Leopoldo Cirne

Anticristo, Senhor do Mundo

1ª edição
Lançada em 1935
Rio de Janeiro, Brasil

O texto foi revisado com base no "Acordo Ortográfico de 1990" firmado entre os países lusófonos, mas em vigor todos estes países desde 12 de maio de 2015.

Versão digitalizada
© Setembro, 2018

Produção digital e distribuição online gratuita por:

Portal Luz Espírita

Autores Espíritas Clássicos

Leopoldo Cirne ex-presidente da FEB, escreveu a portentosa obra Anticristo, Senhor do Mundo, tendo dois subtítulos: “O Espiritismo em falência” e “A obra cristã e o poder das trevas”. Concluída em 3 de outubro de 1934, impressa por Bedeschi e lançada no Rio de Janeiro em 1935.

CRISTIANISMO, ESPIRITISMO E O ANTICRISTO

Análise de uma obra rara de Leopoldo Cirne lançada em 1935.
Por: Antonio Cesar Perri de Carvalho

Antonio César Perri de Carvalho, ex-presidente da FEB - Federação Espírita Brasileira, então nos oferece um grande resgate histórico ao recolocar em evidência o livro daquele gigante ativista espírita, Leopoldo Cirne, que, entre outros feitos, também presidiu a FEB.

Sobre o livro de Cirne, vamos iniciar o entendimento desta portentosa obra através de uma breve resenha.

***

Leopoldo Cirne foi vice-presidente da FEB (1898-1900) na gestão de Bezerra de Menezes, sucedendo-o como presidente (1900-1914). Renovou os Estatutos da FEB (1902) instituindo o estudo das obras completas de Allan Kardec como referência básica da instituição. Em 1904 promoveu o I Congresso Espírita, evocativo do centenário do nascimento de Kardec, com a participação de mais de duas mil pessoas.

Esforçou-se para implantar a “Escola de Médiuns”; iniciou a promoção do Esperanto na FEB e junto ao movimento espírita (1909); em sua gestão foi construída e inaugurada a sede própria da FEB (1911). Em virtude de resistências dentro da FEB, principalmente do setor de “Assistência aos Necessitados”, que não concordavam com as inovações propostas, Cirne perdeu a eleição para a presidência em 1914, retirando-se da instituição.

Foi conferencista; autor de livros: Memórias históricas do Espiritismo; Doutrina e Prática do Espiritismo; Anticristo, Senhor do Mundo; A personalidade de Jesus (publicação post mortem pela FEB). Tradutor das obras de Léon Denis: No invisível e Cristianismo e Espiritismo.

Há várias mensagens do espírito Leopoldo Cirne, em obras editadas pela FEB, pelo médium Chico Xavier: Instruções psicofônicas; um dos personagens em Voltei, ao lado de Bezerra de Menezes, Inácio Bittencourt e Antônio Luís Sayão e, pela psicografia de Waldo Vieira, na obra Seareiros de volta.

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Apresentação da obra:

A edição digital da obra Anticristo. Senhor do Mundo, de autoria de Leopoldo Cirne, é para nós uma grande honra e ao mesmo tempo uma feliz oportunidade para se assinalar o resgate histórico de significativo livro esgotado há muitas décadas.

Leopoldo Cirne, ex-presidente da Federação Espírita Brasileira, concluiu a portentosa obra Anticristo. Senhor do Mundo, em 3 de outubro de 1934; foi impressa por Bedeschi e lançada no Rio de Janeiro em 1935; e, nunca foi reeditada. Até agora era encontrada apenas em algumas bibliotecas e, às vezes, em sebos. Através do recurso da internet a localizamos pela “Estante Virtual”.

Ao recebermos o citado livro, adquirido por internet, ficamos surpresos com a riqueza deste volume pelo fato de conter dedicatória manuscrita de Cirne para sua esposa Marieta, datada de maio de 1935.

Embevecido pelo texto que reflete a cultura e a experiência de vida do autor, rapidamente elaboramos uma resenha sobre o livro e a publicamos na Revista Internacional de Espiritismo.

Inicialmente precisamos apresentar Leopoldo Cirne (João Pessoa, 1870; Rio de Janeiro, 1941). Jovem idealista foi vice-presidente da Federação Espírita Brasileira (1898-1900) na gestão de Bezerra de Menezes, sucedendo-o como presidente (1900-1914). Renovou os Estatutos da FEB no ano de 1902, instituindo o estudo das obras completas de Allan Kardec como básicas para a instituição, retirando a referência ao estudo de obras de J.-B. Roustaing e eliminando os poderes discricionários que haviam sido concedidos a Bezerra de Menezes, pois este assumiu a FEB em momento de profunda crise.

Em 1904 promoveu o I Congresso Espírita — o primeiro grande evento espírita do Brasil —, evocativo do Centenário do nascimento de Kardec, com a participação de mais de duas mil pessoas. Na oportunidade foi aprovada sua proposta “Bases de Organização Espírita”, definindo que a FEB filiaria diretamente centros espíritas e orientaria o trabalho de união dos espíritas, estimulando a fundação de Federações Estaduais. Até então somente existiam duas Entidades Federativas Estaduais. Dedicou-se para implantar a “Escola de Médiuns” e iniciou a promoção do Esperanto na FEB e junto ao movimento espírita (1909). Em sua gestão foi construída e inaugurada a sede própria da FEB, em dezembro de 1911. Atualmente é a chamada Sede Histórica da FEB, sita à av. Passos, 30, no Rio de Janeiro.

Em virtude de resistências dentro da FEB, que não concordavam com algumas inovações e propostas implantadas por Cirne, principalmente do setor de “Assistência aos Necessitados” e também um certo descontentamento dos seguidores da obra Roustaing, o presidente Leopoldo Cirne perdeu a eleição para a presidência em 1914, retirando-se completa e definitivamente da instituição. Prosseguiu atuando como conferencista e escrevendo livros.

É autor de livros: Memórias históricas do Espiritismo; Doutrina e Prática do Espiritismo; Anticristo, Senhor do Mundo; A personalidade de Jesus (esta publicação post mortem foi feita pela FEB). Tradutor das obras de Léon Denis, editadas pela FEB: No invisível e Cristianismo e Espiritismo.

Há várias mensagens do espírito Leopoldo Cirne, em obras editadas pela FEB, pelo médium Chico Xavier: Instruções psicofônicas; e pela psicografia de Waldo Vieira, na obra Seareiros de volta. É um dos personagens em Voltei, do espírito Irmão Jacob (pseudônimo de Frederico Figner, ex-diretor da FEB) ao lado de Bezerra de Menezes, Inácio Bittencourt e Antônio Luís Sayão.

A obra agora disponibilizada em versão digital pelos portais Luz Espírita e Autores Espíritas Clássicos passou por atualização da ortografia, com cuidadosa revisão em respeito à manutenção das mesmas palavras, e, houve o acréscimo de reprodução de tela colorida retratando Leopoldo Cirne, de autoria de Napoleão Figueiredo, de São Paulo, elaborada a nosso pedido em 2014, por intermédio de Oceano Vieira Melo durante nossa gestão como presidente da FEB.

O objetivo da obra, definido pelo autor é claro: “[...] apreciando a ação perturbadora do Anticristo na existência da igreja — alvo do seu inveterado rancor — do mesmo que em todas as manifestações da vida humana, em que essa interferência transparece, colher ensinamentos e advertências para salvaguarda dos que, nesta época de transformações e num radioso futuro que se avizinha, desejem sinceramente seguir a Jesus e necessitam estar apercebidos contra as insidiosas manobras dos que com propriedade são denominados inimigos da luz. [...] O presente estudo é assim uma contribuição exclusivamente pessoal, fundada na observação e análise dos fatos à luz dos conhecimentos adquiridos na doutrina espírita, que temos a felicidade de professar há quarenta anos”.

Leopoldo Cirne esclarece que entende por “Anticristo” uma força, também chamada de “príncipe deste mundo”, “poder das trevas”, que age “em oposição, deliberada e sistematicamente, ao plano evolutivo traçado por Deus à humanidade”. Considera que o Cristo empreende a obra de educação e redenção da humanidade e raciocina: “o princípio oposto — de separatividade [sic] e de egoísmo — que forma o substrato da natureza inferior do homem e constitui, na quase totalidade da espécie humana, o motivo preponderante de seus atos e impulsos? [...] esse princípio deverá chamar-se o Anticristo.

Somos todos assim, enquanto consentimos em nós o predomínio do egoísmo com todos os seus derivados — ambição, vaidade, orgulho — e pelejamos denodadamente pela obtenção e acréscimo dos bens, posições e vantagens pessoais, com sacrifício dos outros e violação da lei de solidariedade [...]”

E assim, o autor desenvolve a obra: na 1ª Parte analisa em detalhes a trajetória do Cristianismo e na 2ª Parte focaliza o Espiritismo.

Ao nos deleitarmos com o texto de análise histórica, repleto de depoimentos e alertas sérios do autor, identificamos momentos e condições de nossos tempos que fazem jus ao jargão “a história se repete”.

O leitor atento identificará situações que persistem no cenário atual do movimento espírita de nosso país.

Daí a significação desta obra de Leopoldo Cirne, extremamente válida para se analisar e se refletir sobre a trajetória, o estado atual e as perspectivas do Espiritismo no Brasil.

Concluímos nossa Apresentação transcrevendo trechos das considerações finais de Leopoldo Cirne:

“Exageramos? — Percorrei a história de todos os séculos e nos sucessos, coletivos e individuais, em que haja violação do preceito básico formulado pelo Cristo — ‘amai-vos uns aos outros’ — encontrareis a intervenção reacionária do Anticristo. [...] Quanto tempo será necessário à consumação dessa gloriosa metamorfose? O milênio, de que nos fala o Apocalipse? — Não importa o prazo. [...] a nossa humanidade, liberta finalmente do poder das trevas, raiará cedo ou tarde a aurora de sua definitiva redenção.”

São Paulo, setembro de 2018.
Antonio Cesar Perri de Carvalho
Foi dirigente da Federação Espírita Brasileira: Diretor, março de 2004/março de 2012; Vice-presidente, março de 2012/março de 2013; Presidente interino, de maio de 2012 a março de 2013; Presidente efetivo, de março de 2013 a março de 2015.

Fontes: César Perri - GEECX - Grupo de Estudos Espíritas Chico Xavier

Fontes: Luz Espírita - Espiritismo em Movimento

A sua sede na Avenida Passos foi, por assim dizer, obra sua, a qual lhe exigiu esforços sem conto, no propósito de sua conclusão ser prontamente atingida, sem jamais dar mostras de desânimo na concretização desse seu acalentado ideal, qual o de ver a instituição, a que presidia, instalada num prédio próprio e condizente com a magnitude da obra espiritista em terras guanabarinas. E no prazo de dezessete meses, isto é, a 10 de Dezembro de 1911, esse prédio era inaugurado, de cujo acontecimento, aliás, todos os periódicos desta Capital, sincera e espontaneamente, deram extraordinária cobertura.

Pela manhã desse dia, o jornal O PAIZ, em longo artigo, fazia, entre outras considerações, a de que “a nova sede da Federação Espírita Brasileira tinha, considerada no seu ponto de vista particular, o valor, já hoje raro, de exprimir uma dedicação extraordinária dos homens agremiados naquele centro de atividades, dedicação praticada em uma quase penumbra, sem alarde, sem benemerências conclamadas, sem nomes postos em foco, com a modéstia efetiva dos crentes sinceros e dos generosos por dever; que em cada pedra, em cada bocado de argamassa da sua construção, havia um pouco de coração e de consciência, dominados por um alto sentimento e um sugestivo dever.”

E Leopoldo Cirne no ato solene da inauguração, profundamente emocionado, sem, todavia, se afastar daquela simplicidade que lhe era peculiar, a ela presidiu, no vasto salão de conferências, que estava superlotado. De sua oratória, destacamos este trecho:

“Era tempo de que o Espiritismo tão malsinado, tão pouco compreendido por uns e tão mal julgado por outros, oferecesse este testemunho da sua força e capacidade organizadora. Era tempo de que esta obra, que avulta pela sua significação moral para a propaganda da verdade espírita, viesse dar lugar à aproximação, cada vez mais ampla, entre os que a ignoram e os que já desfrutam os seus salutares benefícios.”

Sylvio Brito Soares ‘Reformador’ Junho 1970

A questão Roustaing

Há, por exemplo, entre os espíritas uma dupla corrente de opiniões que se vêm de há muito acentuando, a propósito da revelação, contemporânea de Allan Kardec, recebida igualmente na França, por J. B. Roustaing, com o concurso da médium Sra. Collignon. (*)

(*) O autor refere-se ao compêndio OS QUATRO EVANGELHOS OU REVELAÇÃO DA REVELAÇÃO publicado em três volumes por Jean-Baptiste Roustaing, um importante jurista francês que se declarou espírita, organizado a partir da psicografia da médium Émilie Collignon, cuja autoria é atribuída aos Espíritos dos quatro evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João), sob a coordenação de Moisés. Desse compêndio originou-se a doutrina denominada Roustainguismo, tão controversa no meio espírita brasileiro, já desde seu início, pela pretensão de propor ser uma nova e superior interpretação moral (inclusive com a epígrafe "Espiritismo Cristão") em relação à codificação do Espiritismo feita por Allan Kardec — N. E.

Tese arrojada, porventura desenvolvida com excessiva abundancia de pormenores que, em certos casos, a tornam aparentemente inverossímil e, a poder de repetições, fastidiosas, tem suscitado, como o dizemos, apologistas e opositores, nem sempre dotados da conveniente serenidade para evitar antagonismos radicais, dando assim lugar a que, mais uma vez, se dividam os homens a propósito do Cristo, em lugar de em torno d'Ele se unirem pelo amor, como tão insistentemente lhes recomendara. Com isso apenas provam eles que o não amam verdadeiramente, mas as suas próprias intransigências sectárias.

Entre os membros da Liga Espírita, influentes na sua direção, é certo que não têm curso os ensinamentos dados a Roustaing, ao passo que na Federação a sua aceitação integral, de resto, conduzida com uma inabilidade e ausência de tato lamentáveis, tem criado um antagonismo extremista, indubitavelmente explorado, senão intencionalmente suscitado pelo inimigo, cujo interesse não pode ser outro senão “dividir para reinar".

Leopoldo Cirne "Anticristo, Senhor do Mundo"
 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

 Leopoldo Cirne - Anticristo. Senhor do Mundo (Resenha de Antonio César Perri de Carvalho)

 

Leopoldo Cirne - Anticristo. Senhor do Mundo (Obra rara digitalizada)

 

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