PRIMEIRO CONGRESSO INTERNACIONAL ESPÍRITA

BARCELONA/ESPANHA - SETEMBRO DE 1888

Federação Espírita Espanhola

 

Lançamento original:

Primer Congreso Internacional Espiritista
Barcelona, Espanha – setembro de 1888

Imprenta de Daniel Cortezo y C.ª - Editores
Calle de Pallars (Salón de S. Juan)

 

OBRA RARA TRADUZIDA

 

Tradução: Teresa da Espanha

Compilação: Salvador Martin

Revisão e Formatação: Irmãos W. e Ery Lopes

 

Versão digitalizada:

© 2020

Distribuição gratuita:

Portal Luz Espírita

Autores Espíritas Clássicos

Conclusões aprovadas:

NO PRIMEIRO CONGRESSO INTERNACIONAL ESPÍRITA DE 1888

O primeiro CONGRESSO INTERNACIONAL ESPÍRITA afirma e proclama a existência e virtualidade do Espiritismo como a Ciência integral e progressiva. São seus

FUNDAMENTOS

Existência de Deus.

Infinidade de mundos habitados. Preexistência e persistência eterna do Espírito.

Demonstração experimental da sobrevivência da alma humana pela comunicação mediúnica com os espíritos.

Infinidade de fases na Vida permanente de cada ser.

Recompensas e penas, como conseqüência natural dos atos.

Evolução infinita. Comunhão universal dos povos. Solidariedade.

CARACTERES ATUAIS DA DOUTRINA

1º Constitui uma Ciência positiva e experimental.

2º É a forma contemporânea da Revelação.

3º Marca uma etapa importantíssima na evolução humana.

4º Dá solução aos mais árduos problemas morais e sociais.

5º Depura a razão e o sentimento, e satisfaz a consciência.

6º Não impõe uma crença, convida para um estudo.

7º Realiza uma grande aspiração que responde a uma necessidade histórica.

Como conseqüência e desenvolvimento lógico dos seus Princípios, o Congresso Espírita entende que toda Associação e todo adepto devem, por todos os meios lícitos que estiverem ao seu alcance, dar apoio e cooperação a todas as individualidades, coletividades ou empresas civilizadoras venha a conhecer e, portanto, aconselha:

A.- O estudo da Doutrina, na multiplicidade total do seu contido.

B.- A sua propaganda incessante por todo meio lícito.

C.- A sua constante realização pela prática das mais severas virtudes públicas e privadas.
Para conquistar seus fins, o Congresso Espírita entende que toda Associação e adepto deverão considerar sempre o resto dos homens de boa vontade como irmãos para combater o vício, o erro e os sofrimentos humanos.

- Como conseqüência disso, aconselha:

D. – O respeito profundo por todos os pesquisadores ou propagandistas da verdade, mesmo se não forem espíritas.

E. – O esforço constante para difundir o Laicismo por todas as esferas da vida. – A absoluta liberdade de Pensamento, o Ensino integral para ambos os sexos e o Cosmopolitismo como base das relações sociais.

F. – Federação autônoma de todos os espíritas. – Todo adepto pertencerá a uma Sociedade legalmente constituída; toda Sociedade manterá relações constantes com o Centro da sua cidade; todo Centro local deverá sustentá-las com seu Centro Nacional, diretamente ou por intermédio de Centros Regionais; cada Centro Nacional deverá sustentá-las por sua vez, com os restantes. Todos sempre sob a única lei do amor mútuo, para obter um dia a fraternidade universal.

Finalmente, o Congresso Espírita deve fazer constar que não convém aceitar sem prévio exame nenhuma solidariedade doutrinal com indivíduos ou coletividades que não derem ouvidos aos conselhos acima. Deve lembrar também que Allan Kardec já apontava os perigos da excessiva credulidade nas comunicações mediúnicas: “Devem ser submetidas ao crisol da Razão e da Lógica”, visto que o fato da morte, por si só, não garante uma evolução.

Barcelona, 13 de Setembro de 1888. - Presidente honorário, José María Fernádez — Presidentes, El Vizconde de Torres-Solanot. — P. G. Leymarie. — Efisio Ungher. — Dr. Huelbes Tenprado. — Vice-presidentes Amalia Domingo y Soler. — Facundo Usich. — JuanHoffman. — Pedro Fortoult Hurtado. — Dr. Hércules Chiaia. — Edward Troula. — Miguel Vives. — Secretários, Dr. Manuel Sanz Benito. — Eulogio Prieto. — Modesto Casanovas. — Narciso Moret.

Fonte: Primeiro Congresso Internacional Espírita 1888

Nota C:

O ESPIRITISMO NAS CORTES ESPANHOLAS

Na primeira legislatura das Cortes Constituintes da República Espanhola foi apresentada a seguinte proposta:

“Os deputados que subscrevem, conhecendo que a causa primeira do desconcerto que por desventura reina na nação espanhola na esfera da inteligência, na região do sentimento e no campo das obras, é a falta de fé racional, é a carência, no ser humano, de um critério científico ao qual ajustar as suas relações com o mundo invisível, relações profundamente perturbadas pela fatal influência das religiões positivas, têm a honra de submeter à aprovação das Cortes Constituintes a seguinte emenda ao projeto de lei sobre reforma do ensino secundário e das faculdades de filosofia, letras e ciências.

“O parágrafo terceiro do artigo 30, título II, ficará redigido do modo seguinte:

“Terceiro. Espiritismo.

Palácio das Cortes, em 26 de Agosto de 1873. – José Navarrete. – Anastasio García López. – Luís F. Benítez de Lugo. – Manuel Corchado. – Mamés Redondo Franco.”

O eloquente orador Sr. Navarrete era o encarregado de defender na seguinte legislatura essa emenda, por virtude da qual o estudo do Espiritismo faria parte do ensino secundário universitário.

Dissolvidas aquelas Cortes, não foi possível discutir a repetida emenda, porém ela ficará para sempre como um monumento para demonstrar a importância que neste país o Espiritismo chegou a conquistar, e que honrosa representação ele teve nas Cortes Constituintes da República Espanhola.

ENSINO DO ESPIRITISMO

Para a eventualidade de ser discutida nas Cortes a emenda apresentada pelos deputados espíritas, foram formuladas as bases de ensino seguintes.

PROGRAMA DE UM CURSO ELEMENTAR DE ESPIRITISMO

Prolegômenos. – Noções de Cosmologia e Antropologia. Tratados sumários.
1º Pluralidade dos mundos habitáveis e habitados – Cosmografia comparada.
2º Noção de Espírito. – Vida livre. – Encarnações.
3º Teoria do Progresso. – Progresso universal indefinido.
4º Fundamentos da Filosofia, a Moral e a Religião. – Síntese espírita.
5º Ideal social humano.
6º Espiritismo experimental. – Magnetismo, sonambulismo lúcido, fenômenos espontâneos e sistemas de comunicação com o mundo invisível.

Huelbes Temprado. Torres-Solanot.

Programa de um curso elementar de Espiritismo

Apresentado nas Cortes Constituintes da República Espanhol em 26 de Agosto de 1873

Pierre-Gaëtan Leymarie (O Coveiro do Espiritismo) (Falta de conhecimento sobre Allan Kardec)

Apresentação no Congresso Espírita da Espanha

O Sr. Presidente. Passo a palavra ao Sr. Leymarie, representante da Sociedade Científica de Estudos Psicológicos de Paris, fundada por Allan Kardec.

Sr. P. G. Leymarie (em francês). Meus caros irmãos: Nada tão oportuno para mim agora, como dizer-vos brevemente quem foi Allan Kardec, qual a sua vida e como devem ser caracterizadas as suas obras.

Allan Kardec era filho de um magistrado de Lyon [1], homem muito inteligente, que quis fazer do filho um erudito, porém prático, capaz de enfrentar todas as vicissitudes da vida. Por isso colocou seu filho, cujo verdadeiro nome era Hipólito Denizart, junto ao célebre professor Pestalozzi, em Yverdon (Suíça), o qual mudou completamente o sistema de educação da juventude, perto de 80 anos atrás. Hipólito foi um dos seus melhores discípulos, ao ponto de que quando o mestre se ausentava, ele o substituía.

Lá por 1830 o futuro fundador do Espiritismo mudou-se para Paris, onde criou um colégio do sistema Pestalozzi e contraiu matrimonio com Madame Boudet, senhorita instruída, prudente e econômica, possuidora de certa fortuna.

Abandonou então o ensino para dedicar-se à publicação de diferentes obras, entre outras, gramáticas, aritméticas, dicionários, etc., muito usados de 1845 até 1860. Nesse tempo, além dos títulos de Bacharel em Ciências e Letras, estudou Medicina [2], Magnetismo, e tinha conhecimentos de alemão, inglês e italiano. Estava conceituado como um dos mais eminentes professores franceses, e obtivera prêmios em uma centena de certames.

Na época, desde 1850, vários homens eminentes de Paris, entre eles o acadêmico Taillantier, os publicitários Sardou pai e filho, o sábio filósofo holandês Tiedeman-Marthez, o editor da Academia, etc., ocupavam-se dos fenômenos do Espiritismo moderno, importado da América. Durante cinco anos e graças a todas as formas de mediunidade, obtiveram milhares de comunicações de almas que se diziam de pessoas mortas, e delas a evidência da imortalidade da alma e seu poder de comunicar com os viventes após a morte.

Não conseguindo sistematizar nem ordenar as comunicações recebidas, houve o acordo de encomendar esse trabalho ao sábio professor Denizart, cujo espírito sintético era bem conhecido. Allan Kardec começou por perguntar a si mesmo qual a aberração que poderia obrigar aqueles sábios a dar fé às declarações dos mortos, e na dúvida, puramente científica, quis entender o fenômeno.

Admirado daqueles fatos que sem demora lhe foram oferecidos, encontrando naquelas comunicações uma filosofia sublime, um mundo novo para as inteligências, de acordo com a ciência e com o bom senso, decidiu-se a realizar o enorme trabalho de classificar metodicamente todas as comunicações, por uma mesma ordem de ideias. Achou algumas soluções de continuidade entre os diversos capítulos; para preenchê-las, formulou perguntas precisas e claras que, submetidas às inteligências de além-túmulo do grupo estabelecido na época, na Rua dos Mártires (Paris), foram respondidas de imediato, e satisfatoriamente. E com esses e outros trabalhos reunidos, publicou-se em 1857 O Livro dos Espíritos, sob a direção de Allan Kardec, sem o qual sua organização teria sido impossível.

Entretanto, fora constituída uma Sociedade que, tendo conhecido o sucesso admirável do primeiro volume publicado, nomeou por unanimidade Allan Kardec como presidente. A partir de então dirigiu suas pesquisas e experiências com uma energia e prudência maravilhosas. Coletou novos elementos, classificou-os e dedicou-se a um trabalho constante, das cinco horas da manhã até meia-noite, e em 1858 editou a segunda edição de O Livro dos Espíritos e fundou a Revista Espírita [3]. Hoje aquele livro está na trigésima quarta edição, tendo sido traduzido a uma dúzia de idiomas.

Em 1860 Allan Kardec publicou O Livro dos Médiuns e a seguir O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e, por último, A Gênese, obra preciosa, onde coletou tudo aquilo que era conhecido na época sobre a doutrina nova. [4]

A imprensa ridicularizava Allan Kardec; Roma decretava a sua excomunhão, condenando a comunicação e anatematizando a tese da reencarnação dos mortos, ordenando a seus negros exércitos que o combatessem abertamente, já que o Espiritismo, não reconhecendo um Deus ciumento e vingativo e nem a possibilidade de milagres, minava os fundamentos da infalibilidade papal e dos dogmas católicos: nada, porém, conseguiu amedrontá-lo.

Estabeleceu assim os fundamentos do Espiritismo: o livre-arbítrio das almas; o sofrimento a que, pelas leis naturais, conduzem as más ações, sendo que as boas satisfazem as suas aspirações inatas; a lógica do progresso, por isso mesmo indefinido; a eternidade da matéria e da Criação; a série de existências que o homem tem precisado para atingir o atual estado de relativa perfeição, e a série que ainda lhe resta para conseguir somente aquilo que hoje já se vislumbra no seu pensamento; a solidariedade que enlaça todos os elos dessa corrente infinita e sucessiva, da vida ao instinto, do instinto à inteligência, da inteligência à razão pura; a inanidade, em uma palavra, do Céu, do Inferno e dos pequenos deuses de todas as religiões positivas. A única coisa certa é, que o homem vale segundo as suas obras; que a Verdade e o Amor são os únicos sentidos por onde se alcança a felicidade verdadeira e suprema.

Deve, pois, Allan Kardec, ser venerado por todos os Espíritas, porque de cada homem ele fez um investigador da Verdade, um ser livre e verdadeiramente responsável, que tem diante de si vidas e tempo inúmeros para consagrar ao próprio progresso, e também pluralidade de mundos dos quais elevarem-se ao conhecimento do infinito.

Hoje, já milhares de sábios eminentes têm estudado e aceitado as conclusões do Mestre, que dizia: “As bases do Espiritismo são inabaláveis; as consequências modificar-se-ão segundo o progresso intelectual e moral dos seus adeptos”.

Quanta notável experiência realizada pelos Hare, os Zöllner, os Butleroff, Varley, Wallace, Crookes e tantos outros! Sábios, materialistas em sua maioria, interrogaram o Espiritismo para combatê-lo e encontraram nas suas balanças a prova da existência dos Espíritos e sua ação sobre a matéria! E devem tudo isso ao homem ilustre, amigo de reis e operários, o bom conselheiro, aquele que primeiro os fez reparar nas verdades novas.

Allan Kardec faleceu em 30 de Março de 1869.[5] Devemos amá-lo, respeitá-lo, e também à sua digníssima companheira, e esperemos ver coroada de êxito em breve a grande obra que ele nos confiou.

 (Aplausos)
 


[1] Essa informação não condiz com as informações encontradas sobre a família de Kardec; nascido em Lyon, de fato, mas de famílias estabelecidas na comuna Bourg-em-Bresse. Para mais detalhes sobre a biografia de Allan Kardec, ver Enciclopédia Espírita Online: http://www.luzespirita.org.br/index.php?lisPage=enciclopedia&item=Allan%20Kardec — N. E.

[2] Esta informação foi motivo de certa polêmica, especialmente depois de ter sido replicada por Henri Sausse em seu opúsculo Biografia de Allan Kardec, publicado em 1896, que é uma transcrição do discurso do autor proferido em 31 de março daquele ano, por ocasião das solenidades pelo aniversário de desencarnação do Codificador Espírita; não tendo sido encontrada nenhuma evidência de que Kardec tenha estudado medicina, senão essa fala de Leymarie (a mesma de que Sausse se valeu para inclui-la na referida Biografia), é muito improvável que tenha fundamento — N. E.

[3] Na verdade, o ano de publicação da 2ª edição de O Livro dos Espíritos foi 1860; por sua vez, a Revista Espírita (Revue Spirite) teve sim o início de sua circulação em 1858, sendo o primeiro volume datado de 1 de janeiro — N. E.

[4] Na verdade, O Livro dos Médiuns foi lançado em 1861; já O Evangelho segundo o Espírito é de 1864, O Céu e o Inferno é de 1865 e, finalmente, A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo é de 1868 — N. E.

[5] Na verdade, Kardec faleceu em 31 de março de 1869 — N. E.

Primeiro Congresso Internacional Espírita de Barcelona em 1888

Fontes: Luz Espírita - Espiritismo em Movimento

Fontes: Curso Espírita (Espiritista de España)

Em nossas excursões espíritas, o que mais nos satisfaz não é o número dos crentes que contamos. O que mais nos satisfaz são esses adeptos que são a honra da doutrina e que são, ao mesmo tempo, os mais firmes esteios, porque fazem-na estimada e respeitada por eles mesmos.

Allan Kardec - Revista Espírita, julho de 1867 - Curta excursão espírita

Se, inspirando-se nos conselhos de Kardec, na doçura das suas palavras, na tolerância do seu pensamento, no amor do seu coração e na retidão da sua consciência, ele abre as portas da nossa doutrina aos quatro ventos e busca atrair todos os homens, dando amplíssima base para a confraternização das ideias, exigindo somente a comunhão ou paridade de pensamento no único princípio fundamental que assinalávamos, ou seja, a eternidade do espírito, a preexistência e ultraexistência terrestre, sem limite anterior e posterior, que desdenhe toda diferença de palavras e formalismos, porque daquela única verdade derivam com lógica inquestionável todos os outros princípios, de tal modo que, ou estes são admitidos ou a primeira é negada, e ficará assentada sobre base firme a propagação, o progresso e a federação pela qual todos nós suspiramos.

Joaquín de Huelbes (Presidente da Sociedade Espírita Espanhola"

Por isso o nosso primeiro Congresso Internacional será registrado como uma grande etapa, não só nos anais do Espiritismo ou Espiritualismo Moderno, como também nos anais da história do desenvolvimento humano, ao qual contribuirá mais do que nenhuma outra ideia filosófica ou religiosa, aquela que ostenta como lema fundamental:

A DEUS PELO AMOR E PELA CIÊNCIA

Barcelona, 12 de Outubro de 1888

Vizconde de Torres-Solanot (O Presidente do Congresso Espírita Internacional)
 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Primeiro Congresso Internacional Espírita 1888 (Obra rara traduzida)

 
I - Congreso Internacional Espiritista,1888 (Esp.)

 

Congrès International Spirite de Barcelone, 1888 (Fr.)

 

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