PIERRE-GAÊTAN LEYMARIE

 

O DESASTRADO CONTINUADOR DOS TRABALHOS

 

DE ALLAN KARDEC

 

O COVEIRO DO ESPIRITISMO

 

(1827 - 1901)

 

 

 

 

AMÉLIE GABRIELLE BOUDET

 

MADAME RIVAIL (SRA. ALLAN KARDEC)

 

A GRANDE HEROÍNA DO ESPIRITISMO

 

NA DEFESA DO ESPIRITISMO

 

(1795 - 1883)

 

Itens Integrantes do Acervo do Museu AKOL - AllanKardec.online

 

Prefácio da obra:

 

PROCESSO DOS ESPÍRITAS

 

Resumo em português, por Hermínio C. Miranda

 

Breve retrospecto

 

Embora amplamente difundida no tempo e no espaço, a comunicação entre os homens e os Espíritos desencarnados foi praticamente ignorada no mundo moderno até meados do século XIX.

 

Em 31 de março de 1848, rompeu-se a barreira invisível que separava os dois mundos, e um Espírito contou à família Fox, através de um código improvisado, fragmentos de sua história. Enquanto encarnado, chamou-se Charles B. Rosma. Fora mascate e havia sido assassinado e enterrado no porão daquela casa, há cinco anos, por uma família que ali morava na época. O móvel do crime fora o roubo, pois ele trazia cerca de 500 dólares consigo.

 

Não seria necessário alongar aqui os pormenores desse episódio que ficou sendo considerado o marco inicial da história do que se convencionou chamar de espiritualismo moderno. Fixemo-nos, por enquanto, apenas na data: 31 de março de 1848, para dizer que por estranha e curiosa coincidência – ou não seria coincidência? – nesse mesmo ano em que os Instrutores da humanidade deslanchavam o movimento renovador dos valores espirituais, outro grupo de Espíritos lançava também, com as assinaturas de Karl Marx e de Friedrich Engels, o Manifesto Comunista, alicerce sobre o qual repousariam as estruturas do materialismo político-social do futuro. Estaríamos assistindo a mais um confronto – talvez o último – entre luz e trevas, entre liberdade espiritual e escravidão materialista? O tempo dirá, e não tardará a dizê-lo, porque a hora é chegada da grande separação, da qual o mundo em que vivemos sairá “passado a limpo”, por meio das reconstruções ciclópicas que se anunciam há séculos.

 

Há, porém, outra estranha coincidência – ou, repetimos, não seria coincidência? De 31 de março de 1848 a 31 de março de 1869 decorreram precisamente 21 anos. Por conseguinte, Allan Kardec, ao desencarnar, deixou em plena maioridade, como doutrina codificada, o movimento que se iniciara sob condições tão modestas, numa tosca habitação de gente comum, no vilarejo de Hydesville, nos Estados Unidos.

 

Talvez um dia cheguemos a conhecer as minúcias desse maravilhoso planejamento, e alguém, como Sir Arthur Conan Doyle, relate para nós o outro lado da História do Espiritismo, contando um pouco do muito que ainda ignoramos.

 

É certo, porém, que Kardec deixou a doutrina perfeitamente estruturada e o movimento consolidado, ao regressar, em 1869, às elevadas regiões espirituais de onde viera como emissário valoroso do Cristo.

 

Tomara a tarefa sobre os ombros em 1854, com 50 anos de idade. Em 18 de abril de 1857, decorridos apenas 9 anos dos fenômenos de Hydesville, publicava O Livro dos Espíritos. Embora seus amigos espirituais lhe dissessem que via apenas o começo do movimento que iniciara, ele próprio parecia, às vezes, surpreso ante o impacto que a doutrina causava por toda parte e a tremenda força com a qual emergia e se sustentava.

 

Também os inimigos da nova doutrina pareciam surpresos, aqui e ali, nos sombrios planos da revolta, mas, vencida a paralisação inicial do aturdimento, começaram a elaborar artificiosos planos de ataque e demolição. Era preciso desmoralizar, a qualquer preço, o movimento que surgia. E bem sabemos que não é difícil aos desvairados articuladores das trevas encontrar, entre os encarnados, companheiros dóceis que se prestam com prazer à tarefa lamentável da calúnia, da intriga, da falsidade, da meia-verdade, sem mesmo perceberem que estão agindo como meros instrumentos de comparsas desencarnados.

 

Kardec viveu seus anos finais na carne sob a terrível pressão desses companheiros desarvorados. Não é fácil a tarefa dos reformadores, porque o ser humano não apenas se agarra tenazmente aos seus preconceitos, como reluta desesperadamente em abandonar posições de mando, nas quais, através de instituições esclerosadas, mas tradicionais, exerce domínio e poder sobre as grandes massas de manobra que são as multidões acabrestadas.


Logo que Kardec partiu para a espiritualidade, exacerbaram-se os ânimos das trevas. Era preciso agir rápido, atacar vários pontos, desmoralizar, para demolir, a doutrina que se implantava com pujança inesperada.

 

E foi assim que o Espiritismo foi levado à barra dos tribunais franceses, em 1875, por causa de uma série de fotografias mediúnicas. Estudaremos minuciosamente os fatos ao longo desta introdução explicativa que a FEB resolveu preparar para relançar a preciosa obra que recebeu o título de Procès des Spirites. Veremos também por que fica logo de início afirmado que foi o Espiritismo (e não os espíritas) que se visou julgar durante o rumoroso processo iniciado com a audiência de quartafeira, 16 de junho de 1875, na Sétima Câmara da Polícia Correcional do Sena, em Paris, sob a presidência do Juiz Millet.

 

Estavam em julgamento, indiciados como trapaceiros, Pierre Gaëtan Leymarie, sucessor de Allan Kardec na gerência da Sociedade para a continuação das obras espíritas de Allan Kardec (ex-Sociedade Anônima do Espiritismo) e da Revue Spirite, Édouard Buguet, fotógrafo e médium, e o americano Firman, médium de efeitos físicos.

PROCESSO DOS ESPÍRITAS:

 

I PARTE

Processo dos Espíritas

(CSI do Espiritismo)

 

Já falamos aqui algumas vezes da forte influência da Igreja Católica na sociedade francesa no período de 1869 a 1879, e do “Processo dos Espíritas”. Vamos agora ligar estes dois pontos...

 

Vimos ainda sobre o Sr. Delahaye, juiz de instrução do caso, quando o Sr. Boiste, presidente da SPEE, pede para pesquisarem sua vida íntima, bem como suas crenças religiosas, que poderiam ter uma grande influência no tribunal [1]. Na versão em português (sem as cartas) do livro “Processo dos Espíritas”, escrito por Marina Duclos Leymarie [2], ele não é nominado e é referido apenas como juiz de instrução. As cartas podem ser conferidas na versão original em francês [3]. Além do livro, podemos ver o processo sob uma outra perspectiva, a da “Revue des grands procès contemporains”, de Gaston Lèbre [4].

 

Não seremos nós a inocentar Leymarie (e demais membros do Comitê de Fiscalização da Sociedade Anônima), cuja ingenuidade foi flagrante, todavia hoje este processo seria anulado, considerando apenas aquilo que encontramos no livro da Sra. Leymarie.

 

Mas o que o CSI do Espiritismo vai trazer de novo com relação a este assunto, além dos comentários feitos nas alegações 20ª e 21ª da publicação “Ficções e Insinuações” [5]?

 

Traremos nas próximas publicações a identidade do juiz de instrução, responsável por colher todos os elementos probatórios, bem como a do magistrado e a do autor da denúncia.

 

Entendemos que o juiz de instrução, novamente, se fosse hoje, deveria ter se declarado suspeito [6]. Mas não seria o caso, pois tudo indica que o processo foi uma “armação” de representantes da igreja dominante para condenar Leymarie e o Espiritismo, e não as fraudes e seu principal responsável, Édouard Isidore Buguet [7].

 

Aguardem então as novas evidências relacionadas ao viés do Sr. Delahaye, e julguem por si mesmos.

 

Em tempo, o nome completo da secretária de Buguet, que teria falsificado a letra de Allan Kardec na fotografia com Amélie Boudet, provavelmente seja Léonie Caroline Ménessier (1851-1905), mas não nos aprofundamos na pesquisa desta personagem.

 

II PARTE

Processo dos Espíritas

(CSI do Espiritismo)

 

Antes de darmos detalhes sobre a identidade e o viés do Juiz de Instrução do “Processo dos Espíritas”, vejamos alguns fragmentos do livro de Marina Duclos Leymarie:

 

“Quero dizer que foi o Juiz de Instrução que disse isso. Ele me disse que pretendia me fazer confessar essa coisa, mas eu sempre lhe disse que queria testemunhar o contrário.”

 

“(...) tampouco o Juiz de Instrução estava de boa-fé, nem demonstrava o devido respeito pelas pessoas que depunham.”

 

“Queixa-se ainda essa testemunha de que o Juiz de Instrução parecia zombar dele (...)”

 

“Havia mais, porém: cartas de Buguet, na qual ele se afirmava médium e que o desmentiam na sua atual posição perante a Justiça, não constavam dos documentos vindos do Juiz de Instrução.”

 

“Certamente você [Leymarie] pode me chamar como testemunha; já me ofereci para dar meu testemunho ao Sr. Delahaye [o Juiz de Instrução], mas ele não quis me ouvir.”

 

III PARTE

Processo dos Espíritas

(CSI do Espiritismo)

 

As identidades dos principais personagens de acusação:

 

• Autor da denúncia: Justin Guillaume Lombard (1838-1880), policial, oficial de paz do 11º arrondissement de Paris e membro da polícia política [1]. A sua morte é anunciada no “Le Petite République” de 13/04/1880 nos seguintes termos: “O Sr. Lombard, o triste policial que teve que renunciar ao cargo de oficial de paz após as revelações feitas sobre seu papel no caso Rouvier, acaba de morrer aos 41 anos. Ele fará falta para Le Figaro, Le Gaulois e Sr. Maxime du Camp (de Satory)” [2]. Aparentemente esta última frase é colocada de forma irônica, já que o Sr. Lombard supostamente vazava informações confidenciais para a imprensa.

 

• Magistrado: Gustave Félix Millet (1818-1893), juiz e vice-presidente do Tribunal do Sena desde 1873, conselheiro da Corte de Paris a partir do final de 1876 [3]. Autor de “La situation” [4] [a], perdeu a esposa com 56 anos em 1886, e o filho em 1891, aos 23 anos, quando um ônibus passou por cima dele e de sua bicicleta; conforme registros encontrados e guardados pelo CSI do Espiritismo.

 

• Juiz: Edouard Jacques Delahaye (1834-1887), juiz de instrução do Tribunal de la Seine [5].

 

E é sobre o Sr. Delahaye que trazemos mais algumas informações:

 

• Foi em uma se suas árvores genealógicas, que obtivemos o nome completo: Edouard Jacques Delahaye (o "Armand" não aparece em nenhum dos seus registros de estado civil) [6];

 

• Encontramos ainda outra árvore genealógica [7], com a seguinte nota: “renunciou em protesto contra a lei de 1880 que proibia o ensino às congregações religiosas. Membro da sociedade “Education et Enseignement” de assistência jurídica às escolas católicas”. Entramos em contato com o autor, que ainda não nos retornou com a fonte, muito provavelmente arquivos familiares. A lei de 1880 é a lei de 18 de março referente à liberdade do ensino superior [8]. A “Sociedade Geral de Educação e Ensino” é uma associação católica francesa formada por leigos e destinada à defesa da educação católica [9];

 

• Corroborando a informação sobre a renúncia, encontramos no “Bulletin officiel du Ministère de la Justice” do último trimestre de 1879, a nomeação em 13 de novembro do Sr. Albert Clerc como substituto do Sr. Delahaye como juiz de instrução, que a seu pedido, retomará como simples juiz [10]. Lembramos que a lei de 1880 foi aprovada na Câmara em 15 de julho de 1879, antes das discussões no Senado etc.

 

• Achamos finalmente o anúncio da sua desencarnação no “L’Observateur français”, com o seguinte texto, traduzido livremente: “Tomamos conhecimento da morte do Sr. Edmond Delahaye, ex-juiz de instrução do Tribunal de la Seine, que faleceu após uma longa e dolorosa doença. O Sr. Delahaye foi destituído quando do saneamento da magistratura. Ele era um cristão convicto, um homem bom em todos os sentidos da palavra: ele deixa a todos aqueles que se aproximaram dele uma profunda lembrança. As muitas expressões de simpatia que sua morte suscitou serão um alívio para a dor de sua viúva. O funeral do Sr. Delahaye terá lugar amanhã, às dez horas, na Igreja de Santo Agostinho.“ [11].

 

Supomos que estas informações são suficientes para entendermos o viés do Sr. Delahaye, juiz de instrução do “Processo dos Espíritas”. Podemos ter certeza da sua isenção?

 

Nota:

 

[a] Neste livro, em tradução livre, o magistrado diz nas pp. 7-8: “O que fizemos com o sacerdócio? o que é hoje: pedagogo, que ensina catecismo às crianças; um mestre de Cantochão (prática monofônica de canto utilizada nos rituais sagrados); o confessor das senhorinhas; o impotente defensor de uma sociedade diante da Justiça de Deus! Sua influência é muito limitada, se coopera na conservação das boas tradições e dos bons costumes, só coopera mais do que eventualmente no governo do Estado! Não é mais uma ordem; não é mais do que uma corporação de Pastores. Coisa extraordinária, neste papel que é em parte o dos pastores das igrejas reformadas, o padre já não sabe falar aos homens! Ele não lhes conta nada sobre trabalho, sobre família. Ele está em silêncio sobre o patriotismo! Esquece os grandes interesses da vida, pela glória dos dogmas, que seus ouvintes já não ouvem”; e depois, surpreendentemente, nas pp. 26-27:

 

“O sacerdócio faz esse trabalho bem para os fiéis católicos. Por que um governo não deveria imitá-lo? A moralidade é semelhante à religião, ambas podem ser aprendidas. Quando o Estado der a cada um de nós uma regra, princípios e uma fé comum, poderá então, sem perigo, autorizar a liberdade de educação. Enquanto não o fizer, a liberdade de educação dividirá seus filhos, em vez de uni-los, e prolongará em nossa história a existência desastrosa dos partidos políticos. Se, pelo contrário, o Estado entrar no caminho da educação cívica, idêntica, obrigatória para todos, o egoísmo familiar e o espírito partidário serão superados“.

 

 

Juiz de instrução Edouard Jacques Delahaye (1834-1887)

 

IV PARTE

Processo dos Espíritas

(CSI do Espiritismo)

 

Em nossa última publicação sobre o Processo dos Espíritas [1] mencionamos que o juiz de instrução Edouard Jacques Delahaye tinha renunciado em protesto contra a lei de 1880 que proibia o ensino às congregações religiosas, e que era membro da sociedade “Education et Enseignement” de assistência jurídica às escolas católicas e defesa da educação católica. Comunicamos também que tínhamos entrado em contato com o responsável pelas informações. Bem, recebemos sua confirmação no domingo, 06/06/2022, esclarecendo que as fontes eram arquivos familiares que ele mantém em sua residência em Paris.

 

Hoje trazemos mais alguns personagens, confirmando que o “Processo dos Espíritas” estava “viciado”, isto é, contaminado por ideias religiosas pré-concebidas:

 

• Promotor: Louis Georges Edouard Dubois (1838-1923): magistrado e “avocat de la république”, mas que em julho de 1880 também renunciou a esta função de promotor, recusando-se a aplicar aquela lei sobre a expulsão de congregações religiosas do ensino superior, conforme vemos em sua genealogia [2].

 

• Testemunha: Alphonse Chevillard. Este professor da Escola de Belas-Artes já era conhecido dos espíritas. Escreveu o livro “Études expérimentales sur le fluide nerveux et solution définitive du problème spirite” [3], comentado nas edições de 1869 da Revista Espírita em março [4] e abril [5], ainda por Kardec. Embaixo da charge de 29/06/1875 de Chevillard (por Pepin) encontramos “Deus pode derrubá-lo, espíritas nunca!!!”. Nos parece que seria como convocar (ou hoje em dia, evocar) o Padre Quevedo para testemunhar no julgamento.

 

Então, em resumo, nesta 1ª instância tivemos pelo menos o juiz de instrução e o promotor vinculados à defesa da educação católica.

 

Berthe Fropo em “Muita Luz” se equivocou ao dizer levianamente que Leymarie se deixou ser condenado sem apelação, alegação prontamente refutada em “Ficções e Insinuações” [6].

 

E será que o julgamento na Corte de Apelação teria sido mais justo? É o que veremos.

 

V PARTE

Processo dos Espíritas

(CSI do Espiritismo)

 

Continuando nossa análise do “Processo dos Espíritas”, seguimos para a 2ª instância, a Corte de Apelação.

 

Identificamos o juiz relator, Sr. “Alfred” Simon Marie Chevillote (1816-1883), procurador geral da Argélia, que também trabalhou na “Cour d’Appel de Paris” [1-2]. Era de família muçulmana [3].

 

O magistrado que presidiu a corte foi o Sr. Félix Rohaut de Fleury (1813-1890) [4]. Era de família bastante católica, pois seu irmão Charles foi autor de livros como: “Memórias sobre os instrumentos da paixão de N.-S. J.-C. [Nosso Senhor Jesus Cristo]” [5] e “O Evangelho: Estudos Iconográficos e Arqueológicos” [6]; seu sobrinho Hubert, filho de Charles, foi um dos responsáveis pela iniciativa de construção da basílica do Sacré-Cœur em Paris [7]; e seu outro sobrinho Georges, também filho de Charles, deu continuidade a obra do pai, com os vários volumes de “Os santos da missa e seus monumentos” [8].

 

Mas a maior surpresa viria com o Sr. Joseph Amélie Benoist (1828-1911) [9-10], “avocat général”, isto é, o promotor do caso. Ele foi autor de “Da Constituição das sociedades com vistas ao estabelecimento de escolas livres” [11], aparentemente um bom tema, mas patrocinado pela “Sociedade Geral de Educação e Ensino”, que, como já vimos, era uma associação católica francesa formada por leigos e destinada à defesa da educação católica.

 

Um dos principais argumentos para a manutenção da sentença contra Leymarie foi o depoimento de Chevillard (o nosso Padre Quevedo). Hoje, esta evidência seria considerada circunstancial, e, portanto, rejeitada, já que é a “palavra de um contra a palavra de outro”.

 

Na 1ª instância, Chevillard havia afirmado que havia assistido a “experiências com fantasmas” em casa de Leymarie, e tinha este último mais na conta de um espírito fraco do que de um escroque. Leymarie, diante do juiz, disse que era a primeira vez que estava vendo Chevillard, e que ele nunca esteve em sua casa.

 

Na 2ª instância, o promotor, Sr. Benoist, sustenta sua prevenção (sic) com relação aos acusados [12], e a corte confirma a sentença em 06/08/1875 [13]. Como dissemos, uma consideração decisiva foi:

 

“Considerando que, havendo ainda dúvidas sobre a sua cumplicidade [de Leymarie], bastaria recordar que fazia sessões espíritas em sua casa onde se obtinham aparições, como testemunhou o Sr. Chevillard (...)”.

 

Além das outras considerações, todas questionáveis, pois com base apenas em opiniões, tivemos também esta, com nosso destaque em maiúsculas:

 

“Considerando, aliás, que agindo assim, Leymarie obedecia a um duplo interesse muito evidente: o aumento dos benefícios reservados a ele e aos ADEPTOS DE SUA DOUTRINA”.

 

Isto indica isenção ou parcialidade da corte?

 

Concluindo, nesta 2ª instância tivemos pelo menos o magistrado de família bastante católica, e o promotor vinculado à defesa da educação católica.

 

Bem, haveria uma 3ª instância?

 

VI PARTE

Processo dos Espíritas

(CSI do Espiritismo)

 

Como sabemos, todo o “Processo dos Espíritas” foi conduzido com base em evidências circunstanciais, testemunhos e opiniões, além de cartas ignoradas pelo tribunal; e obviamente, jamais haveria condições de se provar ou não a mediunidade ocasional de Buguet, que era um dos fundamentos da defesa de Leymarie.

 

O marido de uma das testemunhas de acusação contra as fraudes de Alfred Henry Firman (o médium americano de efeitos físicos, também denunciado no processo), publicou o livro “Spiritomanes et spiritophobes, étude sur le spiritisme” [1]. Nas pp. 24-25 o Dr. Hilarion Huguet diz, em tradução livre:

 

“Afirmamos nossa crença na boa fé de Leymarie, o defendemos perante a Corte de Apelação, e conforme declaramos perante os tribunais ‘longe de acreditar que ele estava em conluio com o Sr. Buguet, o Sr. Leymarie sempre nos pareceu investigar se Buguet estava empregando um estratagema, a fim de revelá-lo’.

 

Condenado pela Corte de Apelação, o Sr. Leymarie está recorrendo à Corte de Cassação. Aplaudimos esta resolução (...).

 

Que o Sr. Leymarie foi enganado por Buguet é óbvio, segundo o próprio Buguet.

 

Mas que o Sr. Leymarie cometeu a fraude, que ele a encorajou, longe de revelá-la, é o que não podemos acreditar.

 

Frequentemente, o Sr. Leymarie provocava uma checagem, buscava oportunidades para fazê-la; – por que não deveria ter se curvado diante do depoimento de inúmeras testemunhas [que não viam fraudes], mais capazes de desvendar o engano e mais interessadas em fazê-lo?

 

Esperamos, portanto, que a Corte de Cassação pronuncie a revisão deste julgamento e que um novo julgamento estabeleça claramente que uma solidariedade não pode existir entre ‘Leymarie, enganado por Buguet’ e ‘Buguet enganando Leymarie’.”

 

Mas então, e como foi o julgamento na Corte de Cassação, a 3ª instância [2-4]?

 

Buguet havia enviado uma carta na qual afirmava energicamente seu poder como médium, mas infelizmente a corte, obrigada a manter como constantes os fatos estabelecidos pela sentença do tribunal de Paris, não pode ordenar uma nova investigação. O recurso de Leymarie foi rejeitado em 05/02/1876.

 

O juiz relator foi o Sr. Romain Albéric Saint Luc Courborieu (1817-?) [5], mas só encontramos detalhes da sua vida profissional [6].

 

Já o promotor (avocat général) desta corte, responsável pelas conclusões, foi o Sr. Achille Arthur Desjardins (1835-1901) [7]. Durante o período da Ordem Moral [8] [a], ele ficou elegível para o cargo de procurador-geral (procureur général). O avanço deste cristão orleanista foi, no entanto, bloqueado pela chegada dos republicanos ao poder a partir de 1877. Era um cristão engajado, que fez parte da “Sociedade antiescravagista” e que presidiu a “Liga nacional contra o ateísmo” [9].

 

O presidente da Câmara Criminal, responsável pelo julgamento, seria o Sr. Victor Armand Joseph Pouliaude de Carnières, às vezes temido pela sua austeridade moral [10-13].

 

Resumindo: na 1ª instância temos dúvidas sobre a imparcialidade do magistrado, Sr. Millet, e certeza sobre a falta de isenção do juiz de instrução, Sr. Delahaye, e do promotor, Sr. Dubois. Na 2ª instância temos opinião neutra sobre o juiz relator, Sr. Chevillote e dúvidas sobre a imparcialidade do magistrado, Sr. Rohaut de Fleury, mas convicção sobre a falta de isenção do promotor, Sr. Benoist. Somos neutros sobre a atuação do presidente da câmara criminal da 3ª e última instância, Sr. De Carnières, bem como do juiz relator, Sr. Courborieu, mas estamos convencidos sobre a falta de isenção do Sr. Desjardins. Nossa análise sugere então que dos 9 atores do judiciário francês nas 3 instâncias, 6 foram tendenciosos e 3 mantiveram a neutralidade.

 

Para terminar, traduzimos alguns fragmentos do que vemos no Le Figaro de 29/08/1876 [14]:

 

“Rimos muito neste momento no Ministério da Justiça. Você se lembra do julgamento do fotógrafo espírita Buguet? Uma das vítimas deste caso (...) foi um certo Leymarie, diretor da Revista Espírita. Agora, todos os seus correligionários na América e na Inglaterra, todos eles, você leu corretamente, estão neste momento pedindo seu perdão. (...) chegaram ontem ao gabinete do Sr. Dufaure [Jules Dufaure, Ministro da Justiça] duas imensas, improváveis, inauditas, inimagináveis, insanas súplicas. Uma, enfim, a que foi enviada pela Inglaterra, tem dez metros de comprimento. (...) contém as assinaturas dos discípulos ingleses de Allan Kardec. E o pedido que foi feito em nome dos Estados Unidos! Este não tem menos de sessenta metros de comprimento. (...) Quanto ao número de assinaturas (...) você entenderá que nem tentamos contá-lo. O espiritismo vai bem, na América.”

 

Contudo, a afirmação retumbante do Sr. Dubois, promotor na 1ª instância, resume tudo o que já poderia ter sido esperado com relação ao desfecho deste “Processo dos Espíritas” nas três instâncias: “O espiritismo é apenas uma colossal mistificação exercida por um número limitado de malandros sobre um grande número de tolos.”

 

Claro que não compactuamos com isso, nem com o resultado do “Processo dos Espíritas”.

 

PS: Esta é a cronologia:

 

• 22/04/1875: Leymarie é detido na prisão de Mazas (não sabemos ainda por quanto tempo) [15];

 

• 17/06/1875: Leymarie é condenado a 1 ano de prisão e 500 francos de multa, depois de 2 sessões [16-18];

 

• 06/08/1875: O tribunal de apelação confirma a sentença, depois de 2 sessões [19-20];

 

• 05/02/1876: O tribunal de cassação rejeita a solicitação de anulação da sentença, depois de 1 sessão [21];

 

• 22/04/1876: Leymarie é confinado à prisão de La Santé [15];

 

• 22/01/1877: Leymarie é libertado, depois de 9 meses (não sabemos ainda a causa da redução da pena) [22].

 

PPS: O prefácio de Francisco Thiesen da versão em português do livro de Marina Leymarie diz que “(...) Pierre-Gaëtan Leymarie, condenado, cumpriu integralmente a pena de reclusão celular por tempo bem superior a um ano, além de pesada multa”. Como vimos, esta informação está equivocada.

 

Contudo, ainda informa que “(...) cumpriria, integralmente, a pena de um ano de prisão, antes de ser absolvido, por decisão de alta instância, das acusações que o levaram à condenação, confirmada, aliás, na primeira apelação”, e cita como referência desta última alegação a biografia de P. G. Leymarie traduzida de “Les Pionniers du Spiritisme en France, J. Malgras, 1906”, por Zêus Wantuil. Mas na verdade, este original diz:

 

“Os inimigos do espiritismo, à espreita de qualquer coisa que pudesse deter o movimento ascendente desta doutrina, agarraram avidamente a oportunidade de uma prova para lhe dar um golpe e acabar com ela sob a poderosa arma do ridículo. E, de fato, foi menos o julgamento das fotografias do que o julgamento dos próprios espíritas. O Sr. Leymarie, tomado como bode expiatório, foi acusado de todos os delitos e de todas as zombarias e condenado. Apressemo-nos a dizer que esta condenação foi apagada [effacée] poucos meses depois por uma reabilitação completa, e que o espiritismo emergiu desta prova mais forte do que nunca, assim como o Sr. Leymarie ganhou um recrudescimento da estima e confiança com a simpatia geral dos sinceros amigos da causa.” [23].

 

Ou seja, Leymarie cumpriu a pena, mas não foi absolvido judicialmente, e sim, sua condenação foi esquecida pelo tempo, pelo menos segundo J. Malgras.

 

Nota:

 

[a] A ordem moral foi uma coalização de direita e o nome de uma política para a reconquista religiosa da sociedade. Baseava-se numa educação religiosa reforçada, a única que seria capaz de erradicar as más influências herdadas da filosofia do iluminismo e do positivismo.

 

 

Prisão de La Santé

 

VII PARTE

Processo dos Espíritas

(CSI do Espiritismo)

 

Na última publicação sobre o “Processo dos Espíritas” nós “ficamos devendo” o tempo em que Leymarie ficou detido na prisão de Mazas. Pois bem, deve ter sido aproximadamente um mês, do dia 22/04/1875 até o dia 21/05/1875, talvez abatido da sentença de um ano, uma das possíveis razões pela qual ele saiu depois de nove meses encarcerado na prisão de La Santé.

 

Ele também não “fugiu para a Bélgica para evitar sua sentença de prisão, que mais tarde seria comutada” conforme disse o colega John Monroe no livro “Laboratories of Faith” [1, p. 195]. Ele obteve uma licença, sob uma nova fiança de 80 libras, e viajou para participar do Congresso de Bruxelas, que começaria em 25/09/1875. Ele retornaria em 30/09/1875, pelo menos segundo Marina Leymarie informou a Anna Blackwell [2].

 

Aproveitamos para compartilhar outros achados colaterais desta última busca:

 

Em meados de maio ele realmente ainda estava em Mazas, conforme nota que ainda acrescenta: “O clero em Paris está zangado com o Sr. Leymarie por ter inserido na Revista Espírita uma resposta inteligente à pastoral contra o Espiritismo emitida pelo Bispo de Toulouse [a]; na verdade, o clero gostaria de aniquilar tanto ele quanto sua revista, se pudessem, e, como têm grande influência, os processos contra o sr. Leymarie são observados pelos espíritas parisienses com alguma ansiedade.” [3].

 

Ele foi solto de Mazas em 21/05/1875, segundo esta carta de 23/05/1875 publicada no “The Spiritualist” de Londres: “O Sr. Leymarie, editor da Revista Espírita, só foi solto, com a mesma fiança, anteontem.” [4]. Esta informação foi repetida no “Spiritual Scientist” de Boston, que acrescenta: “Leymarie é um cavalheiro e um homem de cultura, e deu as mais amplas provas de sua sinceridade como espiritualista.” [5]. Nesta mesma edição, Anna Blackwell escreve: “No próximo julgamento, é da maior importância apresentar provas realmente de peso da realidade dos fenômenos, especialmente de materializações e fotografias de espíritos. Se o Sr. Crookes, o Sr. Varley [Cromwell Fleetwood Varley] e outros de sua posição comparecessem ao julgamento, a sociedade aqui pagaria suas despesas (...)”. Este último jornal informa na edição de 24/06/1875, ainda antes da condenação: “A seguir será a vez do Sr. Leymarie [depois do Sr. Firman], e tememos que ele venha a ser a segunda vítima da intolerância e malícia Católica Romana.” [6].

 

Atualizamos então a cronologia dos principais fatos:

 

• 01/04/1873: O médium Céphas [b] traz instruções para se obter fotografia espíritas;

 

• 01/01/1874: Fotografia do Espírito Katie King feita por William Crookes é mencionada no “Quarterly Journal of Science” [7] [8, fig. 39] [c];

 

• 01/01/1874: Primeira referência a Buguet e suas fotografias na Revista Espírita;

 

• 01/08/1874: Olympe Audouard (1832-1890), membro da futura União Espírita Francesa, publica “Les Mondes des esprits”, com referências a Buguet, talvez o estopim do “Processo dos Espíritas” (a data é a do registro do livro no jornal “Bibliographie de la France”) [9];

 

• 01/04/1875: Resposta de Valentin Tournier (1821-1898) na Revista Espírita ao bispo de Toulouse;

 

• 22/04/1875: Leymarie é detido na prisão de Mazas;

 

• 21/05/1875: Leymarie é solto, depois de aproximadamente 1 mês;

 

• 17/06/1875: Leymarie é condenado a 1 ano de prisão e 500 francos de multa, depois de 2 sessões;

 

• 06/08/1875: O tribunal de apelação confirma a sentença, depois de 2 sessões;

 

• 25/09/1875: Enquanto aguarda a solicitação de anulação da pena, Leymarie participa do Congresso de Bruxelas (depois de obter licença e pagar nova fiança), retornando da Bélgica em 30/09/1875;

 

• 05/02/1876: O tribunal de cassação rejeita a solicitação de anulação da sentença, depois de 1 sessão;

 

• 22/04/1876: Leymarie é confinado à prisão de La Santé;

 

• 22/01/1877: Leymarie é libertado, depois de 9 meses (não sabemos ainda todas as razões da redução da pena).

 

Em tempo, o museu AKOL nos enviou o link de uma foto com um manuscrito, à venda por 3.000 dólares, onde H. J. de Turck de Bruxelas atesta a identidade do Espírito [10]. Sua transcrição está no livro de Marina Leymarie [11, pp. 141-142].

 

Notas:

 

[a] Nas Revistas Espíritas de março [12] e abril [13] de 1875 encontramos a pastoral e a resposta. Mas, conforme “Laboratories of Faith”: “O primeiro sinal de problemas para Leymarie e os espíritas apareceu em meados de novembro de 1874, quando o Ministério do Interior proibiu “Les Mondes des esprits” de Audouard. O Ministério não deu conta de suas razões para censurar o livro, mas o apoio entusiástico do texto a Buguet provavelmente motivou a decisão: a investigação policial do fotógrafo havia começado cerca de três semanas antes de o Ministério emitir sua ordem (...)” [1, pp. 174-175]. Ela reclama da censura em 12/11/1874 [14].

 

[b] Louis de Montaut (Céphas), juiz de paz em Parentis-en-Born, era amigo de Kardec, e trouxe esta mensagem em https://www.retronews.fr/.../1-avril-1873/1829/3285521/27.

 

[c] O primeiro retrato copiado de uma fotografia de 07/05/1873 teria sido publicado em 15/05/1873 conforme p. 201 de http://iapsop.com/.../spiritualist_v3_n13_may_15_1873.pdf.

 

VIII PARTE

Processo dos Espíritas

(CSI do Espiritismo)

 

Leitura auxiliar referenciada anteriormente e recomendada para melhor contextualização do que já dissemos sobre os atores do “Processo dos Espíritas” [1]: [1ª] Expulsão das congregações [religiosas] (1880) [2]. Aí encontramos o texto:

 

"Demissões em massa no Judiciário

 

Tendo a circular ministerial de 24 de junho de 1880 confiado aos magistrados de acusação [procuradores] a execução das expulsões, a aplicação dos decretos provocou demissões em massa entre os promotores que condenaram essas medidas antirreligiosas. 556 magistrados recusam-se assim a cumprir as ordens do governo e preferem demitir-se (...). O mal-estar generaliza-se a todos os níveis da hierarquia, tanto na magistratura “sentada” [3] como no ministério público [4]; há assim 56 membros renunciantes de tribunais de apelação, 63 promotores públicos, 139 suplentes, 66 juízes de paz e 188 dos seus suplentes, 32 juízes etc.

 

Os jornais católicos mantêm a agitação, publicando todos os dias as cartas de demissão dos magistrados e dos funcionários que se recusam a se submeter. De fato, também ocorrem demissões de oficiais, comissários de polícia e policiais. Os promotores que se recusam [a aplicar o decreto] são em sua maioria católicos, mas também há protestantes (...)."

 

Fonte da imagem: https://bibliotheques-specialisees.paris.fr/…/pf…/0005/v0001

 

 

Nos anos de 1874 e 1875, a Revista Espírita publicou fotografias que supostamente retratavam espíritos desencarnados ao lado de várias “personalidades”. Mediante a suspeita da existência de fraudes, houve a investigação pela polícia francesa que culminou com a acusação de P.G. Leymarie (responsável pela Revue Spirite), Alfred Henri Firman (médium) e Édouard Buguet (fotógrafo). (Ver apresentação no link abaixo)

 

Itens Integrantes do Acervo do Museu AKOL - AllanKardec.online

 

 

 

Amélie Boudet (Senhora Allan Kardec). O Espírito de seu marido tem nas mãos uma mensagem obtida por escrita direta. Édouard  Buguet, no Tribunal, tentou fazê-la passar como sendo uma cartolina adrede preparada pela Srta. Léonie Ménessier que confessou a adulteração grosseira.

 

Uma das fotos falsificadas que foram publicadas na Revue Spirite em janeiro de 1875 por Pierre Gaetan Leymarie e que deram margem ao célebre Procès des Spirites que envolveu a Madame Rivail continuadora dos trabalhos de Allan Kardec e que levaram os espíritas do mundo inteiro para lama do ridículo.

 

Itens Integrantes do Acervo do Museu AKOL - AllanKardec.online

 

 

 

Édouard Buguet

 

O fotógrafo Édouard Buguet, fazendo uso de meios fraudulentos na obtenção de fotografias de Espíritos, é processado pelo Ministério Público.

 

A 16 de Junho de 1875, Leymarie e Alfred E. Firman foram também envolvidos no processo, em virtude dos laços de amizade que mantinham com Édouard Buguet, e, assim, julgados coniventes na fraude e condenados pela Justiça Francesa com pesadas multas e prisão celular.

 

Apesar das cartas de solidariedade vindas das mais diferentes partes do mundo, inclusive do Brasil, Pierre-Gaêtan Leymarie foi condenado a um ano de prisão celular e ao pagamento de quinhentos francos de multa.

 

 

 

Uma rara primeira edição de Processo dos Espíritas, editada pela Sra P. G. Laymarie

 

 

 

Librairie et Editions Leymarie (Baixar Fotos)

La librairie a été fondée en 1897 par P.G. Leymarie

42, rue Saint-Jacques, Paris, France

 

 

 

Librairie et Editions Leymarie (Ver Foto Quadro Adquirido em Paris)

La librairie a été fondée en 1897 par P.G. Leymarie

42, rue Saint-Jacques, Paris, France

 

 

 

Pintura de Allan Kardec (+- Começo Séc. XX) (Pintor St. Georges)

 

ACERVO - CCDPE (Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo)

 

Após ter sido fundada no final do século 19 por um dos pioneiros do espiritismo na França – Pierre Gaëtan Leymarie – e sobrevivido às duas grandes guerras, a centenária livraria Leymarie encerrou definitivamente suas portas em dezembro de 2021.

 

Ela funcionou por mais de 120 anos em uma das ruas mais antigas da cidade de Paris, na margem esquerda do rio Sena, à rue Saint-Jacques.  o longo das décadas, passou por diferentes proprietários e teve suas atividades paralisadas em alguns períodos, até chegar à sua última gestão com a família Chigot. Felizmente, antes da entrega do ponto comercial, a pintura a óleo do professor Denisard Hippolyte Léon Rivail, que adornou uma das paredes da livraria por mais de um século, foi adquirida pelo museu AKOL – AllanKardec.online, de São Paulo.

 

Este importante quadro é parte da história e da memória do espiritismo, trazendo a imagem do professor Kardec em seu ambiente de trabalho. A cena foi imortalizada pelo pintor St. Georges, cuja completa identidade precisa de maiores pesquisas por parte dos experts no assunto.

 

No último dia 7 de agosto, em evento de comemoração ao 18º ano de existência do Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro, a obra foi entregue à presidente da casa, Julia Nezu, que recebeu a placa comemorativa das mãos do curador do museu AKOL, Adair Ribeiro Jr., formalizando a doação da pintura ao acervo.

 

A pintura, que mede cerca de 1,70 X 1,20 cm, deverá passar por processo de análise por peritos para identificar a possível data de criação, a identificação completa do artista, o reconhecimento das técnicas de pintura utilizadas e também ajudar a definir a melhor forma de preservação.

 

Todo cuidado será pouco, diante desta rara peça de arte que enriquece o a memória do espiritismo, trazendo cenas que protagonizaram o trabalho de Allan Kardec em sua grande tarefa da codificação.

 

Correio News

 

 

Álbum da Família Leymarie (Pierre-Gaëtan Leymarie (1827 - 1901), Marina Duclos Leymarie (1837 - 1904), Paul Leymarie (1867 - 1955)

Itens Integrantes do Acervo do Museu AKOL - AllanKardec.online

 

Fontes: Rede Amigo Espírita (A Historiografia do Espiritismo - Live com Adair Ribeiro)  (Centro Espírita Amor, Luz e Caridade de São João da Boa Vista - Mediação de Elaine Menato)

 

Fontes: Instituto Espírita de Educação (Adair Ribeiro falando sobre "O Livro dos Espíritos, a pedra fundamental do espiritismo"
 

Fontes: AllanKardec.online - Historiografia do Espiritismo (Processo dos Espíritas)

 

 Fontes: Projeto Allan Kardec (ACERVO DO AKOL)

 Fontes: CSI do Espiritismo

 

"Os inimigos do Espiritismo, à espreita de tudo que pudesse entravar o movimento ascendente da Doutrina, aproveitam-se, com empenho, da ocasião de um processo, para dar, ao Espiritismo, um grande golpe e acabá-lo com a possante arma do ridículo. E de fato, foi menos um processo contra as fotografias que mesmo contra os espíritas."

 

Herculano Pires "O metro que melhor mediu Allan Kardec"

 

"Leymarie imergiu na invigilância, gerando o desfalecimento do Movimento Espírita já quase totalmente desintegrado. Cremos que a sucessão de Kardec deveria caber a Alexandre Delanne, até porque era vizinho e amigo de longa data da família Kardec, jamais a Leymarie.

 

Mas, quem era Leymarie? Era um praticante de Teosofia de Blavatsky, defendia as alucinações de Roustaing e era apaixonado pela maçonaria.

 

Pierre Leymarie foi o protagonista para o desmoronamento doutrinário, por conseguinte muitos espíritas franceses perderam o rumo sob o guante do misticismo imponderado. Para ilustrar, notemos o infame “Processo dos Espíritas”, resultante das reais fraudes reproduzidas por fotógrafos de má fé e publicadas de maneira descuidada por Leymarie na Revue Spirite. Naturalmente esse episódio foi traumático de consequências gravíssimas, ferindo mortalmente o moribundo Movimento Espírita francês."

 

Jorge Hessen "O Combativo Escritor Espírita"

 

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

 

Madame P.G. Leymarie - Processo dos Espíritas

 

 

 

Madame P.G. Leymarie - Procès des Spirites (1875) (Fr)

 

 

 

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