JOSÉ LHOMME

O FENÔMENO DAS MESAS FALANTES

TRADUTOR - FRANCISCO KLÕRS WERNECK

JOSÉ LHOMME - LE PHÉNOMÈNE DES TABLES PARLANTES

ÉDITION CARITAS, 1950, PARIS

Introdução da obra:

Em meados do ano de 1855, Kardec presenciou o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida. Ele entreviu naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei que tomou a si estudar a fundo.

E assim Kardec passou a fazer parte de um grupo de experimentadores e foi nas reuniões dele que começou os seus estudos sérios do Espiritismo, que compreendeu a gravidade da exploração que iria empreender e recebeu, no fenômeno das mesas falantes, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que procurara em toda a sua vida. Era, em suma, salienta ele, toda uma revolução nas idéias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção e não levianamente.

Aqui está, portanto, uma obra que trata pormenorizadamente sobre os fenômenos de Tiptologia e que o autor de renome internacional e Presidente de Honra da União Espírita Belga, José Lhomme, trouxe à luz a fim de levar maiores esclarecimentos aos leigos que desconhecem esta face do Espiritismo de Kardec.
Prefácio da edição belga:

Experimentei imenso prazer e achei grande interesse na leitura de sua última obra intitulada "O Fenômeno das Mesas Falantes" e, uma vez que você quis pedir a opinião de um modesto estudante espírita, apresso-me a comunicar-lhe algumas reflexões que o seu novo estudo me sugeriu.

Se o fenômeno das mesas falantes é comum e simples, não devemos esquecer-nos de que foi ele o ponto de partida de uma doutrina filosófica apoiada no raciocínio e nos fatos. Como você muito bem disse, certos espíritas o desprezam, o desdenham mesmo, porque, afirmam eles, é um sistema muito lento reservado às entidades inferiores, mas estão enganados.

Eles se esquecem, com efeito, de que os invisíveis se manifestam, não como eles querem, mas como podem, de um modo determinado, notadamente pelos meios que têm ao seu dispor, meios muito variados e dependentes, ao mesmo tempo, de seu grau de evolução e das disposições particulares dos seus intermediários.

Você faz bem em insistir nestas dificuldades materiais e morais. Todos os espíritas esclarecidos aprovam plenamente as suas observações judiciosas relativas à natureza dos espíritos que se comunicam pela mesa, apreciando os argumentos sólidos que faz valer para refutar objeções e notando, com atenção, as suas considerações sobre o controle e a sinceridade das sessões, o valor moral do fim a que querem atingir os experimentadores, assim como sobre a questão das provas de identificação.

Seus leitores acharão nestas páginas, escritas em um estilo claro, fácil, agradável, a confirmação, baseada em uma longa experiência dos conselhos dados por Allan Kardec, que você repete, sem nunca cansar, no decurso das reuniões dominicais, isto é, que as indicações dos espíritos só podem ser consideradas como opiniões pessoais, que todo novo ensinamento, antes de ser aceito, deverá ser submetido à análise comparada e a um consenso universal, que o Espiritismo é uma ciência de observação e não um médico de adivinhação.

Os pesquisadores imparciais, livres de preconceitos, apreciarão igualmente, em seu justo valor, sua recomendação no sentido de estender-se no estudo de todas as classes de fenômenos para obter uma vista de conjunto, suficiente e justa, do amplo problema da sobrevivência humana.

A este respeito, diremos como Bozzano fez notar em um estudo extremamente interessante. "A psicologia da razão humana", que existe uma dificuldade enorme para a inteligência humana: ter simultaneamente presente, diante da razão, todos os elementos do problema, mesmo quando tais elementos são conhecidos do pensador que se propõe a resolvê-lo.

É assim que bom número de leitores e de pesquisadores, a qualquer sistema que pertençam, não conhecem, ou não querem conhecer, todos os dados essenciais e não consideram, para extrair as suas conclusões, certas categorias de manifestações extremamente importantes.

Enfim, quero salientar, particularmente, a sua definição simples, muito clara e bem precisa, ao mesmo tempo, do chamado Além, a distinção que você faz entre o guia da sessão experimental e o guia espiritual, acrescentando que me foi muito agradável ver a inclusão de atas de sessões às quais tive a satisfação de assistir em sua casa.

Seu novo estudo é um verdadeiro manual do fenômeno das mesas falantes, um guia seguro e instrutivo que não existe na hora presente, pelo menos de meu conhecimento. Você preencheu, pois, uma lacuna ao publicar assim os resultados de numerosas observações feitas com um cuidado todo especial.

A. Donnay
Secretário de redação do jornal belga
Le Spiritualisme experimental et philosophique

Prefácio da edição brasileira:

O tradutor

Como bem disse o Sr. A. Donnay no prefácio da edição belga desta obra: "Se o fenômeno das mesas falantes" é comum e simples, não devemos esquecer-nos de que foi ele o ponto de partida de uma doutrina filosófica apoiada no raciocínio e nos fatos e "certos espíritas o desprezam, o desdenham mesmo, porque, afirmam eles, é um sistema muito lento reservado às entidades inferiores, mas estão enganados.

Eles se esquecem, com efeito, de que os invisíveis se manifestam, não como eles querem, mas como podem, de um modo determinado, notadamente pelos meios que têm ao seu dispor, meios muito variados e dependentes, ao mesmo tempo, de seu grau de evolução e das disposições particulares dos seus intermediários".

Ora, foi precisamente com esse fenômeno, comum e simples, das mesas falantes, que começou o Espiritismo, ou melhor explicando, já existiam alguns experimentadores abalizados quando foi atraída a atenção de Allan Kardec para eles e assim surgiu a codificação da doutrina espírita. Poucos e raros eram, então, os médiuns psicógrafos e de incorporação.

Recorrendo a "Obras Póstumas" (12.ª edição), encontramos na pág. 237 e seguintes sob o título "A minha primeira iniciação no Espiritismo" uma extensa narração do Codificador, da qual extraímos umas linhas para mostrar como "o bom senso encarnado", como foi Kardec justamente chamado, tomou conhecimento do fenômeno das mesas falantes e dele tirou os maiores proveitos.

Conta Kardec que foi em 1854 que, pela primeira vez, ouviu falar das mesas girantes pelo Sr. Fortier, com o qual algum tempo depois se encontrou novamente e esse lhe disse: "Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale", ao que replicou Kardec assim: "Isto agora já é outra questão. Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pés".

No ano seguinte, em princípios de 1855, Kardec encontrou-se com o Sr. Carlotti, amigo de 25 anos, que lhe falou daqueles fenômenos durante cerca de uma hora. Foi o primeiro que lhe falou na intervenção dos espíritos e lhe contou tantas coisas surpreendentes que, longe de o convencer, lhe aumentou as dúvidas. "Um dia, o senhor será dos nossos", concluiu a conversa com Kardec, que lhe replicou: "Não direi que não; veremos isso mais tarde".

Foi mais tarde, em meados daquele mesmo ano de 1855, que Kardec presenciou o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida. Ele entreviu naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles fenômenos, qualquer coisa de sécio, como que a revelação de uma nova lei que tomou a si estudar a fundo.

E assim passou Kardec a fazer parte de um grupo de experimentadores e foi nas reuniões dele que começou os seus estudos sérios de Espiritismo, que compreendeu a gravidade da exploração que iria empreender e percebeu, no fenômeno das mesas falantes, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que procurara em toda a sua vida. Era, em suma, salienta ele, toda uma revolução nas idéias e nas crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção e não levianamente; ser positivista e não idealista, para não se deixar iludir.

Para não me alongar muito, aconselho os que nos lerem a conhecer melhor a iniciação de Allan Kardec no Espiritismo, por meio das mesas falantes, fenômeno que alguns espíritos "superiores" cá da Terra desprezam e desdenham.

Não há, em todas as partes, médiuns que já nasçam "desenvolvidos". São muitas vezes os "espíritos das mesas" que apontam os que realmente possuem faculdades mediúnicas de diversas espécies e os grupos experimentais se formam e se aperfeiçoam.

Pode-se dizer, sem errar, que foi com o fenômeno das mesas falantes que nasceu este Espiritismo que pelo nome de seu ilustre Codificador é chamado Kardecista.

E, por analogia, recordo que foi um fenômeno também comum e simples: as batidas, golpes ou pancadas, chamados raps pelos anglo-saxões, que nasceu em Hydesville, pequena aldeia norte-americana, o que eles denominaram modern Spiritualism (neo-Espiritualismo) e que a humilde cabana de madeira da família Fox, em que eles se verificaram, foi mais tarde transportada para o Lily Dale Camp (acampamento espírita de Lily Dale), no Estado de New York, e transformada em Monumento Nacional do Espiritismo.

Fenômeno também comum e simples esse dos "golpes medianímicos", mas leiamos o que sobre ele escreveu o Prof. Charles Richet, ilustre médico autor do "Tratado de Metapsíquica", em seu último livro La grande espérance, pág. 221: "Um dos mais belos fenômenos da Metapsíquica é o dos raps, mas não é fácil obter golpes bastante sonoros para que os percebamos com facilidade.

Eis em que consistem: se, num grupo de experimentadores, entre os que colocam as mãos sobre uma mesa, se encontra um médium de certa potencialidade física, percebem-se, às vezes, vibrações sonoras na estrutura da madeira e, muito a miúde, essas vibrações, que o médium pode produzir todas as ocasiões que as suas mãos se acham imóveis em cima da mesa, são de natureza inteligente. A história dos raps é interessante e eu aconselharia um metapsiquista jovem a escrever uma monografia detalhada acerca dos mesmos".

E foi um metapsiquista, ou melhor, espírita, não moço, mas velho, o inolvidável Prof. Ernesto Bozzano, quem atendeu ao desejo do médico francês e tratou magistralmente do assunto em sua monografia intitulada "Breve história dos golpes medianímicos".

Bozzano foi, neste século, o escritor mais conhecido da Terra, pois os seus belos e importantes trabalhos doutrinários e científicos foram publicados em italiano, francês, espanhol, português, inglês, etc., em livros e revistas. Era natural da Itália e escreveu mais de 100 trabalhos entre artigos e livros, estes para cima de 30.

Com Bozzano e outros grandes vultos do Espiritismo, sejamos sempre Espíritas e só Espíritas. Não precisamos do título de Metapsiquista ou de Parapsicólogo, tanto mais que a Metapsíquica e a Parapsicologia parecem, salvo prova em contrário, querer dar uma explicação materialista, só anímica, mental ou terrena, a todos os fenômenos, inclusive aos indiscutivelmente de ordem espiritual, de que estão repletas as vidas dos verdadeiros santos, com um assombroso e elástico poder da mente.

Tenhamos sempre e sempre esta humildade e esta sinceridade do nosso bom amigo e ilustre confrade Dr. Carlos Imbassahy que, para gáudio meu, escreve as suas notáveis obras espíritas na cidade em que nasci, Niterói, neste querido Brasil, cujas terras fluminenses, paulistas e mineiras já eram palmilhadas, há três e até quatro séculos, pelos meus antepassados de origem portuguesa.
E agora, para terminar, algumas palavras sobre o ilustre autor deste livro: José Lhomme.

Foi fundador da Casa Espírita de Liége; diretor da Revista Espírita Belga de 1921 a 1945; membro da Federação Espírita Internacional nascida do Congresso de Liége, Bélgica, em 1923; conselheiro da Comissão Executiva dessa Federação em 1934; presidente da União Espírita Belga em 1940 e, finalmente, como justa homenagem, recebeu o título de Presidente de Honra da União Espírita Belga, ainda em atividade.

Escreveu as seguintes obras: "O Além ao alcance de todos", "O fenômeno das mesas falantes" e "O livro do médium curador", das quais me deu autorização para traduzir e publicar no Brasil.

Foi, em suma, um fiel discípulo de Allan Kardec, cujo verdadeiro nome era, sem mais dúvida alguma, Hippolyte Léon Denisard Rivail, pois publicava as suas obras pedagógicas com o nome de H. L. D. Rivail; era tratado familiarmente por sua esposa, Amélie Boudet, de Hippolyte, e Léon Denis dizia que o seu nome completo estava contido no do prof. Rivail. Denizard e Denizart são grafias erradas de Denisard.

Kardec, no capítulo II da 2.ª parte de "O livro dos médiuns", declara o seguinte: "Como quer que seja, as mesas girantes representarão sempre o ponto de partida da Doutrina Espírita e, por essa razão, algumas explicações lhes devemos, tanto mais que, mostrando os fenômenos na sua maior simplicidade, o estudo das causas que os produzem ficará facilitado e, uma vez firmada, a teoria nos fornecerá a chave para a decifração dos efeitos mais complexos".

A literatura clássica sobre as "mesas falantes" ou "girantes", o chamado "telégrafo espiritual", é pequena mas curiosa e empolgante.

Ficamos sabendo assim que o grande romancista e poeta francês Victor Hugo conversava com os espíritos por meio delas, quando politicamente exilado na Ilha de Jersey, sobre o que encontramos referências na 3.ª parte de "A vida gloriosa de Victor Hugo", de Raymond Escholier, das Edições "O Cruzeiro".

O Tradutor

Francisco Klõrs Werneck

Um salon de Paris de mai 1853

Tables tournantes

Image publiée dans le magazine l'Illustration en 1853

pour illustrer un article intitulé: Histoire de la semaine

Daniel Lange

 

Fontes: Allan Kardec.OnLine (Manuscritos Raros e Inéditos de Allan Kardec - Museu Virtual e Historiografia do Espiritismo)

Fontes: CSI Espiritismo (Documentos Históricos do Espiritismo)

"Como quer que seja, as mesas girantes representarão sempre o ponto de partida da Doutrina Espírita e, por essa razão, algumas explicações lhes devemos, tanto mais que, mostrando os fenômenos na sua maior simplicidade, o estudo das causas que os produzem ficará facilitado e, uma vez firmada, a teoria nos fornecerá a chave para a decifração dos efeitos mais complexos."

Allan Kardec  - O Livro dos Médiuns (Cap. II da 2.ª parte)

"O mais comum, porém, o mais produtivo dos fenômenos espíritas, que não exige longa iniciação, é, sem contestação, o das mesas ditas "falantes".

Pelo mesmo é possível entrar-se em comunicação fácil com certas forças desconhecidas, entre as quais se acham as do Além.

Por Além é preciso compreender o estado de vida invisível no qual vivemos sem nos certificarmos dele. Não é uma região especial do Universo, escolhida no fundo do Empíreo, nas longínquas regiões azuis do chamado Céu, dificilmente acessível e separada de nós por distâncias incomensuráveis.

O Além, tal como deve ser entendido pelo experimentador, está bem perto de nós, assim como do Infinito, mas, apesar de sua proximidade, nos é desconhecido porque não o vemos.
Estamos, na maior parte, mergulhados no Além como cegos, mudos e surdos, isto é, incapazes de perceber as menores vibrações inteligentes dele pelas vias sensoriais ordinárias."

José Lhomme "O Fenômeno das Mesas Falantes"

 

RELAÇÃO DE OBRAS PARA DOWNLOAD

 

Allan Kardec - O que é o Espiritismo (FEB)

 

José Lhomme - O Fenômeno das Mesas Falantes PDF

 

José Lhomme - Le Phénomène des Tables Parlantes (Fr)