OS PENSAMENTOS DE CÁRITA
E AS REFLEXÕES DE MARIE

Expressas por
ADOLPHE Laurent de Faget
Médium

 

É preciso limpar novamente o terreno da fé;
é preciso tomar a razão por arado
e semear a terra com as verdades.
Cárita
 

Tudo é alma.
Marie

Les Pensées de Carita et les Réflexions de Marie

Librairie des Sciences Psychologiques

5, rue des Petits-Champs

France, Paris – 1888


OBRA RARA TRADUZIDA

 

Tradução: Fabiana Rangel

Prefácio: Jorge Leite de Oliveira

Compilação de dados: Adair Ribeiro e Carlos Seth

Revisão e Formatação: Ery Lopes e Irmãos W.

Versão digitalizada
© 2021

Distribuição gratuita:

 

Allan Kardec.Online

CSI do Espiritismo

Portal Luz Espírita

Autores Espíritas Clássicos

Jorge, O Sonhador

prefácio:

Esta obra foi publicada em Paris, França, no ano de 1888, pelo poeta e médium espírita Adolphe Laurent de Faget, fiel continuador da obra de Allan Kardec e amigo de Gabriel Delanne, Madame Fropo, Léon Denis, Henri Sausse e outros grandes divulgadores do Espiritismo. Na biografia de Faget, a seguir, o leitor terá a visão mais ampliada de quem foi este verdadeiro espírita cristão e sua grande contribuição à difusão do Espiritismo, com fidelidade a Jesus e a Kardec.

Cada capítulo desta obra é um verdadeiro poema de incentivo ao culto da verdade, do amor e das virtudes emanadas deste sentimento a todo ser verdadeiramente cristão, seja espírita ou não, a quem busca a verdade. Para não privarmos o leitor de seu trabalho, citaremos apenas algumas de suas belas frases.

Logo no primeiro capítulo, o espírito Cáritas identifica-se e convoca-nos:

Ó homens generosos que me ouvem, corram ao socorro de seus irmãos; inclinem-se sobre as solidões doentias, sobre a pobreza que não é nenhuma vergonha, sobre todas as chagas, mesmo as mais repugnantes, da infeliz humanidade.

Sem deixar de reverenciar Jesus Cristo, como nosso líder espiritual, no capítulo 3, diferencia-o, com propriedade, de Deus, a quem Jesus nos recomendava, assim como o primeiro mandamento recebido mediunicamente por Moisés, amar sobre todas as coisas, de todo o nosso sentimento e de toda a nossa alma.

Deixamos ao leitor saborear estes belos ensinamentos de Cáritas, complementados pelos de Maria, nesta bela e poética obra, pois sabor tem a mesma origem etimológica de saber. Mas não resistimos, ainda, em citar mais algumas frases sublimes, dentre tantas outras, ao longo dos textos claros, simples e objetivos desta excelente obra.

Esta outra frase, logo no início do capítulo 11, dá-nos uma ideia da elevação do espírito Cáritas: "A tolerância é essa virtude que aceita mesmo controvérsias irritadas e responde com doçura a ataques apaixonados".

Do capítulo 12, pinçamos esta doce frase: "Oh, a caridade! com que impulsos nos incendeia! Que amor ela coloca no coração do homem que se sacrifica pela felicidade de seus irmãos, sem segundas intenções, movido por um sentimento de justiça, de fraternidade!"

No capítulo 19 encontramos esta frase, logo compreendida por quem aprendeu a amar como Jesus nos ensinou:

Os grandes homens geralmente não têm essa virtude chamada modéstia. No entanto, nada seria mais doce do que envolver-se na obscuridade quando se conseguiu dar ao mundo uma obra brilhante ou sólida, digna de ser mantida para a posteridade.

Também não resisto em transcrever o que Cáritas entende por amor, por igualmente expressar o entendimento do Cristo e das almas elevadas:

Amor é devotamento absoluto, é fé absoluta no ser amado. O amor vive da felicidade que ele dá e não daquela que recebe.

O amor é a comunhão ideal dos seres sobre este elevado cume que Deus oferece às almas nobremente enamoradas e que os baixos prazeres nunca podem atingir.

Por fim, na segunda parte, ditadas pelo Espírito Maria, há apenas três capítulos, mas plenos de sabedoria. Logo no primeiro, encontramos esta bela frase, que será desenvolvida adiante:

Tudo o que os poetas imaginaram, tudo o que os pensadores disseram, se reduz a pouca coisa: só o amor é a lei das leis. Não vamos procurar outra definição do próprio Deus. Homem, sociedade, universo, tudo repousa na admirável lei do amor.

No capítulo seguinte, lemos esta frase de 133 anos, recebida mediunicamente no ano em que o Brasil decretaria, como último país a abolir a escravidão, a liberdade dos nossos irmãos negros, ainda tão discriminados, aqui e noutras terras. A frase parece ter sido dita em nossos dias, tal é a atualidade dela:

Não, nada vai impedir que a humanidade marche adiante. Deus não fez distinção entre raças, nem fez distinção entre indivíduos. Negros, brancos, raças latinas e outros não são famílias diferentes. São grupos distintos de homens semelhantes. As almas que animam os corpos de africanos e americanos podem voltar a habitar os corpos de europeus, e também o contrário pode ser verificado.

O Espírito Maria conclui o capítulo final da segunda parte, após nos recomendar que não temamos a morte e, sim, a vida, com esta profunda frase para nossa reflexão e redirecionamento dos passos equivocados, enquanto na vida física:

Não temam os julgamentos do céu: temam a si mesmos, pois o homem carrega consigo sua própria condenação e sua própria recompensa. A consciência é um verme de roedor ou uma lâmpada acesa. O primeiro destrói pouco a pouco o homem inteiro; a segunda o ilumina com uma luz interior tão doce que ele se sente transportado a infinitas bem-aventuranças.

A obra é finalizada com quatro poemas. Destes, dois são sonetos em forma de acróstico. O primeiro é dedicado a Laurent por Charles Nozeran; o segundo é de Laurent em agradecimento a Nozeran. Ambos são escritos com as iniciais dos nomes de cada um deles, o que é conhecido literariamente como acróstico. Não podia terminar melhor esta obra, que tão bem expressa o alto conceito desfrutado por Laurent, tanto proveniente do plano espiritual, quanto do plano físico.

Brasília, 03 de maio de 2021
Jorge Leite de Oliveira

APRESENTAÇÃO:

Escolhido como médium por dois espíritos cujos fluidos simpáticos eu sentia ao meu redor e cujo pensamento despertou seu eco em meu coração, escrevi estas páginas ditadas por eles em algumas noites de inverno.

Eu as entrego hoje como me foram dadas, sem mudar nada, respeitando o pensamento dos meus guias e apenas mexendo ligeiramente na forma de suas comunicações.

Se os leitores gostarem dessas páginas e se dispuserem a me dizer, pedirei a Cárita e Marie que continuem esses estudos filosóficos.

Espero que esta pequena obra ensine a algumas pessoas um pouco da filosofia e da moral espírita. Ficarei feliz se ela puder fazer algum bem.

Rogo aos nossos bons amigos do espaço que facilitem sua propagação e que Deus a abençoe.

ADOLPHE LAURENT DE FAGET
15 de dezembro de 1887

OS PENSAMENTOS DE CÁRITA:

Ao médium

Não, meu menino, você não está enganado: eu tenho algo a dizer aos homens e eu escolho você, você que sofreu e meditou, para me ajudar a cumprir a tarefa empreendida.

Seu mundo ainda está dividido por muitas paixões e assombreado por muitos vícios. A luz divina dificilmente pode penetrar a escuridão da ignorância humana.

Seus mestres, seus cientistas, cavaram sulcos que a humanidade nem sempre explora e em que espíritos aventureiros ou orgulhosos muitas vezes jogaram germes ruins. É preciso limpar novamente o terreno da fé; é preciso tomar a razão por arado e semear a terra com verdades.

Se formos muito fracos para esta tarefa, rezaremos a Deus para nos ajudar; e antes de começarmos este trabalho, vamos nos elevar até ele.

Ó, poder soberano que cada um sente em si e ao redor de si; autor de tudo o que existe; amor sublime que ilumina sóis na vastidão e faz desabrochar a flor que nos encanta com suas cores e seu perfume; Deus eterno que pode ser negado, mas que ainda assim existe, causa suprema da criação: nós nos elevamos a ti, porque, diante das inúmeras produções de sua genialidade, nos sentimos minúsculos; mostre-nos o caminho que devemos seguir.

O homem é um ser desviado que deve ser colocado de volta no caminho certo.

Pensadores famosos o levaram a ti; outros, ouvindo apenas suas especulações reticentes de bom senso e justiça, distanciaram-no da perfeição que é a sua imagem.

Alguns poetas o enalteceram, outros o corromperam. A arte se arrastou na lama realista e na injúria materialista.

A religião não foi compreendida. O ideal supremo das almas é sufocado em quase todos os lugares sob a letra que mata e sob o despotismo que devora.

Ó, Deus! Deixe cair sobre nossas almas um raio de seu amor para que possamos iluminar aqueles que duvidam e confortar aqueles que choram.

Cárita

Trechos da obra:

III
Religiões

Por que as religiões estragaram nosso ideal divino? Por que os homens lançaram um véu sobre a grandeza divina?

Desde a aurora do gênero humano, no berço dos primeiros povos, Deus era adorado em espírito e verdade. Os homens vieram, lançaram fora as estruturas religiosas dos povos primitivos, saquearam todas as coisas, fizeram caminhar o ferro e o fogo em todos os lugares e construíram templos à divindade.

Desde o dia em que enclausuramos Deus, pusemos um véu sobre ele. Desde o dia em que um tabernáculo o conteve, o homem não mais o viu lhe sorrir no firmamento dos sóis!

A natureza, eis o único templo adequado ao Todo Poderoso, cujos templos da terra nos apresentam apenas uma imagem débil, muito pouco parecida.

O homem é mesquinho e falso quase sempre. Não lhe bastou elevar a Deus seu pedestal universal no infinito. Ele não só despoetizou a grande figura do Eterno cobrindo Deus sob os véus do templo, mas também precisou fazer dele um deus tangível e mortal, uma cópia do homem.

E então nasce essa lenda do filho de Deus se sacrificando por nós, estendendo seus membros em uma cruz infame e pagando com seu sangue a dívida da humanidade.

Não, Deus nunca foi encarnado em um corpo humano! Não, ninguém na Terra, mais do que nas regiões etéreas, pode pretender ter qualquer semelhança com o incomensurável! Não, Deus não tem um filho privilegiado!

Ele lança sois e globos infinitos no espaço: ele não desce para se vestir em carne e osso em um mundo como o nosso.

Cristo existiu e este grande homem veio abrir diante de nossos passos o sublime caminho do progresso.

Mas comparar Cristo a Deus é hoje derrisório, quando milhões de sóis, bilhões de globos são reconhecidos no espaço.

Vamos nos curvar àquele que contém tudo nele e existe em todas as coisas. Admiremos a Deus e agradeçamos a Cristo, mas nunca confundamos o espelho com a luz.

Todas as religiões têm um ideal mais ou menos puro que os sacerdotes desviam. Todos os cultos se perdem pelos lados exteriores. As interpretações erradas dos ensinamentos dos textos primitivos mantêm nos homens falhas de compreensão, inferioridade de percepção que os rebaixa e os aproxima de certos animais inteligentes.

O dever de todos aqueles a quem o amor pelo progresso abrasa é desembaraçar a mente humana de sua venda clerical. Os pastores dos povos são gentis e humildes; eles não têm a arrogância, o orgulho episcopal. O amor, eis o sinal do verdadeiro missionário da divindade.

Trechos da obra:

IX
Pluralidade das existências

De onde vem a alma humana? Ela já passou pelos diferentes reinos da natureza?

É uma questão séria e importante a resolver atualmente, quando a mente do homem se coloca face a face com os grandes problemas de seu destino.

Só há uma lei de justiça no universo. O progresso é a lei dos seres.

Esses princípios estabelecidos são suficientes para concluirmos pela possibilidade, pela necessidade de nossa passagem através das escalas inferiores da criação.

"Mas não nos lembramos", dizem os materialistas. “Como poderíamos ter sido outra coisa além de quem somos?”

A perda da memória é apenas uma questão secundária para quem pode pensar.

Lembramos apenas de uma pequena parte dos eventos que marcaram nossa vida atual e, dos sonhos de infância, das sensações do adulto, só nos resta um vago relembrar através de mil circunstâncias que lançaram seu reflexo sobre nossa vida.

Podemos dizer que eventos importantes, por si próprios, nos atingem.

Lembramo-nos das meias-ideias e das palavras vagas que balbuciamos desde os primeiros passos desta vida?

E essa mãe, essa doce mãe que nos embalou em nossas fraldas, nós a conservamos, é claro! Nosso respeito esperado, talvez nossa afeição mais tocante, mas quantos de nós perdemos a memória do bom conselho que ela nos deu e as notas melancólicas e suaves que ela cantava para dormirmos!

O homem navega em um oceano de esquecimento. Não nos surpreende que ele não se lembre de nada sobre suas existências anteriores, já que ele mal se lembra do que estava fazendo há dez anos.

Deus queria que a memória de nossas existências anteriores fosse velada por muito pouco tempo: é o necessário para uma nova vida. Mas quando nossa alma retorna ao tempo dos espíritos, ela vê seu horizonte passado e futuro; ela pode então mergulhar, através da lembrança, em suas encarnações anteriores.

"De que servem suas várias encarnações? Como ela vai desfrutar da bondade de Deus, que lhe permite reabilitar-se nas provações da vida, se ela não pode retornar do efeito à causa que a fez nascer; se ela não pode provar a si mesma que ela viveu?

Sua razão lhe é suficiente para compreender que não poderia ser de outra forma, os espíritos do espaço vêm confirmar isso que a razão lhe ensina.

Se nós não tivéssemos vivido várias vezes, de que poderíamos ser responsáveis aos olhos de Deus? Como poderíamos viver, nesse mundo inferior, acompanhados da ideia que nós valemos mais que outros e que sofremos mais? Por que a desigualdade das condições humanas? Por que a felicidade para uns e a infelicidade para outros?

O homem teria o direito de duvidar de tudo e de Deus mesmo que ele estivesse limitado a uma única existência, o que atingiria um céu impossível ou a um inferno incompreensível.

Nossas lutas nos são necessárias para progredirmos. Aquele que está em uma condição inferior com relação ao trabalho e à posição social, ele mereceu que fosse assim. Seus progressos têm necessidade de ser dirigidos na renúncia e do sacrifício.

O rico, ao contrário, tem a necessidade de se provar no contato das paixões que a fortuna produz. Cada um de nós segue a linha onde se está engajado talvez há milhares de anos.

E acrescentemos que devemos todos passar sucessivamente pelas mesmas provas e pelos mesmos sofrimentos. A ordem eterna assim o quer. Cada uma de nossas etapas terrestres em um novo corpo é um novo apelo que o Criador faz às nossas almas. Saibamos ouvi-lo, esqueçamos nossos ódios, nossas prevaricações, nossas insolências, para mirar somente no progresso que nos resta alcançar.

Reflexões de Marie:

Apresentação

Eu sou um espírito de uma ordem especial. Vivi na Terra, onde, em minha última existência, vivi feliz, embora sofrendo, com um homem bom, caridoso e gentil, que me amou tanto quanto possível e com quem trabalhei pela grande obra da emancipação humana. Que este querido pensador, que me vai ler, eu sei, receba aqui uma nova prova de minha ligação profunda e da continuação deste afetuoso sonho em que ambos mergulhamos enquanto estudávamos os grandes problemas da vida. Ele vai me reconhecer, espero, em algumas páginas que seguem.

Que é o homem? Quais são seus deveres na sociedade? Para onde ele irá quando deixar este mundo? Quais são os vários sistemas que correspondem aos seus pensamentos e ações?

Tudo isso consideraremos sucessivamente, sem pretensões, mas com a firmeza de uma alma segura de si, certa da existência de Deus e também segura de que o progresso da humanidade a levará à felicidade pela moral e pela virtude. Como o espírito de Cáritas, essa boa mãe cujo conselho acabamos de ouvir com atenção, acreditamos que a verdade nada tem a ver com os sistemas pessoais e ambiciosos dos grandes pontífices modernos.

A verdade é simples e una. Ela vem de Deus e se afirma na natureza e em nós mesmos. No entanto, alguns pensadores entreviram a verdade. Tomaremos deles algo emprestado e, sobretudo, dirigir-nos-emos ao querido amigo de quem falamos e que há tantos anos trabalha em silêncio pela felicidade da humanidade.

Diremos a ele que irradie sua alma para nós, para que nossas inteligências e nossos corações se fundam e possamos lançar aqui algumas das ideias que florescerão em abundância em sua obra.

E agora, meu querido poeta, uma vez que você tem a gentileza de me servir como secretário, vou pedir-lhe que me empreste o concurso de sua poesia inata e admiradora do Todo-Poderoso. Vou tirar de você a expressão adequada, o estilo e eu lhe darei em troca os pensamentos de um espírito maduro que sofreu e meditou por muito tempo. Ao trabalho! E que Deus nos ajude.

Marie

Trechos da obra:

III

Os espíritos

Nos mundos materiais, duas forças estão continuamente presentes: matéria e espírito, e estão unidas para perpetuar a obra divina.

A matéria sem o espírito é nada.

O homem, como todas as coisas criadas, como todos os seres inteligentes, tem dentro de si, distintos, mas unidos, os dois princípios que apontamos.

Pela matéria de seu corpo, ele se apega à criação material; pelos irradiação de seu espírito ele toca os sóis.

No espírito existe um certo grau de matéria?

— Sim, sem dúvida, pois não podemos imaginar algo que não seja nada. Mas não é questão de palavras dizer: tudo é matéria no homem e em torno dele?

Quaisquer que sejam as qualidades da matéria humana, o espírito se eleva muito acima delas. Sabemos que o espírito emerge do corpo humano após a morte deste instrumento, de seus sofrimentos e progresso. A separação, portanto, ocorre.

Para onde vai o espírito? - Vivendo a própria vida, sem a ajuda de nenhum dos seus órgãos materiais do passado, mergulha no infinito que o rodeia, deleita-se nos acordes da harmonia celestial, procura e descobre Deus, suprema justiça e supremo amor.

As leis da matéria não são as mesmas do espírito. Estas são de uma ordem tão diferente que não se compreende a confusão que alguns filósofos fazem a esse respeito.

Sim, de fato! O espírito também pertence de algum modo à matéria organizada, mas é fluido, mas atravessa as paredes mais grossas, atravessa portões e fechaduras e voa para o céu azul. Como, então, confundir o espírito e o corpo, a matéria anímica e a matéria corporal? Esta última tem apenas propriedades; a outra tem qualidades adquiridas, qualidades em perspectiva.

O espírito não precisa do corpo humano para caminhar entre os anjos. O corpo terreno é um veículo que o serve, em suas sucessivas encarnações, para se elevar a Deus por meio do progresso, do estudo, do sofrimento bem suportado, dos deveres cumpridos. Mas, terminada esta primeira parte da sua tarefa, a alma sente-se tão acima do corpo material que acabou de deixar, que, sem desejar retomá-la, dedica-se à humanidade. Ela precisa de um manto de carne para realizar sua peregrinação piedosa e útil?

Os Espíritos se reúnem em grupos, seguindo a lei das afinidades. Os mais avançados do grupo tentam elevar aqueles que a ignorância ainda afasta da verdade e da justiça. Há um trabalho de solidariedade entre eles, como já dissemos. Mas todos, ou quase todos, sentem, veem, reconhecem acima deles a lei superior, a emanação direta da consciência divina.

Sonetos acrósticos:

 

 

Lhe proteja a Musa Cárita, ó, poeta!
Aos acordes de seu alaúde suave e harmonioso
Um bom anjo: Marie, ponha em sua testa
Radioso diadema, louro glorioso.

E quando lhe escuta, minha lira, infeliz, se aquieta.
Não cesse de estender seus cantos aos céus;
Trace um caminho moral a nossa alma inquieta;
Do amor dos espíritos radiosos, retira-lhe os véus.

Enamorados do ideal, dos princípios sábios, profundos,
Faz-nos conceber Deus no progresso dos mundos,
A testemunho do Espiritismo e da verdade;

Guarde no coração, médium, aquela fé que consola,
E que um dia, triunfante, em sua branca auréola,
Tua alma resplanda na imortalidade.

Nice, 13 de dezembro 1887.
Charles Nozeran

Caro poeta, obrigado! Sua lira e minha lira,
Harmoniosa por sempre vibrar em união,
Ao seio da natureza onde a verdade lhes inspira
Recebendo o ideal em um divino frisson.
Lá, o hino de seus acordes ao Eterno aspira
E o pássaro o repete, muitas vezes em sua canção;
Se noutro dia o toque da Morte nos sorrira,
Nosso último suspiro, seu último som.
Oh, nós cantamos a fé que a razão proclama,
Zelosos propagadores do que prova a alma,
E cumpriremos assim nosso dever;
Refúgio no sonho, é nosso direito; amemos, é nossa festa.
Amigos, vocês me lembram os tons do poeta:
Não seria em seus versos que a eles se vê?

Paris, 20 de dezembro de 1887.
A. Laurent de Faget

Fontes: Allan Kardec.OnLine (Manuscritos Raros e Inéditos de Allan Kardec - Museu Virtual e Historiografia do Espiritismo) (Adolphe Laurent de Faget – Um levantamento bibliográfico e a 5ª edição de A Gênese)

Fontes: Luz Espírita - Espiritismo em Movimento (Laurent de Faget sua vida e obras)

Fontes: CSI do Espiritismo  (Acessar o Facebook)

Fontes: Jorge, O Sonhador

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Laurent de Faget - Os Pensamentos de Cáritas e as reflexões de Marie (Obra rara traduzida)

 

Laurent de Faget - Les Pensées de Carita et les Réflexions de Marie (1898) (Fr.)

 

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