LÉON CHEVREUIL

Não se Morre

 

OBRA LAUREADA

PELA ACADEMIA FRANCESA DE CIÊNCIAS

 

Original em francês, de 1920:

LÉON CHEVREUIL

On ne meurt pas

 

PARIS

Jouvre & Editeurs

15, Rue Racine, VI

1920

 

OBRA RARA TRADUZIDA

 

Tradução: Abílio Ferreira Filho

Revisão: Irmãos W. e Ery Lopes

Formatação: Ery Lopes

 

Versão digitalizada:
© 2020

Distribuição gratuita:

Portal Luz Espírita

Autores Espíritas Clássicos

Prefácio:

Meu Caro Chevreuil,

Que belo assunto! Que título magnífico! Estou encantado por apresentar vosso volume ao público. Não que eu tenha a menor autoridade nessa matéria: eu não entendo, por assim dizer, nada sobre o assunto que vós tratais. Mas não é esse ponto uma razão para assegurar os leitores que, recém-chegados a essas questões árduas, estariam curiosos de conhecer? Desde a porta, eu lhes digo: eu sou como vós, e vós convido a entrar. Eu conheço o autor como um homem consciencioso e convicto. Há bem quarenta anos eu o sigo na vida. Artista, ele foi, na Escola de Belas-Artes, meu camarada, e quando eu me remeto a essa época eu o encontro, no meio de nossos brilhantes colegas, tal como ele é hoje, tranquilo, absorto, sonhador, nascido para sonhar com o além.

Mais tarde, ele pintou um quadro que teve, como suas outras obras, as honras do Salão. Uma mulher no meio de um bosque de pinheiros, braços levantados, contemplativa. Ela se chamava Solidão. A cor era de um sabor cinza, muito fina, nos pormenores, o tom dos sonhos. Os anos passaram.

Uma bela tarde, há uma vintena de anos, eu não sei como nos encontrávamos, com amigos, fazendo girar as mesas. Vós não estáveis, meu caro Chevreuil. Isso evoluía mais ou menos. Mas essa brincadeira despertava em vós curiosidades novas. E desde então, vós vos engajastes nos estudos dos quais me empenho. De minha parte, eu fiquei com as mesas mais ou menos girantes, mas eu vos observava com inveja como as pessoas presas à terra observam no ar os aviadores.

Ah! As questões espíritas, como são cativantes. Mas é preciso, como vós, poder se dedicar o tempo todo. Não era de modo nenhum o meu caso. Eu permanecia sobre a terra, vos seguindo com simpatia, feliz quando vossa conversação me colocava a par de vossos estudos. E eis como esses estudos terminavam em um volume. Como eu não o anunciaria com prazer? Eu sei o ardor que foste tomado.

Talvez eu reprochasse por um excesso de escrúpulo na documentação. Vós já sacrificastes numerosas páginas, eu o sei. Vossa consciência vos pressionou, eu temo, a conservar muito ainda. Vós quereis convencer pela abundância. Resumir mais teria sido suficiente. Perdoai-me, meu caro amigo, uma crítica que está bem considerada a honra do autor.

O divulgador somente teria ganho além da concisão, alcançando sem dúvidas mais leitores. Eis tudo. Não é a abundância que convencerá aqueles persistem em duvidar. O homem que escarnece e se posa como espírito forte não parecerá senão um espírito fraco. Deixai por isso esses zombadores. Eu me admiro da importância que vós dais em persuadi-los. Eles mesmos me espantam. Por que essa fúria em vos negar em vos combater? O que eles temem então?

A única razão respeitável que eu possa lhes atribuir é que aos olhos de um grande número, tocar na morte é tocar na religião. E eu imagino mesmo que alguns ficariam revoltados em ver suas crenças explicadas e justificadas pela ciência. Eles julgariam que elas perderiam o caráter religioso.

Eu vos considero, ao contrário, como precioso explorador. Vossa audácia é feliz, vossa curiosidade será salutar. Ah! Se vós pudésseis destruir todos os erros que tornam a morte tão terrível às pobres gentes. Se vós pudésseis também nos desembaraçar de tantos feiuras e besteiras das quais se cerca e práticas indignas de nossas ideias e de nossos costumes (1).

É por vós e vossas pesquisas que se conseguirá a não mais se confundir com a doença e o sofrimento. Em suma, é uma grande partida. Eu que detesto os trajetos de condução, de trem ou de navio, eu não gosto de partidas. Mas quando se chega ao destino, que alegria ver novos países. A morte não é tanto a partida dolorosa senão a chegada a novos países.

A comparação de William Stead que vós não deixais de assinalar, me pareceu sempre muito engenhosa e muito justa, quando ele associa o além à América, admitindo que se possa ir até lá sem poder regressar. Cristóvão Colombo e seus companheiros teriam aí fundado uma civilização florescente. Outros navegadores tendo aí chegado, quiseram manter ligação com a Europa, lhe falar desses países maravilhosos. Mas suas comunicações por um telégrafo sem fio ainda muito elementar, dariam resultados incompletos, incompreensíveis, praticamente suspeitos. Crer-se-ia que fossem farsas. Com o tempo, entretanto, é graças à obstinação de alguns sábios, se estabeleceriam relações regulares... Paciência então, esperemos...

Livros como o vosso, resumindo os estudos desses sábios sobre essas questões, prepararão o público para adotar novas ideias. É nisso que eu aprovo vosso trabalho, aplaudo a vos a sua execução escrupulosa e vos desejo o sucesso que ele merece.

CH. Moreau-Vaurhie

(1) A organização de Pompa fúnebres e de cemitérios não é monstruosa e ridícula, de mau gosto?

Maison des Spirites, sede adquirida e administrada por Jean Meyer durante duas décadas. Localizado no número 8 da rue Copernic, o prédio continua arquitetonicamente intacto na capital parisiense.

Pintura de Léon Chevreuil

"Tu ne les vois donc pas"
(Então você não os vê)

Paris (1934)
 

A famosa pintura, de propriedade da Maison des Spirites e popularizada por uma reprodução em cartão postal, espalhada por milhares de exemplares ao redor do mundo

A Revista Espírita reproduziu na íntegra, em sua edição de julho de 1934, este trabalho do Mestre espírita que revela o drama profundo da morte para dois seres, um dos quais a entende enquanto o outro a teme... "Então você não os vê!" — Esta é a pequena frase que o autor deu à sua obra. Esta é a pequena frase murmurada por uma criança moribunda que, com a mão emagrecida, aponta para os invisíveis apoiados sobre sua cama, à sua pobre e sobrecarregada mãe. É também a pequena frase em que penetra um doloroso arrependimento, que aqueles que não veem acreditam dizem àqueles que não acreditam.

Fontes: Luz Espírita - Espiritismo em Movimento

Fontes: Vade Mecum Espírita

 

É preciso então se colocar, antes de tudo, acima das vãs zombarias e ter a coragem de parecer ridículo, o triunfo dos idiotas não será por muito tempo. Nos será preciso primeiro estudar o animismo.

O que é o animismo? É uma doutrina e é um fato de observação. Como doutrina, é ela que faz da alma o princípio que anima o corpo; como fato, é a manifestação exterior das forças ditas anímicas.

Os materialistas opõem o animismo ao espiritismo. Mas a palavra animismo não pode ter, na boca deles, nenhum sentido, já que eles não admitem de modo algum a alma como princípio, e que, como faz, a exteriorização de faculdades sensoriais, motrizes e intelectuais, agindo para fora da pessoa humana, é incompatível com sua concepção do organismo. Assim eles admitem a palavra e não admitem a coisa. Há então inconsequência da parte deles em explicar o que quer que seja o animismo. Mas o animismo é um fato que eles não podem negar; há obstinação de sua parte em ficar na concepção da fisiologia, ao passo que, de outro lado, eles combatem a concepção espiritual em nome da teoria anímica que, para eles, não poderia existir.

Os Espíritas ensinam que, sem o animismo, não haveria nenhuma relação possível entre o espírito e a matéria, sem o animismo não haveria fenômeno de inspiração, nenhum pressentimento, nenhum dos fenômenos que tornam possível o esforço de comunicação entre nós e os desaparecidos. A possibilidade da manifestação espírita está subordinada mesmo ao animismo.

Léon Chevreuil "Não se morre"

O homem se mal conhece a si mesmo porque sua alma, puro diamante, está cercado de uma ganga e, porque o mundo que ele vê não responde a suas aspirações, ele se desespera. Um dia vem, entretanto, onde a fadiga, a opressão da matéria o excita a fazer um esforço, o espírito tendo a quebrar seu cinto e o pobre peregrino da terra vai embora vaguear em direção à cidade dos mortos; ele aplica o ouvido contra a laje da pequena caverna fúnebre, e aí, oh surpresa! Ele encontra a fé e a esperança e elevando a cabeça exclama: “Não se morre”.

Não, não se morre, porque a força criadora é anterior à condensação das vias orgânicas e porque o estudo do além acabou de nos provar que a alma individual, preexiste e que ele sobrevive às destruições corporais.

Léon Chevreuil "Não se morre"
 

   RELAÇÕES DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Léon Chevreuil - Não se morre (Obra rara traduzida)

 

Léon Chevreuil - On ne meurt pas (1920) (Fr.)

 

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