INFLUENCIAÇÕES NO ESPIRITISMO

"PÓS-ALLAN KARDEC"

 

TRADUTOR

ROGÉRIO MIGUEZ

 

REVISÃO

IRMÃOS W.

 

FORMATAÇÃO

ERY LOPES

 

ARTIGOS PUBLICADOS

REVUE SPIRITE
JOURNAL D' ÉTUDES PSYCHOLOGIQUES

LE SPIRITISME
(ORGANE DE L'UNION SPIRITE FRANÇAISE)


Prefácio da obra:

Rogério Miguez

(O Tradutor)

Caros irmãos na crença espírita,

Esta expressão muito usada entre os seguidores da Doutrina à época de Allan Kardec, que em francês se escreve: “Frères en croyance – F.E.C.”, serve bem para iniciar estas primeiras palavras endereçadas a todos os caros leitores.

O movimento espírita vem descobrindo recentemente um pouco da História do Espiritismo, já não era sem tempo, pois muitas fontes originais de consulta estão à nossa disposição há bom tempo, e, tudo indica, a espiritualidade julga oportuno conhecermos um pouco mais sobre as alegrias e tristezas vividas pela Doutrina naqueles tempos idos do final do século XIX, início do século XX.

Parece não haver momento mais oportuno do que este, quando os tempos são chegados de uma nova ordem para a Humanidade.

Se assim não fosse, que outra explicação poderia ser encontrada para o súbito interesse de alguns poucos pesquisadores envidando seus melhores esforços para desvendar o que se passou nos dois séculos anteriores, quando do surgimento e desenrolar da Doutrina?

Quanta luz está sendo lançada sobre aquele período relativamente obscuro caracterizando o movimento pós-Kardec. Quantas informações estão sendo: desvendadas, fatos, conversas, particularidades, momentos, reuniões, ações que definiram, por algum tempo a caminhada da Doutrina.

Quantas lutas foram travadas, para não se deixar apagar a luz acendida por Allan Kardec através de seu incansável e insuperável esforço e dedicação de uma vida, luz esta que, assim o cremos, deverá iluminar a humanidade em futuro que almejamos esteja bem próximo?

Que coragem destes poucos levantando uma bandeira de insatisfação diante de tantos desmandos e descalabros efetuados por um pequeno grupo de ditos espíritas, que por pouco não apagaram a luz da Doutrina, entretanto, se não o fizeram, provocaram, com seus atos: uns levianos, outros irresponsáveis, alguns ignorantes, prejuízo enorme ao bom andamento do Espiritismo, visto que, na própria França, a obra hercúlea de Allan Kardec caiu em descrédito.

Henri Sausse, Berthe Fropo, Amélie Boudet, Gabriel Dellane, Léon Denis, Anna Blackwell, para citar apenas alguns, não se esconderam, tomaram a frente na defesa da Doutrina e com os recursos à disposição, lutaram destemidamente para impedir que mais se fizesse contra o farol da humanidade: A Doutrina dos Espíritos.

Procuramos através destes poucos textos escolhidos que seguem, dar uma pálida ideia do que se passou naqueles tempos de grandes lutas, quando Jesus, O Espírito da Verdade, comandou a trabalho de materialização dos princípios divinos a a nos reger, através da elaboração do Espiritismo.

Existem inúmeros artigos e textos registrados na Revue Spirite, bem como no periódico Le Spiritisme, entre tantos outros livros, revistas e periódicos que poderão aos poucos, ao serem recuperados ao nosso entendimento, nos dar ciência do conjunto de fatos que caracterizaram o caminhar do movimento naqueles tempos.

Há um tesouro de informações aguardando os estudiosos sérios da Doutrina desafiando-os a: descobri-las, revelá-las e principalmente divulgá-las. Apresentar as pérolas, rubis, safiras, esmeraldas de conhecimento que estão pacientemente esperando serem localizadas, desenterradas das páginas em que se encontram engastadas.

É apenas uma questão de tempo, para que tudo seja descoberto e esclarecido, se o esforço continuar no sentido de procurar, encontrar e disseminar o que foi registrado, em breve teremos uma noção de conjunto do que está ainda por ser descortinado.

Por hora vamos oferecendo aqui e ali, através das despretensiosas traduções destes artigos um pouco do que há ainda por descobrir.

Fazemos um destaque especial aos informes de Henri Sausse e Berthe Fropo, quando desafiaram Pierre Leymarie a buscar a verdade sob a chancela de um Juri de Honra, que, ao que tudo indica, não foi aceito. Pois, quem está seguro do que diz, não teme ir à justiça do homem para esclarecer os fatos, se preciso for, porquanto, a de Deus se fará inexoravelmente, mas com brandura e misericórdia.

Destaque-se que O Comitê do periódico Le Spiritisme, formado entre outros, cremos, por Gabriel Delanne e Léon Denis, não temeu publicar os artigos de Henri Sausse e Berthe Fropo que apontavam os desmandos perpetrados pelo grupo de Pierre Leymarie, sem ter absoluta confiança na informação que veiculavam no periódico, pois, caso contrário, estariam sujeitos a processos judiciais, se estivessem divulgando inverdades levianamente.

Por outro lado, perguntamos: por qual razão o grupo de Pierre Leymarie que controlava a Sociedade Científica do Espiritismo e a Revue Spirite, se estavam seguros da lisura de seus atos, não aceitaram o desafio de esclarecimento pelo sistema judiciário francês que poderia lançar luz sobre os acontecimentos em disputa?

Onde estava a verdade: naqueles que apontavam condutas que segundo o entender deles, deslustravam a Doutrina, ou naqueles que se limitavam a responder as acusações em artigos que não apresentavam qualquer fato ou comprovação?

É o que pretendemos elucidar e trazer a tona, fatos que ocorreram no desenrolar da caminhada do movimento espírita, não mais nos omitindo, como muitos fizeram no passado e ainda existem aqueles que o fazem atualmente.

Cientes de nossas limitações, desculpamo-nos por alguma imperfeição nas traduções que preparamos, contudo, de qualquer modo, caso existam, não impedem de nos alertar, através da observação do que aconteceu no passado, sobre o que está acontecendo no presente, onde muitos estão aos poucos desvirtuando a Doutrina, aceitando como espíritas obras que não resistem a menor análise doutrinária, criando mais uma vez confusão no entendimento da Doutrina entre os muitos Irmãos na crença espírita.

Não nos move outro objetivo além de esclarecer, de modo algum pretendemos julgar Pierre Leymarie, pois este julgamento pertence a Deus, nada obstante: informar o movimento sobre discussões antigas que interessam a todos; demonstrar como há uma dúvida consistente sobre quem fez alterações na Gênese; construir uma parte da História do Espiritismo, destacando personagens antigas que permaneciam na obscuridade e que tiveram capital importância no desenvolvimento e divulgação da Doutrina; e mais, despertar a curiosidade dos espíritas em saber quantas dificuldades surgiram após o desencarne de Allan Kardec, será sempre oportuno, saudável e recomendado àqueles procurando apenas a verdade e nada mais.

Boa leitura a todos os F.E.C.!

São Paulo, fevereiro de 2018.

Rogério Miguez

Articulista de importantes veículos de divulgação espírita no Brasil, a saber:
Revista Reformador, Revista eletrônica O Consolador, O Clarim etc.

Trechos da obra:
 

O ARTIGO

UMA INFÂMIA

Le Spiritisme (1ª quinzena) dezembro 1884.

Henri Sausse, o principal biógrafo de Kardec e dinâmico líder espírita francês, em artigos – um deles intitulado “Uma infâmia” - publicados no jornal Le Spiritisme, em 1884 e 1885, já levantava questões sobre as adulterações na 5ª edição de A Gênese e apontou 126 alterações no texto original.

***

Perdoem-me, Irmãos e Irmãs de fé, se, a contragosto, deixei-me levar pela indignação que minha alma transborda.

Deveria expulsar do meu coração todo pensamento de raiva e ódio. Há, contudo, circunstâncias em que não se pode conter uma indignação muito justa.

Todos nós sabíamos que havia uma sociedade espírita, fundada para a continuação das obras de Allan Kardec, e nela confiávamos que cuidasse da integridade da herança moral que nos foi deixada pelo mestre. O que ignorávamos é que ao lado dela, talvez até na sua sombra, se organizasse uma outra para a corrupção das obras fundamentais da nossa doutrina, e esta última, não apenas existe, mas pode ainda continuar com sua triste tarefa.

Não tenho certeza se todas as obras de Allan Kardec foram sujas por mãos sacrílegas, mas me dei conta de que havia pelo menos uma, A Gênese, que havia sofrido importantes mutilações.

Chocado com estas três palavras: Revisada, Corrigida e Aumentada, colocadas abaixo da quinta edição, tive a paciência de confrontar, página por página, linha por linha, esta quinta edição com aquela publicada em 1868, que eu comprei logo após seu lançamento. Aqui está o resultado do meu trabalho.

Descobri, comparando os textos da primeira e da quinta edição, que 126 trechos tinham sido modificados, acrescentados ou suprimidos. Desse número, onze (11) foram objetos de uma revisão parcial. Cinquenta (50) foram acrescidos e sessenta e cinco (65) foram suprimidos, e não conto os números dos parágrafos trocados de lugar nem os títulos que foram adicionados.

Todas as partes desse livro sofreram mutilações mais ou menos graves, mas o capítulo XVIII: Os tempos são chegados, é o que foi mais maltratado; as modificações feitas nele o tornam quase irreconhecível.

Agora, digam-me, quem são os culpados?

Qual o motivo dessas manobras?

Mencionarei, na primeira edição de A Gênese, apenas uma das passagens que foram excluídas e basta apontá-las para que vocês mesmos ponham-se a julgar quem deveria lucrar com essa infâmia.

A Gênese, edição de 1868, capitulo XV. Os Milagres do Evangelho, páginas 379 e 380:

"N° 67. No que se tornou o corpo carnal? É um problema cuja solução só pode ser deduzida, até nova ordem, que, senão por hipóteses, faltam elementos suficientes para estabelecer uma convicção. Esta solução, além disso, é de uma importância secundária e não acrescentará nada aos méritos do Cristo, nem aos fatos que comprovam, de uma maneira bem mais peremptória, sua superioridade e sua missão divina.

"Portanto, só pode haver opiniões pessoais sobre o modo como esse desaparecimento ocorreu, que só teriam valor a menos que fossem sancionados por uma lógica rigorosa e pelo controle universal dos Espíritos, e, até o presente, nenhuma das que foram formuladas recebeu a sanção desse duplo controle.

"Se os Espíritos ainda não decidiram a questão pela unanimidade de seus ensinamentos, é que sem dúvidas o momento de resolvê-la ainda não veio, ou que nos faltam os conhecimentos pelos quais poderíamos resolvê-la nós mesmos. Entretanto, se descartarmos a suposição de um sequestro clandestino, poderíamos encontrar, por analogia, uma explicação provável na teoria do duplo fenômeno de transportes e invisibilidade."

A supressão dessa passagem deixa evidente a quem Allan Kardec foi vendido para que fosse necessário insistir nesse ponto. Todos os espíritas sabem a quem se aplica o segundo parágrafo que eu mesmo enfatizei.

Henri Sausse

P. S. — Para aqueles que gostariam de estar cientes das modificações sofridas por A Gênese, aqui estão os números das páginas onde poderão ser encontradas.

- Passagens modificadas da edição de 1868:
Páginas: 68, 79, 85, 105, 148, 155, 181, 203, 205, 215, 429 (onze).

- Passagens adicionadas na 5ª edição:
Páginas: 10, 16, 17, 48, 52, 73, (75-76), 84, 104, 127, 133, 138, 142, 159, 174, 176, 178, (188-189), 194, 196, (201-202-203-204), 212, (220-221), 223, 234, (240-241), 245, 251, 257, 274, (276-277-278), 284, 286, 301, 310, 311, 312, 313, (314-315-316), 320, (367-368), 376, 394, 399, 424, 433, 436, (448-449-450-451-452-453-454), 455 (cinquenta).

- Passagens suprimidas da edição de 1868:
Páginas: 12, 23, 47, 48, 50, 54, 58, (59- 60), (61- 62), 65, 69, 73, 74, 78, 82, 83, 85, 86, (87-88), 93, 95, 97, 118, (145-146-147), 165, (173-174), 177, 181, 189, 190, 192, 195, 203, 204, 205, 229, 232, 243, (244-245), 247*, 251, 263, (267-268*), 270, 279, (303-304-305), (379-380), (385-386), 389, 392, 393, 403, 411, 412, 433, (435-436), (439-440), (441-442), (444-445-446), (447-448), (451-452-453) (sessenta e cinco).

As supressões das páginas marcadas por um * é característico.

H. S.

Article Henri Sausse

Une Infamie

Le Spiritisme, décembre 1884

Fontes Canal Espírita (Transmissão da TV Mundo Maior) (Lançamento da 01ª Edição do livro "A Gênese" Allan Kardec)

Fontes: Le Spiritisme - Organe de L'Union Spirite Française (Année 1883 à Année 1895)

"Nunca diz: Fora do Espiritismo não há salvação, mas, com o Cristo: Fora da caridade não há salvação; princípio de tolerância que unirá os homens em um sentimento comum de fraternidade, em vez de separá-los em seitas inimigas.

Por este outro princípio: Não há fé inquebrantável senão a que pode olhar a razão face a face, em todos as épocas da humanidade, ele destrói o império da fé cega que aniquila a razão, a obediência passiva que embrutece; emancipa a inteligência do homem e ergue sua moral."

Allan Kardec "A Gênese" Capítulo XVIII – Item 20

Textos da 1ª edição de 1868 A Gênese de Allan Kardec suprimidos na 5ª edição de 1872 A Gênese de Allan Kardec.

"É um fato comprovado que o Espiritismo é mais entravado pelos que o compreendem mal do que pelos que absolutamente não o compreendem, e mesmo por seus inimigos declarados."

Allan Kardec - Revista Espírita, novembro de 1864 - O Espiritismo é uma ciência positiva.

"Se o Espiritismo pudesse ser retardado em sua marcha, não o seria pelos ataques abertos de seus inimigos declarados, mas pelo zelo irrefletido dos amigos imprudentes."

Allan Kardec - Revista Espírita, junho de 1862 - Ensinos e dissertações espíritas - O Espiritismo filosófico


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