CHARLES RICHET

Os Fenômenos de Materialização da Vila Carmen

 

Lançamento original:

Charles Richet – Les phénomènes dits de matérialisation de la villa Carmen, avec documents nouveaux et discussion.

Éditeur: Aux Bureaux des “Annales des Sciences Psychiques”

6, Rue Salnier. 6

Paris - 1906
 

OBRA RARA TRADUZIDA

 

Tradução: Fabiana Rangel

Revisão: Irmãos W. e Ery Lopes

Formatação: Alexandre R. Distefano
 

Versão digitalizada
© 2021

Distribuição gratuita:

 

Portal Luz Espírita

Autores Espíritas Clássicos

Prefácio da obra:

Os adversários do Espiritismo afiançam que Richet nunca foi espírita e duvidou dos fenômenos espíritas. Talvez sim, talvez não. Mas o que é ser espírita? Se acompanharmos as pesquisas do pai da metapsíquica notaremos que ele foi mais espírita do que muitos “espiritas” ditos militantes.

Em 1905, o Prof. Richet assistiu, em companhia de Gabriel Delanne, às memoráveis sessões de materializações na Vila Carmen, na Algéria, onde verificou os fenômenos não só de ectoplasmia, como de materializações e de fotografias de espíritos. Os fatos foram tão positivos que o Prof. Richet subscreveu uma ata, na qual declarou ter visto simultânea e nitidamente o Espírito materializado — Bien Bôa e dois médiuns, que se prestavam para as experiências: Martha e Aicha.

A memorável sessão deixou patente que um indivíduo que viveu entre nós, que morreu, como se diz na linguagem vulgar, voltou novamente formado, mostrando-se a uma plêiade de experimentadores, que o viram, tocaram-no; um ser que anda, que fala, que é constituído interiormente como qualquer ser humano, pois queima carbono no seu organismo.

Seria possível que o Professor Richet, em vista desse fato tão categórico, duvidasse dos conceitos espíritas? Richet, antes da sua aproximação ao Espiritismo, havia se dedicado por muitos anos ao estudo do hipnotismo, do magnetismo, do sonambulismo.

Christoph Schröder declarou em um jornal de Hamburgo que o Richet tomou parte em 200 sessões experimentais de materializações, nas quais foram obtidas manifestações extraordinárias. E a este propósito o Dr. Richet escreveu nos “Annales”: “Nenhuma contradição há entre a ciência e o fenômeno mais extraordinário do Espiritismo”.

Charles Richet foi presidente da “Sociedade de Pesquisas Psíquicas”, de Londres, que nessa época já havia ela publicado vinte e cinco grossos volumes que enfeixam documentos valiosos que provam a existência de inteligências extraterrenas e a realidade das comunicações destas com os homens.

Tudo isso vem confirmar que Richet aceitava os fenômenos espíritas.

Nós não hesitamos que o Dr. Richet tivesse dúvidas sobre certos pontos da teoria espírita, como teve no começo a respeito dos fenômenos, mas estamos certos que a dúvida de Richet não era uma dúvida desocupada, como a que existe por aí, mas a dúvida de que fala o Professor Bozzano, a dúvida fecunda, realizadora, que estuda, que investiga, que experimenta para dar conta aos desafios transcendentais.

Richet foi um dos integrantes da equipe de estudiosos que colaborou para a consolidação do Espiritismo científico, ao lado de William Crookes, Camille Flammarion,  Ernesto Bozzano, Alexandre Aksakof, Cesare Lombroso, Albert de Rochas, Paul Gibier.

Charles Richet classificou os fenômenos metapsíquicos em dois grupos gerais: Fenômenos Subjetivos, que ocorrem exclusivamente na área psíquica, sem nenhuma ação dinâmica sobre os objetos materiais e Fenômenos Objetivos, cuja manifestação envolve ação física sobre os objetos materiais.

Em verdade ele nunca se declarou espírita, mas sim, um estudioso dos fenômenos metapsíquicos. Não podemos, portanto, classificar Charles Richet como um continuador da obra de Allan Kardec. Desvendou um caminho diferente, sem desconhecer a Codificação, e que o classifica na categoria de iniciador romântico da Metapsíquica, reconhecendo em Kardec, algum apreço pela investigação científica, mas que, no entanto, se levou demais a acreditar que as comunicações dos Espíritos através dos médiuns eram destituídas de erros, desde que as mesmas emanassem de bons Espíritos.

Esta crítica de Richet a Kardec não é adequada, porém se assemelha à feita por Arthur Conan Doyle em seu A História do Espiritualismo, fazendo-nos, pelo menos, pensar que conhecemos hoje bem melhor a obra de Kardec do que os quase contemporâneos vizinhos e conterrâneos.

A verdade é que pesquisadores do quilate dos grandes metapsiquistas, incluindo no grupo dos espiritualistas ingleses, já não aparecem com tanta frequência. Transferimos nossas expectativas para o século que se inicia, este sim poderá trazer ao público em geral aquilo que Kardec, Richet e tantos outros se empenharam tanto em estudar, classificar e ensinar, mas que não atingiram a universalidade do conhecimento.

São Paulo, 20 de novembro de 2021
Jorge Hessen

Sobre alguns ditos fenômenos de materialização:

Não é sem grande hesitação que decido publicar essas experiências, pois, ainda que elas tenham sido precedidas por algumas experiências análogas, creditadas a diversos intelectuais, e em particular ao Sr. William Crookes, elas são bastante estranhas e podem provocar a incredulidade. Parece-me, entretanto, que alguns fatos são inegáveis e são esses fatos que eu gostaria de expor, abstendo-me de toda interpretação teórica e de toda discussão.

I

Graças à benevolência do General Noël e da Sra. Noël, graças à boa vontade e à abnegação da Srta. Marthe B., essas experiências puderam ser acompanhadas por mim durante todo o mês de agosto de 1905. Eu já tinha tido a oportunidade, em 1903, de assistir a algumas sessões da vila Carmen. Mas eu não acreditava ter de concluir alguma conclusão fechada.

É inútil acrescentar que o Sr. e a Sra. Noël já haviam publicado diversas notícias sobre esses fatos singulares que apareceram na Revista científica e moral do espiritismo, de G. Delanne, desde muitos anos. Mas eu não farei nenhuma alusão a esses relatos e me ocuparei exclusivamente dos fatos de que fui testemunha.

As pessoas que assistiram a essas experiências foram o General Noël, a Sra. Noël, a srta. X..., o sr. Gabriel Delanne e as três filhas do sr. B, oficial aposentado: Marthe (19 anos), Paulette (16 anos), Maia (14 anos). Marthe era noiva de Maurice Noël, o filho do sr. e da Sra. Noël, que morreu no Congo há um ano. É provável que a maioria dos fenômenos que se produziram se devam à influência de Marthe como médium.

De fato, as diversas pessoas estavam fora da cortina onde aconteceram as materializações, de modo que Marthe ficou sentada no gabinete atrás da cortina. Por duas vezes nessa experiência, atrás da cortina, tomou parte uma pessoa, denominada Ninon, quiromante por profissão; mas seu papel foi bastante pequeno, pois ela não foi ali mais que duas vezes. Uma negra a serviço do sr. Noël, uma jovem de 22 anos, de nome Aischa, também tomou parte nessas sessões, digamos que como médium, e ela ficava atrás da cortina. Mas seu papel parece ter sido bastante irrisório, pois, em muitas experiências onde houve fenômenos importantes, Marthe estava só, sem Aischa ou Ninon.

O lugar onde se passaram essas experiências é um pequeno quiosque situado no jardim da vila Carmen, onde se alojam o sr. e a Sra. Noël. Esse quiosque é completamente separado de toda casa; ele é composto por uma única peça e é construído sobre um estábulo reformado. É um cômodo de duas janelas e uma porta de entrada. Uma das janelas dá para a rua, é muito alta (5 metros). A outra janela dá para uma escadaria que conduz do jardim à rua. (O Jardim está numa encosta muito íngreme da rua Fontaine à rua Darwin). A porta dá para o jardim. Cada uma das janelas está fechada e coberta por uma tela presa à parede. Na parte superior desta tela se encontra uma cortina de tapeçaria espessa que também está presa à parede. O chão do cômodo é composto por pequenos pisos cimentados. Acima do piso está preso um tipo de tapete de linóleo que, perto do gabinete, é ele próprio coberto de um tapete de feltro pouco espesso.

O gabinete é constituído apenas por um dossel formando um triângulo num dos ângulos do cômodo. Esse triângulo representa um triângulo retângulo cuja hipotenusa (AB) tem por volta de 2m 50. A altura do dossel é de 2m 10. A do cômodo é de 2m 60. Há, então, 50cm de espaço entre o estrado do dossel e o teto. O triângulo é fechado por uma cortina de tapeçaria muito espessa e escura. Essa cortina corre sobre um varão, por meio de anéis.

Diante da cortina, deixando apenas espaço suficiente para que se possa passar, está uma mesa redonda de madeira escura, em torno da qual estávamos agrupados na seguinte ordem (quase sempre).

Observando a cortina como no teatro e tomando o lugar de espectador havia sucessivamente em torno da mesa: Maia, Melle X..., eu, Paulette, Gabriel Delanne, Sra. Noël, general Noël.

Antes da sessão, eu fazia uma exploração minuciosa de todo recinto, do dossel, das cortinas, das poltronas (que estavam levantadas), de uma banheira e de um velho aparador dispostos ao fundo, de modo que posso afirmar que ninguém estava escondido ali. Além disso, como as cortinas das janelas estavam pregadas e não há alçapões no solo nem porta falsa na parede, eu posso com toda certeza afirmar que ninguém estranho poderia penetrar o local durante a sessão.

A luz era obtida por meio de uma vela posta em uma luminária de vidro vermelho que foi colocada a certa altura (2m 25) da porta.

Na parte da frente, a cortina tinha uma abertura, de modo que era constituída de duas partes, uma parte direita um pouco mais longa que a parte esquerda. Quando a cortina estava muito aberta e os olhos habituados à escuridão, era possível distinguir as mãos, os rostos dos médiuns e suas vestes. No entanto, era muito difícil reconhecê-los, mesmo com a abertura máxima da cortina. Do contrário, no cômodo, a uma distância de 1 metro ou 1m 50, era possível reconhecer muito facilmente as diversas pessoas que estavam lá.

Após várias operações preliminares, sobre as quais não insisto, Marthe e Aischa iam sentar-se no gabinete e a cortina era puxada; Marthe estando à direita e Aischa à esquerda.

As sessões aconteciam fosse às 4 horas da manhã, fosse às 8 horas. Elas duravam duas ou três horas. Depois da sessão, eu fazia a exploração minuciosa do cômodo com o mesmo cuidado de antes da sessão.

Charles Richet

FIG. I - O espírito materializado de Bien Boa (B.B.)

Charles Richet - Os Fenômenos de Materialização da Vila Carmen

FIG. II - O espírito materializado de Bien Boa (B.B.)

Charles Richet - Os Fenômenos de Materialização da Vila Carmen

FIG. III - O espírito materializado de Bien Boa (B.B.)

Charles Richet - Os Fenômenos de Materialização da Vila Carmen

Fontes: Vita Oltre la Morte (Documentario sulla vita di Charles Richet)

Fontes: Centre Spirite Lyonnais Allan Kardec - Bibliothèque

Fontes: A Luz na Mente - Revista on line de Artigos Espíritas (A morte não é senão um vocábulo sem nexo)

"As experiências que se passaram diante de mim na vila Carmen não serão descritas aqui detalhadamente, pois o protocolo dessas experiências, escrito por mim imediatamente após a sessão, seria uma leitura verdadeiramente muito penosa e fatigante. Será suficiente trazer à luz metodicamente alguns fatos essenciais, aqueles que me parecem ter a maior importância.

Eu disse acima que absolutamente não se pode supor a presença de um indivíduo escondido, nem de um individuo entrando no cômodo, para explicar a presença de novo personagem aparecendo ao lado dos médiuns.

Estabelecerei, a princípio, que esse personagem não é nem uma imagem refletida em um espelho, nem um boneco, nem um manequim. De fato, ele possui todos os atributos da vida. Eu o vi sair do gabinete, andar, ir e vir no cômodo. Ouvi o barulho de seus passos, sua respiração e sua voz. Toquei sua mão várias vezes. Essa mão era articulada, quente, móvel. Pude, através do pano que cobria essa mão, sentir o pulso, os ossos do carpo e do metacarpo que se dobravam sob a pressão de meu aperto de mão."

Os Testemunhos do Dr. Charles Richet sobre as materializações da Vila Carmen

"Qualquer que seja a importância dessa última experiência, repetida três vezes, ela me parece menos decisiva do que a experiência precedente, o nascimento por uma mesa branca sobre o chão fora da cortina; de fato, no caso do corpo fixando-se em linha reta sobre ao chão, pode-se supor que, por extraordinários esforços de hábil ginástica, alguém muito flexível, deslocando-se, poderá voltar para trás deixando a cabeça descer à frente até tocar o chão, de modo a dar a impressão de uma cabeça que desce em linha reta até o solo. Mas como fazer desaparecer a aparência dos panos?

Para mim, foi de uma importância considerável sentir a mão, ou o corpo, ou uma parte qualquer do pano, desvanecer na minha mão. Devo dizer que por várias vezes eu pedi insistentemente por essa experiência. B.B. bem prometeu dá-la a mim, mas não tenho nada, absolutamente nada semelhante. Entretanto, o fato de se formar e de desaparecer assim permite supor que isso não é impossível. Se assim o fosse, seria indubitavelmente uma experiência decisiva, pois a hipótese de uma alucinação ou mesmo de uma ilusão tátil de minha parte é verdadeiramente ridícula.

Em todo caso, o que fica aqui, que é de um valor considerável, é que ele se tornou um corpo vivo, para fora da cortina, sob meus olhos, saindo e entrando no chão."

Os Testemunhos do Dr. Charles Richet sobre as materializações da Vila Carmen

 

RELAÇÃO DAS OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Charles Richet - Os Fenômenos de Materialização da Vila Carmen (Obra rara traduzida)

 

Charles Richet - Les phenomenes de materialisation de la Villa Carmen (1906) (Fr.)

 

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