JOSÉ PASSINI

Apontamentos Espíritas

PREFÁCIO da obra

 Jorge Hessen

 

Revisão da obra

Jorge Hessen e Irmãos W.

 

 

São Paulo/Capital

Brasil (2016)

Prefácio da obra:

As reflexões a seguir nos induzem a avaliar sobre a imperiosa necessidade de praticarmos um Espiritismo com Jesus e Kardec sem os ranços e sutis convites para absorção das ideias contidas nos inebriantes livros supostamente espíritas. É um convite ao grande esforço no sentido de que assimilemos criteriosamente os legítimos princípios apontados por Kardec, sem nos conceder ao gosto dos contrastes ideológicos contidos nas literaturas aventureiras onde intenta-se inventar um espiritismo sem Kardec. O trabalho intelectual contido nas páginas a seguir, demonstra que o autor alimenta uma visão otimista, diante da crescente conscientização da necessidade de estudo sério das Obras Codificadas por Allan Kardec.

Sob às tonalidades da equipagem intelectual do autor, identificamos que há trágica irrupção de romances e de livros contendo revelações mirabolantes e até atemorizadoras, produzidas por Espíritos galhofeiros e pseudo-sabios, que cunham um clima de sensacionalismo, muito contrário à sobriedade e à segurança da Terceira Revelação. Sobretudo sobre a invasão dessas estanhas obras “psicografadas” os espíritas estamos vivendo momentos delicadíssimo, razão pelo qual urge vivenciarmos a sábia e oportuna advertência de Jesus: “Vigiai e orai”.

Passini nos chama a atenção a respeito do ensaio de sacralização do conteúdo das obras de Kardec, no sentido de colocar-se acima da razão. Percebe que urge a unificação e união ente os espiritas e tais desideratos só poderão ser plenamente conseguidos mediante um congraçamento vigoroso e consciente, que só se torna possível quando há um esforço constante da vivência efetiva dos princípios do Evangelho.

Assegura que o dirigente espírita deve ter profunda noção da responsabilidade assumida e deve ser aquela pessoa que, ao lado de uma fé inabalável, busca na prece a necessária orientação para o desempenho de suas atividades. Deve ser voltado ao estudo e à reflexão, pois para o leigo, ele representa o próprio Espiritismo. Deve ter muito zelo na supervisão dos trabalhos mediúnicos, para que não se transformem num “correio do Além”, mas que sejam direcionados ao caridoso trabalho de encaminhamento de Espíritos sofredores e trabalhos de desobsessão.

São Paulo, 01 de agosto de 2016
Jorge Hessen

Trechos da obra:

COBRANÇA

“... de graça recebestes, de graça daí. Jesus (Mt, 10: 8)

Vez por outra, discute-se no meio espírita a questão do pagamento de taxa de inscrição para participação em eventos doutrinários. É tema delicado, que envolve muitas situações particulares e, às vezes, se choca frontalmente com opiniões até apaixonadas de alguns irmãos. Por isso, merece a atenção e a preocupação daqueles que se propõem ao trabalho espírita, mantendo as atividades sob a sua responsabilidade dentro dos parâmetros saudáveis que não são facilmente verbalizáveis numa lista de “permitido/proibido”, mas intuitivamente sentidos por todo espírita que busca agir com equilíbrio e bom-senso.

É imprescindível tenhamos cuidado constante, muita vigilância e apoio na oração, na busca de diretrizes do Alto, a fim de não levarmos o Movimento Espírita a incidir nos mes-mos desvios sofridos pelo Movimento Cristão que, vagarosa e imperceptivelmente se tornou uma religião institucionalizada, hierarquizada, na qual o trato com valores monetários passou, da contribuição espontânea para assistência aos mais necessitados, à fixação de taxas disfarçadas sob vários nomes, encaminhadas para a manutenção do profissionalismo, construção de prédios e acumulação de riquezas.

Necessário se faz que nós, que abraçamos a Doutrina Espírita – e que temos a certeza inabalável da sua missão de reviver o Cristianismo na sua pureza, simplicidade e pujança originais – avaliemos as ações que estão sendo levadas a efeito na nossa esfera de decisão, com vistas aos reais objetivos do Espiritismo.

Entre os extremos de dar tudo de graça – inclusive livros – e cobrar entrada ou taxa de inscrição para palestras, simpósios, seminários, há um meio-termo ideal, ditado pelo bom-senso.

Mesmo no tocante ao livro, devemos tomar cuidado para que não se estabeleça uma comercialização exacerbada, em detrimento da qualidade das obras, como, lamentavelmente, já se vê.

O produto da venda do livro espírita deve objetivar o ressarcimento dos custos, ou a manutenção de atividade social. Infelizmente, não é o que se constata em muitos casos, diante do alto preço de obras – algumas de qualidade duvidosa, sob o aspecto doutrinário – que têm sido lançadas no mercado ultimamente, muitas das quais vendidas em livrarias ou centros espíritas, cujos dirigentes, muitas vezes, tentados pela obtenção de recursos para melhoria de instalações para ou trabalho assistencial, deixam de examiná-las criteriosamente.

Não estamos defendendo, com isso, o estabelecimento de um “index”. Só nos move a lembrança de que uma instituição espírita ao divulgar uma obra está – para a maioria das pessoas – dando-lhe aval doutrinário.

O ideal seria que as editoras fossem sociedades civis, dirigidas por conselhos não-remunerados, como acontece nos centros e outras entidades espíritas. Conforme as conveniências, os livros poderiam ser confeccionados em empresas especializadas e as entidades espíritas promoveriam a sua venda a preços capazes de apenas manter as editoras funcionando. Somente os profissionais dessas sociedades seriam assalariados para a prestação de serviços específicos, como existem em muitas entidades espíritas.

Quanto ao pagamento de taxa de inscrição, há pessoas que argumentam não terem as casas espíritas fundos suficientes para cobrir despesas com viagem de expositores, aluguel de auditório, material de trabalho. Daí, argumentam, a necessidade da cobrança de taxa de inscrição.

Será que não há outros meios de se resolver o problema? Sempre chamamos a atenção de companheiros de ideal, dirigentes de casas espíritas, para o fato de necessitarmos de colaboradores financeiros, a fim conseguir recursos para o pagamento de despesas, como água, luz, telefone, material de limpeza, conservação do imóvel, etc. Há grupos espíritas que têm excesso de escrúpulos no sentido de pedir ao público em geral, levando o ônus financeiro a alguns poucos. Neste particular, lembramos Emmanuel, que aconselhou: “As obras espíritas devem ser mantidas com o pouco de muitos e não o muito de poucos.”

Concordamos que determinados eventos demandam grande movimentação financeira, entretanto cremos que há outros meios, que não sejam o de pura cobrança de taxa de inscrição ou ingresso. São procedimentos mais trabalhosos, mas parece-nos serem mais féis à maneira espírita de agir.

Por exemplo: planeja-se um seminário para algumas centenas de pessoas. Sabemos que há custos: material para estudo, pastas, e, às vezes, aluguel de auditório, serviço de som, etc. Nesse caso, por que não fazer um levantamento prévio dos custos e solicitar a contribuição sigilosa e espontânea daquele que se inscreve, alertando que, se todos pudessem pagar, o custo “per capita” seria tal, mas como nem todos dispõem de recursos, pede-se um pouco mais daqueles que podem doar.

Não se estaria assim evitando uma seleção de participantes com base no poder monetário? Como ficaria a situação de uma família que, integrada no movimento espírita, não tivesse recursos para pagamento da taxa?

Alguém, num juízo apressado, poderá dizer que não dará certo, vez que as pessoas não estão preparadas para uma contribuição espontânea. Nesse caso, achamos que seria necessário inicialmente um longo trabalho educativo dessa comunidade, a fim de sensibilizá-la para o exercício da fraternidade cristã, o que significaria uma boa base para o posterior aproveitamento de seminários mais teóricos.

Se medidas como essas não derem certo, é porque aquela comunidade espírita ainda não está suficientemente madura para empreendimentos mais amplos. Carece-lhe base. Nesse caso, seria preferível a não-realização do evento. O prejuízo para a divulgação da Doutrina Espírita seria menor.

Lembremo-nos de que Paulo divulgava o Cristianismo viajando a pé, trabalhando em teares alugados, hospedando-se em casa de irmãos, falando diante de pequenos grupos. A divulgação do Cristianismo foi feita num trabalho de “contaminação” quase que de pessoa para pessoa. Não devemos perder isso de vista. Não desejemos trabalhos de “massificação” no Espiritismo. Sua maior propaganda é feita pelo testemunho de vivência pessoal dos espíritas. Lembremo-nos de que, durante mais de um século, o Espiritismo divulgou-se sem cobrança de inscrições e de ingressos e sem essa comercialização desvairada de livros... E divulgou-se muito, de maneira segura. E quando nos assalte a dúvida, é só olharmos para os imensos patrimônios materiais que os nossos predecessores nos deixaram e imaginarmos como eles conseguiram isso tudo.

José Passini
Juiz de Fora – MG
Passinijose@yahoo.com.br
Blogspot - Jose Passini - Crítica Literária Espírita

Trechos da obra:

JESUS, O EDUCADOR DE ALMAS

Liberta das interpretações tendenciosas de certos teólogos, a Humanidade começa, vagarosamente, a entender, com mais amplitude e profundidade, o que significou, para o mundo, a vinda de Jesus, o Mestre mais perfeito que a Terra conheceu, aquele que baseou seus ensinamentos na pedagogia do exemplo.

Não há um só ensinamento dele que tenha ficado sem o seu testemunho pessoal. Jesus foi simples e minucioso no que ensinou verbalmente, e farto na exemplificação. Por isso é que se deve tomá-lo como o Mestre e Guia a ser seguido, e não como um simples intermediador entre o homem e Deus. Não há nenhuma base no Novo Testamento para se afirmar que o Mestre teria selado uma pretensa aliança com o Criador, através do oferecimento do seu sacrifício para a salvação da Humanidade, conforme interpretações equivocadas de teólogos.

O próprio conceito de religião foi modificado a partir dos seus ensinamentos. Com Jesus, aprende-se que religião não é algo mágico a ser levado a efeito no interior dos templos. Não mais aquela idéia de que religião é prática mística, contemplativa, ritualística, cheia de oferendas e fórmulas repetitivas vivenciadas no interior das assim chamadas “Casas de Deus”. Religião, conforme seus ensinamentos e, principalmente seus exemplos, passou a ser, para aquele que lhe entendeu as lições, um novo modo de viver, de se relacionar com o próximo, em todos os ambientes, em todos os momentos.

Ensinando que Deus está presente em todo o universo, alargou os limites dos templos, ao conceituar o universo como um santuário imenso: “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jô, 14: 2).

Jesus não foi um Mestre de gestos largos, de atitudes místicas e contemplativas, que vivesse confinado em ambiente religioso, ou em local distante, isolado do convívio diário, longe da vida prática. Pelo contrário, o Mestre sempre conviveu com as pessoas, e, para prevenir qualquer interpretação equivocada, deixou ensinamento lapidar, registrado por dois evangelistas: “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos (...).” (Mt, 10: 16) e “Ide; eis que vos mando como cordeiros ao meio de lobos.” (Luc, 10: 3). Nem era um profissional religioso: vivia como simples carpinteiro, que causava espanto a alguns, diante do que falava e fazia: “... donde lhe vêm estas coisas?

E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas, e de Simão? e não estão conosco aqui suas irmãs? E escandalizavam-se nele.” (Mc, 6: 2 e 3).

Jesus foi um educador de almas, que sempre enfatizou a necessidade do empenho da criatura no sentido de educar-se, de progredir, conforme ensinou no Sermão do Monte: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens (...).” (Mt, 5: 16). Toda a mensagem religiosa do Mestre fundamenta-se no esforço da criatura no sentido de revelar essa herança divina que todos trazemos. Nada de graças, além da graça da vida. Nada de privilégios: “(...) e então dará a cada um segundo as suas obras.” (Mt, 16: 27).

Trouxe uma nova dimensão ao entendimento humano, através de uma mensagem que é um verdadeiro desafio, no sentido de seus discípulos transcenderem os limites da lei antiga, que preconizava “olho por olho, dente por dente”: “(...) se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” (Mt, 5: 20). “Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; (...).” (Mt, 5: 42 e 43).

Jesus não desejou discípulos passivos, encantados, deslumbrados. Pelo contrário, sempre buscou tocar o sentimento, juntamente com o apelo para que a criatura raciocinasse, a fim de saber, de compreender porque deveria agir desse ou daquele modo. O Sermão do Monte, que para muitos é apenas um hino ao sentimento, é, também, uma forte mensagem à inteligência, ao raciocínio: “E qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus dará bens aos que lhos pedirem?” (Mt, 7: 9 a 11).

Jesus levou o entendimento, a compreensão, o uso do raciocínio, ao campo da fé. A fé ensinada por Jesus transcende os limites da emoção, do sentimento, por associar-se a um componente essencial: a razão. Inquestionavelmente, a fé raciocinada, ensinada pelo Espiritismo, começou com Jesus. Kardec, como profundo conhecedor dos Evangelhos – livre dos prejuízos causados pelos sucessivos exegetas, ao longo dos tempos – soube ver a objetividade e a racionalidade dos ensinamentos do Mestre.

Soube ver que Suas lições têm sempre dois direcionamentos: ao sentimento e à razão: “Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?” (Mt, 6: 26). Ao ensinar a criatura a não criar fantasias sobre a fé, mostra a linha divisória entre aquilo que deve ser objeto da preocupação do homem, e o que deve ser entregue a Deus, perguntando: “E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura?” (Mt, 6: 27). Esse o motivo de se ler na folha de rosto de “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”

A educação religiosa que Jesus propicia ao homem leva-o a conscientizar-se de que não será através de orações repetidas que estaremos agradando a Deus: “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos.” (Mt, 6: 7). Nem através de oferendas ou bajulações: “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta.” (Mt, 5: 23 e 24).

No Seu trabalho educativo do Espírito humano, Jesus mostrou a importância do bom relacionamento com o próximo como caminho para Deus, conforme bem entendeu o Apóstolo João, que registrou: “Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (I Jo, 4: 20).

Significativo é o diálogo entre o doutor da lei e Jesus, conforme relatado no Evangelho de Lucas (10: 25 a 37): “Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Ali se vê um homem, conhecedor profundo das leis religiosas, a ponto de citá-las de cor, logo que inquirido por Jesus: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.” (Deu, 6:5 e Lev. 19: 18). Efetivamente, os judeus sabiam de cor esses dois mandamentos maiores.

Entretanto, quando Jesus lhe disse: “Faze isso e viverás”, aquele homem não compreendeu, porque para ele não havia conexão entre o preceito religioso, que lhe enfeitava o campo intelectual, com a vida prática, a ponto de perguntar: “Quem é o meu próximo?” Para aquele homem “próximo” era uma palavra mágica, sagrada, usada nos momentos religiosos, no templo, sem nenhum significado real na chamada vida profana.

Daí o seu espanto. Estranhou que Jesus lhe recomendasse a aplicação do preceito religioso à vida comum. Sabendo da distância que havia entre os preceitos religiosos e a vida em sociedade, é que o Mestre contou-lhe a Parábola do Bom Samaritano, mostrando que aquele homem – desprezado pelos judeus – fez sua oferenda a Deus, não diante de um altar, mas através do mais legítimo representante de Deus: o próximo!

Ele próprio deu-se como exemplo no serviço a Deus na pessoa do próximo. Curava sempre, impondo as mãos sobre os doentes, embora não precisasse fazê-lo para curar (vide cura do servo do centurião: Mt, 8: 5 a 13), mas o fez para ensinar, recomendando que se fizesse o mesmo: “... e porão as mãos sobre os enfermos e os curarão.” (Mc, 16: 18). Deixou bem claro, também, a gratuidade da prática religiosa: “... de graça recebestes, de graça dai.” (Mt, 10: 8).

Jesus concedeu uma verdadeira carta de alforria à Humanidade, em relação à intermediação sacerdotal, ao informar a criatura humana de que ela tem o direito legítimo e inalienável de se comunicar com seu Criador, diretamente, em qualquer lugar onde se encontre, dando como exemplo o lugar onde se dorme: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê secretamente, te recompensará.” (Mt, 6: 6).

Ao se meditar sobre esse ensinamento, percebe-se o quanto sua mensagem foi deturpada pelos teólogos, que ensinam terem certas pessoas determinadas prerrogativas de serem ouvidas por Deus, como se fossem advogados a levarem agradecimentos ou a reivindicarem determinadas benesses, numa prática desenvolvida em meio a rituais completamente estranhos aos ensinamentos e aos exemplos de Jesus, com a agravante de serem remunerados.

Jesus libertou a criatura humana também da necessidade do comparecimento ao templo, a fim de ali encontrar-se com Deus. O Mestre jamais convidou alguém a orar num templo. Pelo contrário, quando a Samaritana manifestou-se no sentido de adorar a Deus no Templo de Jerusalém, o Mestre desautorizou tal atitude, dizendo-lhe: "Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Deus é espírito e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade." (Jo, 4: 21 e 24). Para Jesus não havia santuários, lugares especiais. Seus ensinamentos, suas curas, suas orações sempre foram levados a efeito onde quer que ele se encontrasse.

Vê-se, assim, que Jesus trouxe à Terra uma mensagem religiosa sem precedentes: simples, sem ser superficial; profunda, sem ser complicada. Mas, uma concepção religiosa libertadora não agrada àqueles que desejam exercer o poder religioso. Estes procuram conservar a religião como algo mágico, místico, extático, complexo a ponto de a ela só terem acesso os doutos e os sábios, pessoas pretensamente especiais, que estariam mais habilitadas a intermediarem as mensagens das criaturas ao Criador. Essa, a visão dos teólogos que foram introduzindo interpretações pessoais e tendenciosas à Mensagem Cristã, esquecidos de que ele fora crucificado exatamente pela coragem de contrapor-se ao poderio sacerdotal, àquela verdadeira ditadura religiosa.

Essas verdades religiosas simples, que estiveram ao alcance de humildes pescadores, de viúvas e de deserdados, foram, com o passar do tempo, relegadas a segundo plano, tendo sido postos em primeiro lugar o ritual, a solenidade, o manuseio de objetos de culto, a vela, o vinho, a fumaça, os cantochãos, as roupas especiais e todo um conjunto imenso de práticas exteriores alienantes, poucas buscadas no judaísmo e muitas no paganismo romano, que distanciavam o homem cada vez mais do esforço de auto-aprimoramento preconizado por Jesus.

Assim, vagarosamente, o eixo da mensagem cristã foi-se desviando, saindo da área do estudo, da meditação e do serviço à luz da oração consciente, passando às práticas exteriores. Os pronunciamentos libertadores de Jesus não foram objeto de estudo pelos teólogos, que criaram as liturgias, os sacramentos, e, pior ainda, a hedionda teoria das penas eternas, desfazendo a consoladora imagem do Deus Misericordioso, tão bem delineada pelo Mestre.

A mensagem cristã foi apequenada, podada, enxertada por aqueles que dela se apossaram, ao construírem uma religião atemorizadora e salvacionista, com base em atitudes místicas e na crença de que seria o sangue de Jesus o remissor dos pecados da Humanidade. Foi enfatizada a adoração extática a Jesus-morto, em detrimento do esforço em seguir Jesus-vivo.

O Mestre veio trazer a certeza de que Deus é Pai, é Amor, é Misericórdia, contrapondo-O à figura apresentada no Velho Testamento, que mostrava o Criador como alguém iracundo, vingativo, capaz de ter preferências por determinados povos e abominação por outros. Infelizmente, o Pai Misericordioso, tantas vezes demonstrado por Jesus, foi negado pelos teólogos, ao criarem o Inferno de penas eternas. Em verdade, Jesus falou de sofrimento após a morte, mas nunca com a possibilidade de ser eterno. Pelo contrário, disse: “Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.” (Mt, 5: 26)

Mas, o Mestre, conhecedor da fragilidade humana, sabia que, de alguma forma, isso iria acontecer, por isso, prometeu o Consolador: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” (Jo, 14: 26)

Cumprindo sua promessa, enviou-nos o Espiritismo, que não é mais uma religião cristã, mas o próprio Cristianismo Primitivo, que ressurge na sua pureza, pujança e objetividade originais, destacando-se das demais religiões, pelo menos das do Ocidente, pelo seu aspecto altamente educativo.

Bibliografia:

A Bíblia Sagrada - Trad. João Ferreira d’ Almeida
Ed. Sociedade Bíblica Britannica e Estrangeira - 1937

José Passini - Juiz de Fora - MG
jose.passini@gmail.com
Blog - Jose Passini - Crítica Literária Espírita

Fontes: Jose Passini - Crítica Literária Espírita

Fontes: EVOC - Editora Virtual O Consolador (Publicação da obra José Passini Apontamentos Espíritas)

"Quando a ciência demonstrar que o espiritismo estiver errado em um ponto, ele se modificará neste ponto."

Allan Kardec "O Codificador da Doutrina Espírita"

"Demonstrando a existência e a imortalidade da alma, o Espiritismo reaviva a fé no futuro, levanta os ânimos abatidos e faz suportar com resignação as vicissitudes da vida."

Allan Kardec "O Codificador da Doutrina Espírita"

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

Entrevista com José Passini ao Site Autores Espíritas Clássicos

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