A MÉDIUM DAS FLORES

VIZCONDE DE TORRES-SOLANOT

Investigações no terreno dos fenômenos do Espiritismo pelo Grupo Espírita Marietta

Pneumatografia - Bicorporeidade - Materializações - Apports e Outros Fenômenos Espíritas

 

Lançamento original:

La médium de la Flores por el Vizconde de Torres-Salanot

Casa Editorial Maucci - Calle Mallorca, 166

Segunda Edición

Barcelona – 1899

 

OBRA RARA TRADUZIDA

 

Tradução do Espanhol: Teresa da Espanha

Revisão: Irmãos W. e Ery Lopes

Formatação: Alexandre R. Distefano

 

   Versão digitalizada:

© 2022

 Distribuição gratuita:

 

Portal Luz Espírita

Autores Espíritas Clássicos

Introdução:

Este livro, primeiro em seu gênero que é publicado na Espanha e na Europa, é um extrato dos sete cadernos onde estão recolhidas as atas das minhas sessões e as anotações tomadas nos quatro anos (1877-80) que funcionou o notabilíssimo Grupo “Marietta”. Acho que vai despertar a atenção daqueles que gostam destes estudos e poderá servir de guia, como serviram para mim os artigos intitulados A Médium Amélia, publicados pela Revue Spirite dando notícia das experiências do Coronel Devolnet, que também encontrou e desenvolveu a faculdade dessa médium.

Tenho logo de manifestar que estas experiências não são – nem muito menos – o Espiritismo, onde não se deve entrar pela fenomenalidade, que é secundária, e sim pela razão, pela doutrina, que é o transcendental.

Ao relatar fatos tão insólitos como os que são contados neste livro, julgo muito oportuno reproduzir a seguinte passagem tomada das conclusões ou notas do doutor Charles Richet, catedrático de Medicina de Paris e diretor da Revue Scientifique, a respeito das experiências que presenciou com a médium Eusápia Paladino, de Nápoles. Assim falava o sábio Richet:

Se estivéssemos tratando de provar algum fato simples e natural, quase evidente a priori, ou então que não estivesse em contradição com as vulgares noções científicas, eu ficaria plenamente satisfeito; porém trata-se de demonstrar a realidade de fenômenos absurdos, contrários a tudo aquilo que o vulgo e os sábios têm admitido há centenas de anos. Trata-se de um radical transtorno do pensamento e da experiência humana; é um mundo novo que nos é aberto, e, por conseguinte, não é possível nos mostrarmos afirmativos demais na conclusão destes estranhos e surpreendentes fenômenos.

“Sei muito bem que esses fatos, no suposto de estarem justificados, poderão estar de acordo com algumas verdades que já são patrimônio da ciência; entretanto, devemos ser prudentes não aceitando estas novidades antes de serem submetidas a escrupuloso exame”.

“No terreno das provas, aceitar-se-ão com menos dificuldade os fenômenos químicos, fisiológicos e astronômicos do que os espíritas, pois para admitirmos estes últimos haverá exigências bem maiores”.

***

Já li o principal que foi escrito a respeito da médium Eusápia Paladino, já assisti algumas das suas sessões em Nápoles, com meu caro amigo e irmão de crenças, Dr. Sanz Benito (quando assistimos ao terceiro Congresso da Paz, que teve lugar em Roma, representando o Comitê de Barcelona. Nós dois éramos os únicos espanhóis). Portanto, afirmo e disso o leitor poderá ficar convencido, que os fenômenos da médium napolitana são verdadeiramente insignificantes se comparados com os graciosíssimos da Médium das Flores, à altura da qual acredito que ninguém na Europa chegou, e, no que diz respeito aos apports de flores, nem sequer na América, mesmo existindo ali também uma médium que era chamada das Flores.

A grande mediunidade – como disse um elevado Espírito – reside em nós na discussão prudente que traz a luz, no estudo.

“Trabalhem a sua inteligência, trabalhem sua razão.¿Querem Espiritismo? Então tenham paciência, perseverança, resignação para saberem sofrer, e assim vocês ficarão em condições de abordar o grande problema, o problema de estarmos aqui e de sairmos daqui.” Busquem a Deus e o encontrarão. A sua existência está sendo proclamada pela Natureza, em todo o momento e em todas as coisas. Não estão muito desencaminhados aqueles que a proclamam como Deus, pois ela o seria, se não tivesse sido criada por Ele. Dito isto como introdução (completaremos estas indicações com as de outro elevado Espírito no final do livro, resumindo o principal objeto deste), dou início ao meu interessante relato.
A obra:

O Espiritismo, que em seu sentido mais lato abraça o estudo do mundo espiritual, do mundo material e das relações de ambos os mundos, é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica.

O primeiro compilador desta doutrina, o venerável mestre Allan Kardec, a quem é devido, por sua iniciativa e ímprobos trabalhos, o conjunto de ensinamentos que a tirou do empirismo para elevá-la à categoria de ciência, Allan Kardec, repetimos, deixou assentadas as bases sobre as quais seria desenvolvido o Espiritismo, e traçou para nós o caminho por onde deveriam enveredar o estudo e a propaganda.

Com um senso prático, a que nenhum filósofo chegou ainda, e com uma previsão que, dir-se-ia, excede o alcance humano, marcou profeticamente as fases que teria de passar o Espiritismo, apontou com certeiro juízo os escolhos que era preciso evitar, e teve a singular prudência de não penetrar no campo que deveria ficar reservado aos continuadores da sua obra.

Não é possível conhecer Kardec somente estudando suas obras fundamentais; é preciso segui-lo passo a passo nos dez tomos da sua Revista (campo neutral, como ele dizia, onde aquilatava tudo) para apreciar em seu verdadeiro valor a obra daquele gigante, cuja grandeza será julgada com justiça pelas gerações vindouras.

É verdade que ele forneceu mais alimento do que podiam digerir seus contemporâneos, mas não poderia ser diferente, em se tratando de uma ordem de fenômenos, que, sendo tão antigos quanto o homem, dar a eles uma base experimental ficou reservado à nossa época; é verdade também que ele deixou pontos embrionários para que no tempo e no lugar oportunos adquirissem o conveniente desenvolvimento; mas isto é, sem dúvida alguma, o que faz imperecível a obra do mestre, que nos legou bases e princípios fixos, imutáveis como as leis da natureza são, deixando, porém, aos discípulos um vastíssimo campo para novas investigações, que, longe de destruir nada do que foi edificado, completarão o monumento do Espiritismo.

Dez anos transcorreram da desencarnação de Allan Kardec (Isto foi escrito no ano de 1878); nesse tempo, pelo caminho que ele traçou, e conforme deixou previsto, a doutrina propagou-se tanto como nenhum outro exemplar na história; a raça latina e os povos impressionáveis, cuja imaginação se houvesse extraviado começando a conhecer o Espiritismo através dos fenômenos, basearam sua propaganda até agora na parte doutrinária, contando somente com médiuns escreventes que expuseram, desenvolveram e ainda ampliaram a teoria, dispondo-se a entrar na parte essencialmente experimental com um conhecimento prévio, sem o qual teriam se desviado do caminho; a raça anglo-saxônica e os povos reflexivos ingressaram no Espiritismo.

Amparados sempre do fenômeno, e os médiuns de efeitos físicos que eles tiveram por milhares, foram ali o grande elemento de propaganda, e permanecem até nossos dias sendo refratários à noção reencarnacionista e por tanto à doutrina compilada por Allan Kardec; porém as obras deste, recentemente traduzidas ao inglês, ao alemão e ao holandês, penetraram nesses países, sendo acolhidas com calor e defendidas pela mesma imprensa espírita que antes se manifestava bem mais hostil. Note-se, por último, outro significativo movimento.

A chegada à Europa do médium norte-americano Dr. Slade, que depois do ruidoso processo de Londres e de sua estada na Inglaterra, acolhido pela Sociedade Central Espírita Inglesa, visitou as primeiras nações do continente, deixando entre nós o germe da propaganda pela via dos fenômenos; a chegada daquele médium, que despertou no mundo científico o estudo do Espiritismo experimental, coincide com o surgimento nos povos europeus de outros médiuns de efeitos físicos, chegando como obra providencial no tempo oportuno para acelerar o triunfo da nossa doutrina, apresentando o comprovante da consoladora crença com a força brutal do fato, que faz calar o mais recalcitrante materialismo.

Observe-se aí patentemente cumprida a predição de Allan Kardec, e também como as coisas se concatenam no plano da Providência. No momento em que os povos refratários à parte especulativa acolhem a doutrina filosófica do mestre, começa a desenvolver-se a parte fenomenal nos povos antes refratários a esse aspecto do Espiritismo.

Os médiuns Eglinton, Monck, Williams, Firman, Isabel, Amélia, Bredif e outros na Europa e na América Latina, oferecendo hoje ao estudo portentosos fenômenos, ao mesmo tempo em que a noção reencarnacionista entra nos povos anglo-saxões; esses fatos simultâneos assinalam o terceiro acontecimento na história do Espiritismo moderno. O primeiro foi a sua divulgação na América, trinta anos atrás; e o segundo o surgimento das obras de Allan Kardec.

Vizconde de Torres-Solanot "A Médium das Flores"

Fontes: Canal Espírita Jorge Hessen (Áudio em Espanhol - Grupo Espiritista Marietta - La medium de Las Flores (Vizconde de Torres-Solanot) 

Fontes: Grupo Espírita de La Palma (Grandes Figuras del Espiritismo Español)

Fontes: La weblog espirita de Mari (El investigador Vizconde de Torres-Solanot

  

Depois de uns instantes de oração mental por certos espíritos retrasados, e para solicitar o auxílio dos protetores e do Ser Supremo, com o fim de obtermos as provas que tentaríamos fazer, a luz da lâmpada acendeu, despedindo-se o espírito de Marietta apossado da médium, e que ia se materializar.

A médium foi acometida de grandes convulsões, como nunca tínhamos observado, e com espanto, demos de cara com a cortina do gabinete afastada e a materialização às nossas vistas, sendo que sempre demorava um tempo mais ou menos longo em se apresentar, depois de acendida a luz. Sem dúvida, o fato de a materialização acontecer tão instantaneamente, foi o que causou as convulsões na médium, efeito do excessivo gasto de fluido para conseguir esse fenômeno.

Notei um visível progresso no vulto materializado, que no modo de andar e em todos seus movimentos mostra uma grande desenvoltura. Aquilo que antes parecia um manequim, já é um ser quase semelhante em tudo a um encarnado, chegando a esse desenvolvimento ao longo das nossas sessões de materialização.

Marietta aparece com várias flores no peito e algumas delas embrulhadas entre as brancas e finas gazes das suas roupagens. Estas flores, conforme oferecido pelo espírito em uma das sessões anteriores, são destinadas para presentear cada um dos doze indivíduos do grupo. Faço notar aqui o fato de que há muitos meses as manifestações dos espíritos assinalavam o número doze.

Marietta se aproximou até pouco mais de um metro da minha cadeira e da cadeira da médium, as mais próximas do gabinete onde a materialização acontece; o espírito tomou a flor que trazia na parte superior do seu peito, uma magnífica dália vermelha escura, quase se confundindo com o preto, e com talo também muito escuro, que ofereceu à médium, e que esta pegou estendendo o braço. Levantei-me depressa para pegar de mãos de Marietta a magnífica dália branca que me oferecia e que trazia também ao peito, do lado do coração; ao mesmo tempo deixou cair outra dália branca, que trazia no lado oposto do peito, que ofereceu a M., e, pegando-a do chão, colocou-a nas mãos do espírito para que a desse a ele. Depois entregou a S. outra dália de pétalas vermelhas com as pontas brancas, e a seguir pegou o buquê de goivos que trazia e foi distribuindo-os aos assistentes, pela ordem das cadeiras e da antiguidade
no grupo. Eles levantavam-se sucessivamente, sem quebrar a corrente, aproximavam-se do espírito materializado e de suas mãos tomavam a flor.

Vizconde de Torres-Solanot "A Médium das Flores"

Sem dúvida para nos fazer notar ainda mais este fenômeno, produzido em raras ocasiões até agora, e que é um dos que mais chamaram a atenção dos observadores; e talvez aquele que lança mais luz para explicar o fato estranho da real e íntima relação do espírito materializado com o médium.

O espírito fez um rápido movimento com a taça, da qual se desprenderam algumas gotas de líquido que restavam, e que com esse movimento, foram lançadas ao meu rosto, como para provar que o líquido não se tinha evaporado e que realmente fora bebido. Devo fazer notar que apesar da violência com que as gotas de água bateram no meu rosto, não produziram em mim a conseguinte sensação desagradável. Outra circunstância é mais significativa ainda para apreciar o fenômeno. Depois de beber e quando já ia se retirando para o gabinete, pronunciou por duas vezes consecutivas a palavra beber, com voz gutural, rouca e cavernosa, fazendo para isso visível esforço.

É de se notar que aquele espírito materializado, quando em outras ocasiões nos dirigira alguma palavra ou frase curta, sempre foi com timbre argentino, e como se o som fosse produzido na boca ou nos lábios, nesta sessão, porém, quando pronunciou a palavra beber, foi possível apreciar clara e distintamente que o som vinha da laringe, do órgão da voz. Poderia isto demonstrar que no ser materializado também estavam desenvolvida a faringe e o esôfago, talvez para verificar a função realizada? Ou apenas, pelo contrário, provava que existia laringe, mas não faringe, nem a sua continuação esôfago, visto que, em vez de ir se depositar no estômago do ser temporalmente vivente, o líquido vai para o médium?

Se como acredito, isto for assim, o líquido não passa do fundo da cavidade bucal do ser materializado, nem chega a penetrar na faringe, e por isso não determina os movimentos de contração da laringe notados no exterior quando alguém bebe. Imediatamente depois de Marietta ter apurado a água da taça, olhei para a médium, esperando que ela vomitasse a água bebida pelo espírito, como costuma acontecer neste fenômeno. Com efeito; a médium lançou pela boca uma quantidade de água equivalente àquela bebida pelo ser materializado, e notei que a última parte do líquido expulsado parecia misturado com saliva, como se a água tivesse passado pela primeira elaboração necessária sofrida pelos alimentos na boca para serem introduzidos no canal digestivo, determinando a sua primeira
transformação química.

O fenômeno de o espírito materializado beber água, e ela ser vomitada depois pelo médium, tem chamado justamente a atenção das poucas pessoas que, segundo as minhas notícias, puderam observá-lo até agora. Dentre todos, ressaltam os notabilíssimos que durante dois anos e meio tenho presenciado, e acredito que estudado com analítico cuidado, e este deve ser um daqueles que vão deitar mais luz para explicar a materialização e acima de tudo, a relação particularíssima entre o ser que se materializa e o médium.

Pelas experiências e observações feitas até agora, é possível afirmarmos que a materialização realiza-se, principalmente, à custa do fluido roubado ao médium, talvez em estado de matéria radiante. Também contribuem a atmosfera fluídica que podemos chamar de permanente e também a acidental do lugar onde se verifica o fenômeno; a primeira, efeito da elaboração dos espíritos e dos trabalhos de desenvolvimento da materialização, e a segunda, do estado dos circunstantes, ora emprestando voluntariamente e de forma passiva o próprio fluido, ora lhes sendo arrebatado pelos espíritos que operam. Corroborando isto já fiz inúmeras observações e experiências em mim mesmo, que não deixam lugar a dúvidas; como ter notado no final de algumas sessões um grande abatimento nas forças, fraqueza nos membros, dor nas articulações, etc., e como aquilo que senti na sessão anterior, quando segurando por baixo da mesa um vaso sobre um livro, os espíritos colocaram no vaso três flores; a dor e o peso sentido em meus braços demonstravam o contingente fluídico com que contribuí para a realização do fenômeno.

Vizconde de Torres-Solanot "A Médium das Flores"

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Allan Kardec - O Livro dos Médiuns (Obra de Allan Kardec "O Livro dos Médiuns" - Parte II - Cap. V - Manifestações Físicas Espontâneas - O Fenômeno de Aporte) (ou Transporte)

 

Vizconde de Torres-Solanot - A médium das Flores (Obra rara traduzida)

 

Vizconde de Torres-Solanot - La medium de Las Flores (1899) (Esp.)

 

Memoria sobre los fenómenos de materialización y aportes en el grupo Marietta de Madrid (1879) (Esp.)

 

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