kardec On Line (Biblioteca Espírita Virtual)

 

Fontes: Projeto Allan Kardec (Coleção de Manuscritos de Allan Kardec)  

 

"Eugênio Nus conclui observando que todo pensador dotado de sentido filosófico recusará sempre admitir a possibilidade teórica da existência de um universo sem finalidade."

 

Eugênio Nus "O Pesquisador Espírita"

 

 

"A cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo veio para rasgá-lo de alto a baixo; mas, enquanto espera, conseguisse ele unicamente corrigir num homem um único defeito que fosse e já o haveria ajudado a dar um passo."

 

 Allan Kardec "Livro dos Espíritos, item 800"

 

 

"Ora, assim como a Física nos ensina a causa de certos fenômenos e a Medicina a de certas doenças, o estudo da ciência espírita nos ensina a dos fenômenos devidos às influências ocultas do mundo invisível e nos explica o que, sem isto, nos parecia inexplicável."

 

Allan Kardec "Revista Espírita, janeiro de 1863 - Estudos sobre os possessos de Morzine"

 

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

 

Allan Kardec - A Gênese (Obra de Allan Kardec - "A Gênese" - Deus - Cap. II)

 

    

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