LÉON DENIS

SOCIALISMO E  ESPIRITISMO

Compilação das séries de artigos originalmente publicada na Revista Espírita (Revue Spirite): Socialisme et Spiritisme (entre fevereiro e outubro de 1924) e Jaurès Spiritualiste (novembro e dezembro de 1924).

 

OBRA RARA TRADUZIDA

 

Tradução: Ery Lopes

Colaboração: Carlos Luiz, Charles Kempf, Irmãos W.

 

 Versão digitalizada:

© 2022

 Distribuição gratuita:

 

Portal Luz Espírita

Autores Espíritas Clássicos

 

LÉON DENIS

SOCIALISME
ET
SPIRITISME

NOUVELLE ÉDITION
CONFORME AUX EXTRAITS DE LA REVUE SPIRITE DE 1924

ENCYCLOPÉDIE SPIRITE
www.spiritisme.net

LE MOUVEMENT SPIRITE FRANCOPHONE
www.lmsf.org

Sinopse da obra:

Compilação de uma série de artigos publicados na Revista Espírita em 1924 pelo grande "Apóstolo do Espiritismo" e continuador da obra de Allan Kardec, o filósofo Léon Denis, que tratou com muita seriedade a problemática social de seu tempo, e ainda tão atual em nossa sociedade, interpretando à luz do Espiritismo a justeza das questões então propostas, colocando-se em favor de uma reforma social natural, pacífica e progressiva, mas francamente se opondo aos movimentos revolucionários, violentos, odiosos e de uma nociva instrução materialista.

A esta nova compilação foi acrescentada mais dois artigos complementares: "Jaurès espiritualista", pelos quais Denis exalta a postura de Jean Jaurès, um socialista na contramão das ideologias de seu partido. Esta edição traz ainda uma apresentação da tradução, um prefácio e notas de rodapé que enriquecem o contexto da obra.

Prefácio:

A composição Socialismo e Espiritismo de Léon Denis chegou ao público geral brasileiro em forma de livro, fruto de uma compilação de oito artigos publicados na Revista Espírita (Revue Spirite), então sob a direção do memorável mecenas Jean Meyer, também grande admirador do nosso autor.(1)

(1) A edição fotocopiada com o anuário de 1924 da Revista Espírita (Revue Spirite) com as referidas séries de artigos está livremente disponível para download pelo link — Nota do Editor (N. E.)

Pelo que nos consta, a primeira tradução para o nosso português foi a de Wallace Leal Rodrigues, com revisão de Enéas Rodrigues Marques, lançada em 1982 pela Casa Editora O Clarim, contendo nesta edição um prefácio de Freitas Nobre e uma série extra de notas de rodapé. Há outras traduções, por diversas editoras ou publicações independentes, mas é muito provável que a edição mais popular seja mesmo a do Clarim, que no presente momento já está na 3ª reprodução.2

(2) A amostra desta 3ª edição está disponível no link - Nota do Editor (N. E.)

Considero relevante informar isto porque — embora possa parecer exagero de nossa parte imaginarmos assim — talvez deva haver um grande número de leitores, menos familiarizados com o tema em questão e mesmo com a literatura em geral, que faça uma associação direta dos “incrementos” desta versão abrasileirada com a obra original de Denis. Ou seja, que tome o conjunto da edição terceirizada (prefácio e notas de rodapé) como se fosse parte da composição genuína do respeitado filósofo espírita francês — reputado por seus confrades como o grande continuador da obra espírita de Allan Kardec. E a mesma observação se aplica a qualquer edição desta composição que terceiros tenham feito ou venham a fazer, enxertando os artigos de Denis com suas ideias próprias. Incluindo esta tradução que ora apresentamos.

Portanto, faz-se necessário que o leitor saiba distinguir bem, no conjunto da publicação, qual texto é de Léon Denis e qual texto é externo: notas do tradutor ou editor, prefácios e apresentações e assim por diante.

Prefácios (introdução, prólogo, apresentação etc.), observações, notas de rodapé e epílogos escritos por terceiros são comuns na literatura geral e nada têm em si de irregular; nalguns casos eles são importantíssimos — quiçá imprescindíveis — para a contextualização do texto original em vista de uma melhor compreensão de certos detalhes muito particulares a um determinado local e numa certa época. O desafio aí é os editores externos manterem-se o máximo possível alinhados com o pensamento do autor. Ademais, este desafio se multiplica quando o autor não está mais fisicamente aqui para recorrer ao seu direito legal a fim de preservar a integridade de suas ideias na referida publicação.

Aqui, especificamente falando, é imperativo observarmos, por exemplo, o significado do termo socialismo de que Denis fala — que é numa concepção toda especial, diferente do sentido trivial que atualmente se lhe atribui. O autor o define a seu modo, claramente, já no primeiro artigo (que doravante trataremos como capítulo); logo, ao tomar qualquer menção sua a uma ideia socialista, a honestidade nos impõe remetermos sua aplicação em acordo com a concepção denisiana, e não ao que hoje normalmente se entende por “socialista”. É, em suma, um contexto particular, distinto das concepções convencionais, que precisa ser levado em conta.

A inobservância desta definição extraordinária que Denis dá ao referido vocábulo tem levado muitos — por ignorância, desatenção ou até mesmo por corrupção deliberada do intelecto — a confundir e fazer confundir o socialismo defendido pelo autor de que ora tratamos com as ideologias outras que se apoderaram desta mesma palavra — não obstante, insistimos, a clara definição dada na obra, inequivocamente distante do sentido corriqueiro associadas às ideologias vulgares.

Este o pecado capital que por vezes se comete — intencionalmente ou não — ao recortar um trecho de um conjunto e daí, deste pequeno trecho, construir uma interpretação disforme com o contexto verdadeiro, que este mesmo trecho conserva em si quando analisado em acordo com o restante da obra.

É o que acontece quando se pega este recorte: “Espiritismo e socialismo estão unidos por laços estreitos, pois um traz ao outro aquilo que mais lhe falta, quer dizer, os elementos de sabedoria, de justiça, de ponderação, de altas verdades e o nobre ideal sem o qual corre-se o risco de permanecer impotente ou afundar na anarquia.” (Cap. I) para se dizer que Léon Denis era socialista, comunista e marxista, e para fazer relação direta da Doutrina Espírita com ideologias vigentes em nossos dias cuja essência — o materialismo — é absolutamente antagônica com o pensamento de Denis, de Allan Kardec e de qualquer espírita minimamente instruído.

É sobre isso, aliás, o enredo desta obra Socialismo e Espiritismo de Léon Denis: a incompatibilidade entre a nossa doutrina espírita e as ideologias materialistas, que usurpa valores nobres — tal qual a justiça social — como fachadas para suas pretensões torpes.

Não por menos, é de causar espanto que enxertos venham tentar aproximar o codificador espírita e Karl Marx — este que Denis definiu como “homem ácido e odioso” —, como tentou Freitas Nobre, o prefaciador da edição da Editora O Clarim, envolvendo também Arthur Conan Doyle num contexto distorcido em que se põe lado a lado Espiritismo, Socialismo e Cristianismo. Este mesmo prefácio recobra as agruras vividas por Denis enquanto operário, num tom de vitimismo que se distancia por milhares de léguas da postura do nosso escritor filósofo que, ao contrário, exalta os benefícios de ter enfrentado as dores do trabalho excessivo — não por uma espécie de masoquismo, mas simplesmente por uma necessidade evolutiva mesmo. De maneira geral, aquele texto externo é um manifesto em prol da luta de classes, de uma urgência pela transformação material; isto é tudo o que Denis francamente rechaçou, trazendo para a frente da questão o que realmente convém: a transformação espiritual.

Entende Freitas Nobre que o “Espiritismo, embora compreenda e explique certos fenômenos sociais e econômicos através da lei da reencarnação, tem que ser eminentemente revolucionário no sentido de reivindicar as mudanças da estrutura da sociedade, combatendo a concentração da riqueza e a ausência de fraternidade que significam a manutenção dos privilégios e dos excessos no uso dos bens.” Ora, Denis, diz algo muito diferente disso: o Espiritismo não veio promover essa revolução material; ele veio promover a elevação moral, que então naturalmente cuidará de reparar os abusos. Em harmonia com a obra kardequiana, Léon Denis reconhece a necessidade momentânea da desigualdade das riquezas, recordando que o Espírito, no curso de suas existências reencarnatórias, precisa experimentar as mais diversas situações (rico e pobre, patrão e empregado etc.) para firmar seu caráter e pôr a prova suas aquisições espirituais — incluso para servir de exemplo ao meio no qual se insere.

Também é espantoso vermos notas de rodapé exaltando certas biografias de personagens que o próprio Denis cita como maus exemplos no contexto das ideias trabalhadas. Charles Fourier, por exemplo, é descrito nos enxertos como um homem “brilhante”, enquanto Pierre Proudhon é aureolado por sua ideia de um “banco popular”; sim, eles até podem ter tido algumas boas ideias e as melhores das intenções, mas suas ideologias em geral eram vistas por Denis como desprovidas de um ideal superior — que é a base fundamental para qualquer doutrina apreciável. Portanto, Fourier, Proudhon, Marx e afins não lhe serviam de inspiração.

Ora vejam só: o fourierismo juntava a seus ideais de “justiça” e “fraternidade” conceitos outros totalmente adversos dos princípios espíritas, tais como a família, o casamento monogâmico e a vocação dos pais para a tutela e educação dos filhos, e como se não bastasse, Fourier defendia a perversão sexual (incesto e até pedofilia) por considerá-la fruto da condição natural do homem e, portanto, contra a qual não se pode lutar. Já Proudhon, este foi um teórico do anarquismo, ideólogo oposto da ordem e hierarquia preconizadas por Denis, conforme a necessidade organizacional do Universo determinada por Deus.

Por que então uma grande deturpação tem sido feita desta obra magnífica de Léon Denis, julgamos por bem oferecer a nossa versão, que não temos a pretensão e a arrogância de supor perfeita, obviamente, mas da qual cuidamos com uma atenção especial para distinguir bem — conforme a nossa ótica — os valores levantados pelo autor, e dos quais fazemos franca apologia, em face destas distorções conceituais a que temos assistido e contra as quais nos opomos, em defesa do Espiritismo.

Acrescentamos à nossa compilação dois artigos que Léon Denis escreveu logo em seguida à série Socialismo e Espiritismo, sob o título Jaurès espiritualista, também publicados na mesma Revista Espírita. Neste novo texto, nosso filósofo kardecista vai colocar em pauta o pensamento inovador de um influente político socialista de sua época. Dizemos que Jean Jaurès era inovador exatamente por considerar certos valores espirituais — o que, para os socialistas marxistas, era abominável.

Em exaltando Jaurès, Denis sistematicamente ratifica nesses dois capítulos extras o móvel de sua obra acerca das questões sociais, conforme havia dito: “Eu reprovo o socialismo materialista que semeia o ódio entre os homens e, por consequência, permanece infrutífero e destrutivo, como o vimos na Rússia. Eu sou um evolucionista e não um revolucionário.” (1ª parte - cap. VII). Jaurès é então evocado exatamente por ser diferente dos socialistas comuns, dos quais Denis dista com folga.

Observação: as notas de rodapé sem designação de autoria são aquelas traduzidas das notas originais de Léon Denis.

Sugestões de correção e melhorias na tradução são sempre bem vindas e serão apreciadas com atenção.

por Ery Lopes

Monumento dedicado aos trabalhadores

(Gustave Courbet - Cortadores de Pedras)

Jean Jaurès (1859 - 1914)

Há aqui uma refutação eloquente das teorias vulgares que gostariam de fazer do socialismo, dessa grande e nobre concepção da vida social, uma ordem de coisas que reduz todas as condições de vida a questões de interesse material. Para Jaurès, o princípio evolutivo, que é a própria essência do socialismo, é de ordem moral.

Ele não permaneceu menos apegado ao princípio da liberdade e não consentiu jamais em sacrificar a autonomia individual à coletividade. A dominação de uma classe — disse ele — é um atentado à humanidade. Não é isso, por antecipação, um repúdio às teorias moscovitas?

Como se vê, o que distingue acima de tudo a concepção socialista de Jaurès é o seu carácter idealista. Não se trata aqui daquele idealismo subjetivo que considera o mundo exterior como uma pura ilusão dos sentidos, mas o que faz da ideia — e, consequentemente, do espírito — o princípio essencial da vida e da evolução.

Jaurès era antes de tudo tolerante e conciliador; ele se comprazia em buscar em todos os sistemas — até mesmo no materialismo de Karl Marx — os pontos pelos quais eles pudessem se adaptar a um espiritualismo racional. Em suas análises, ele não separou a tese de antítese e, a partir daí, soube chegar a uma síntese que abraçava todas as coisas numa unidade harmoniosa. Devemos ler em sua Realidade do mundo sensível, com que força de dialética e com que altivez de visão ele comentou as teorias dos grandes filósofos: Descartes, Leibniz, Spinoza, Kant, Hegel etc. sem, contudo, conseguir extrair contradições e antinomias a solução do grave problema.

É preciso reconhecer que todos esses pensadores pecam pelo mesmo motivo; eles veem as coisas de baixo, isto é, do ponto de vista terrestre, forçosamente estreito e restrito, e não podem, apesar do ímpeto de seu espírito, alcançar a compreensão total. E é aqui que irrompe a superioridade da doutrina dos Espíritos, que enxergam as coisas do alto e abraçam a majestosa unidade dos seres e das leis. Pelo menos, Jaurès compensou essa fraqueza humana pelas intuições geniais que o prepararam para esse conhecimento do universo invisível ao qual ele pertence hoje.

Léon Denis "Jaurès O Espiritualista"

Raoul Villain (1885-1936)

O assassino do líder socialista francês, Jean Jaurès.

Villain era membro da Liga de jovens amigos da Alsácia-Lorena - um grupo de estudantes nacionalistas que defendia a reconquista daquelas regiões francesas, perdidas na Guerra Franco-Prussiana. Por isso, eram favoráveis à guerra contra a Alemanha, que se avizinhava, entendendo que ela ofereceria a oportunidade da França retomar o que perdera no passado.

A pregação de Jaurès contra a guerra, há de ter sido a causa que motivou Villain a assassiná-lo. Por volta das 21:40 do dia 31 de julho de 1914, através de uma janela aberta, Villian disparou dois tiros contra a cabeça do político socialista, que se encontrava no interior do "Café du croissant", na esquina da rua Montmartre com a rua Du Croissant.

O assassino foi mantido encarcerado, sem julgamento, durante toda a Primeira Guerra Mundial. Em 29 de março de 1919, sob um clima de euforia patriótica pela vitória francesa na guerra, foi absolvido pelo júri, sendo que a viúva de Jaurès ainda teve que pagar as custas do processo.
Indignado, Anatole France escreveu:

"Trabalhadores! Jaurès viveu para vocês, morreu por vocês. Este veredito monstruoso proclama que o seu assassinato não é um crime. Este veredicto põe fora da lei, vocês e todos os que defendem a vossa causa."

Houve manifestações populares de protesto e, temendo represálias, Villan refugiou-se em Ibiza, nas Ilhas Baleares (Espanha).

Em 19 de março de 1936, durante a Guerra Civil Espanhola, o assassino de Jaurès foi fuzilado pelos republicanos, acusado de espionagem em favor de Franco.

Fontes: Revista Espírita Bezerra de Menezes (Léon Denis - Socialismo e Espiritismo) (Audiobook Grátis)

Fontes: Espiritismo com Kardec e seus pioneiros| Charles Kempf e André Luis Villar | - TV A Caminho da Luz - Socialismo e Espiritismo (1 parte) / (2 parte) / (3 parte) / (4 parte) / (5 parte) / (6 parte)

Fontes: l'Encyclopédie Spirite

Fontes: Portal Luz Espírita

"Socialismo e Espiritismo estão unidos por laços estreitos, visto que o primeiro oferece ao segundo o que lhe falta a mais, isto é, o elemento de sabedoria, de justiça, de ponderação, as altas verdades e o nobre ideal sem o qual este último corre o risco de permanecer impotente ou de mergulhar na escuridão da anarquia"

Léon Denis "Socialismo e Espiritismo"

"Quando o socialismo houver triunfado, os homens compreenderão melhor o Universo, porque, vendo na humanidade a vitória da consciência e do espírito, sentirão bem depressa que esse Universo, de onde saiu a humanidade, não pode ser, em sua essência, brutal e cego, que existe espírito por toda parte, alma por toda parte e o próprio Universo é uma imensa aspiração, no sentido da ordem, da beleza, da liberdade e da bondade!"

Léon Denis "Socialismo e Espiritismo"

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Léon Denis - Socialismo e Espiritismo

 

Léon Denis - Socialismo e Espiritismo (Tradução Freitas Nobre)

 

Léon Denis - Socialisme et Spiritisme (1924) (Fr.)

 

Léon Denis - Socialisme et Spiritisme (1924) (Esp.)

 

Revue Spirite 1924 (Directeur Jean Meyer) (Fondée em 1858 par Allan Kardec) (Ver os artigos publicados desta obra nos diversos meses do ano de 1924)

 

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